Clipping
Setores do varejo já esperam março mais fraco que em 2020
O avanço da pandemia e a lenta vacinação, que colocaram boa parte do país de volta à severas restrições de mobilidade, reduz as expectativas de uma retomada paulatina nas vendas das redes de varejo. Janeiro e fevereiro vinham em leve recuperação em áreas como moda e calçados, mas com o fechamento temporário de lojas nas próximas semanas, em praças importantes para o comércio, o desempenho do trimestre fica comprometido.
Em certos segmentos do comércio, e em bares e restaurantes, consultores e empresas já projetam um mês mais fraco que março de 2020. Um março fraco afeta o desempenho do semestre porque ele tem o maior peso nas vendas entre os três primeiros meses do ano. E responde por 7,6% do faturamento anual do varejo, segundo a CNC, a confederação nacional do comércio e serviços.
“Só o avanço da vacinação vai acabar com esse ‘abre e fecha’ do comércio”, disse Marcelo Silva presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). “Março já está comprometido e a consequência será um primeiro trimestre duramente afetado, porque pelo menos em 2020, o baque veio após a segunda semana e tivemos 15 dias positivos. E dessa vez, o efeito será ao longo do mês.
Pelo lado positivo, diz Silva, pesa o fato de que as empresas estarem mais bem preparadas para enfrentar hoje esses fechamentos temporários de lojas, com apoio da venda on-line. Para consultores, porém, o fato de o canal digital ainda representar parcela pequena das vendas do comércio no país (cerca de 10%), é difícil equilibrar a perda com as lojas fechadas.
“As grandes cadeias se apoiam no on-line mas o varejo mesmo, pelo país afora, ainda é pouco digital. Virá por aí uma desaceleração forte na atividade do setor porque, apesar de falarem em ‘lockdown’ agora, os dados de isolamento mostram que a alta nas mortes por covid já fez aumentar, antes de março, o isolamento social. E isso tem efeito nas vendas”, disse Fabio Bentes, economista sênior da CNC.
A empresa de pesquisas GfK que atende grandes cadeias do setor, acredita numa queda nas vendas de março mesmo para segmentos essenciais, como supermercados e hipermercados, em relação a março de 2020.
“Nós tivemos uma escalada na demanda nesses segmentos muito forte um ano atrás. Então, já seria difícil repetir esse ritmo de expansão sem esses ‘lockdowns’ anunciados agora”, disse Felipe Mendes, diretor da GfK Brasil. “Os supermercados mais ‘premium’ que venderam muito um ano atrás, com a corrida às lojas, vão sentir recuo neste mês”.
A equipe de análise da XP Investimentos publicou ontem relatório sobre efeitos negativos da decisão de regressão de fases em São Paulo. Para os analistas, a empresa de shoppings Iguatemi é a “mais provavelmente impactada”, por ter uma maior exposição (100% da área locável) à região. Na Multiplan, 65% de sua área será afetada, na JHSF, 59%, e na BRMalls, 54%.
Com a decisão de suspender atividades não essenciais, São Paulo se junta ao Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Distrito Federal, onde as restrições estão mais rígidas, com fechamento de shoppings.
Segundo relatório publicado ontem pela agência de classificação Fitch, a adoção dessas medidas coloca uma nova pressão sobre o desempenho das empresas de varejo não essencial. Já redes que atuam no varejo de alimentos e farmacêutico, podem sentir menos esses efeitos” dada “a característica defensiva de seus negócios e o fato de não serem atingidas pelas medidas.
O comando da Hering disse ontem que, após anúncios das maiores restrições em São Paulo, a empresa se reuniu com franqueados do grupo para reforçar “o engajamento dos lojistas”, disse Thiago Hering, diretor executivo de negócios. “Nossa percepção passada a eles é que cenário é análogo ao que vimos em parte de 2020, mas não é idêntico, e temos as ferramentas para passar por essa fase”.