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Volta do juro ao normal ajuda, diz Santander
A partir de determinado nível, a redução da Selic no ano passado teve efeitos contraproducentes sobre a atividade, ao causar maior volatilidade cambial e uma curva de juros mais empinada. Por isso, agora, a entrada em um processo de normalização parcial da política monetária deve ter impacto “producente” na economia. A avaliação é de Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, que passou a trabalhar com início da alta de juros no primeiro semestre.
Em revisão de cenário divulgada ontem, o banco elevou a projeção para a taxa básica de juros ao fim de 2021, de 2,5% para 4%. Segundo a equipe econômica do Santander, a maior parte dos aumentos deve ocorrer entre o segundo e o terceiro trimestres, começando com uma alta de 0,25 ponto percentual em março, ou de 0,5 ponto em maio. “A evolução dos dados dirá”, aponta a instituição em relatório.
Ao comentar as revisões, Ana Paula afirmou que, quando o BC “esticou” a redução da taxa de juros até 2%, houve impacto negativo nas condições financeiras. “A curva de juros empinada demais freia decisões de investimentos, e a volatilidade cambial, idem”. Assim, disse, a depender de outros elementos do cenário, à medida que a taxa de juros se aproxime do nível neutro, o efeito sobre a atividade pode ser positivo.
A ex-secretária do Tesouro ressaltou, porém, que não é a política monetária que vai fazer a economia se recuperar. “Ela pode ajudar, mas o que vai fazer a atividade se recuperar é a vacinação, que trará recuperação da mobilidade, e sinais de uma política fiscal responsável.”
A estimativa do Santander de expansão de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, seguida de redução de 4,1% em 2020, está totalmente condicionada à hipótese do banco de que, ao fim do ano, cerca de metade da população brasileira estará imunizada, seja pelas vacinas disponíveis no país ou pela imunidade de rebanho.
“Acreditamos que este início do processo de vacinação será truncado, mas vai ganhar tração no segundo semestre, o que trará uma mobilidade bem melhor, com recuperação dos serviços e da economia”, apontou Ana Paula.
O balanço de riscos para a inflação, por outro lado, teve deterioração. O Santander aumentou a projeção para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, de 3% para 3,6%, e a economista-chefe da instituição vê chance de que esse número seja maior. Os riscos, segundo ela, estão associados ao cenário de commodities mais valorizadas, a eventos climáticos e à volatilidade cambial.
No quadro fiscal, a maior mudança no cenário do banco foi a inclusão da hipótese de uma nova rodada do auxílio emergencial, com valor e duração bem menores em relação a 2020. O benefício, que deve totalizar R$ 25 bilhões e ser pago por quatro meses, será financiado via créditos extraordinários. Para Ana Paula, o gasto extra deve ser compensado, ainda que provavelmente de forma não simultânea, pela aprovação e acionamento de gatilhos fiscais.
“Tal alteração tornaria possível o cumprimento da regra do teto até 2024”, apontam os economistas do Santander no relatório. Já a dívida bruta deve ficar relativamente estável em relação ao PIB, encerrando 2021 e 2022 em 89,1% e 91,2%, respectivamente.
“Mediante medidas parafiscais, como as devoluções do BNDES e Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida (IHCDs) de bancos públicos, a dívida pública praticamente se estabiliza até o final do governo, alcançando o topo como percentual do PIB (98%) em 2027”, diz o Santander.