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Sete em cada dez devedores pagam suas dívidas após receberem cobranças por SMS
O aumento do custo de vida e a perda de emprego e renda têm empurrado um número cada vez maior de famílias para o endividamento. O percentual de brasileiros endividados bateu recorde em outubro e já atinge 74,6% das famílias — uma alta de 0,6 ponto percentual em relação a setembro e de 8,1 pontos percentuais na comparação com mesmo mês de 2020. O levantamento —da Confederação Nacional do Comércio (CNC) — considerou consumidores que têm débitos diversos, como cheque pré-datado, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, prestações de carros e seguros. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram que o número de endividados passa de 59,4 milhões de pessoas.
Segundo dados da Serasa Experian, no entanto, sete em cada dez dívidas são renegociadas quando a forma de cobrança é o envio de mensagem de texto no celular: o SMS. De acordo com o índice, 67,1% das pendências são regularizadas em até 60 dias, quando o modelo de alerta digital é usado. Os avisos via e-mail também alcançaram um bom percentual de recuperação (63,7%). Já a remessa de carta foi a menos efetiva, com 54%.
Perfil da carteira
Segundo o economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, conhecer o perfil da carteira de clientes inadimplentes é o primeiro passo para encontrar o melhor método de cobrança.
— Uma dívida pode acabar sendo negativada por esquecimento ou falha no pagamento via débito automático, por exemplo. Por isso, um simples comunicado de negativação pode ser o suficiente para impulsionar a recuperação de crédito — diz.
Segundo a pesquisa, levando em conta o ano de 2021 até o mês de julho, o Indicador de Recuperação de Crédito mostra que 57,7% dos débitos são pagos até 60 dias após a negativação. Além disso, 64,4% das pendências foram registradas no setor de bancos e cartões, que tem o maior percentual de recuperação dentre os segmentos, seguido por varejo, financeiras e serviços.
Situação do país
A situação econômica do país se agravou tanto que tem crescido até o número de pessoas que pretendem ou avaliam tomar crédito justamente para quitar dívidas em atraso. O dado é do último levantamento feito pela FinanZero, que mediu a intenção de tomar crédito nos próximos três meses.
De acordo com o estudo, o mês de outubro registrou um aumento de 29% na intenção dos entrevistados em solicitar empréstimo para quitar dívidas, na comparação com o mês anterior. Na pesquisa, que ouviu 500 internautas, 45% disseram que pretendem tomar um empréstimo nos próximos três meses (aumento de 19% na comparação com o mês anterior), e quase a metade (47%) apontou para “dívidas” como o principal motivador. Em setembro, esse percentual era de 38%.
Endividados têm variação de humor
Um levantamento feito pela empresa Acordo Certo — que faz a intermediação entre endividados e empresas credoras— mostra que as preocupações com as dívidas estão alterando a saúde física e mental da população. Cerca de 80% dos brasileiros endividados apresentaram alterações de humor por conta do problema, de acordo com a pesquisa.
Ainda segundo o estudo, os principais temores são: não conseguir prover o básico para a família, ficar sem pagar as contas ou ter o nome inserido no cadastro de inadimplentes. E esses medos não afetam só as minorias.
O estudo também mostra que há uma alteração da rotina em função das preocupações com as dívidas. Os entrevistados citaram alguns dos sintomas mais comuns: insônia (em 76% dos casos), crise de ansiedade (74%), baixa produtividade (66%) e discussões no lar (62%).
Problemas de saúde também são comuns
Henrique Soares, CEO e cofundador da Pilla — fintech que auxilia a área de Recursos Humanos das empresas para melhorar a vida financeira dos funcionários — destaca que além de dificultar que uma pessoa atinja metas e realize sonhos, as dívidas podem acarretar problemas de saúde:
— Segundo uma pesquisa da PwC, 54% das causas de estresse são oriundas de desequilíbrios e desafios financeiros. Sair do vermelho exige disciplina e comprometimento. É necessário encarar a realidade, traçar um plano de melhoria e fazer mudanças no dia a dia que possibilitem um futuro mais tranquilo.
A maioria dos endividados (56%) disse ter débitos no cartão de crédito. O estudo foi baseado em entrevistas com mais de 1.200 pessoas, em julho e agosto deste ano.
Para o sócio-diretor de Marketing da FinanZero, Cadu Gudi, períodos de crise contribuem para o aumento do nível de endividamento:
— O ponto é que os empréstimos feitos via cartão de crédito, cheque especial, entre outras modalidades que, aparentemente, que estão próximos do cotidiano dos consumidores, têm as mais altas taxas de juros do mercado.
Na hora de cobrar, nem tudo é possível
Antes de ser considerado inadimplente por uma empresa, o consumidor tem o direito de ser notificado com de 10 a 15 dias de antecedência. Isso serve para que ele possa fazer uma proposta de pagamento. Para Ione Amorim, coordenadora do Programa de Serviços financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a forma e a intensidade das cobranças estão relacionadas ao aumento da ansiedade e dos transtornos vividos pelos devedores:
— As pessoas ficam desestabilizadas. Em muitos casos, elas querem fazer a renegociação das dívidas, mas ficam desorientadas com a forma como são abordadas. Para muitos brasileiros, ter o nome limpo é a maneira como eles reconhecem a ética e os princípios.
Outra situação comum é que consumidores só sejam formalmente informados a respeito de suas dívidas ao tentarem fazer uma compra, que acaba recusada.
Muitas vezes, o contato é com a pessoa errada
Segundo a coordenadora do Idec, o consumidor deve ser informado sobre o que deve de forma clara, antes que seu nome seja negativado. Embora não haja um número máximo de contatos diários permitidos, sejam telefônicos ou via digital, os credores só podem procurar os devedores em horário comercial e nunca nos fins de semana. Além disso, não podem ameaçar:
— O credor não pode constranger, expor o inadimplente nas redes sociais ou na empresa em que ele trabalha. Não pode haver coação, ameaça e ou constrangimento.
Para Ione Amorim, outro problema para os consumidores e para as empresas tem sido identificar quando a cobrança é realmente legítima. Em muitos casos, o consumidor recebe um SMS ou um e-mail com um link o que pode representar risco de fraude ou tentativa de roubo de dados.
— Recebo reclamações de cobranças em nome de outras pessoas, que chegam nas caixas de mensagens dos consumidores que sequer têm relação com aquelas empresas. O devedor real está deixando de ser comunicado, e a empresa está descumprindo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) cobrando outra pessoa.
Anote todas as dívidas e classifique-as
O primeiro passo para diminuir as contas em atraso é anotar todas as dívidas, classificando-as pelos juros cobrados. Geralmente, o cartão de crédito e o cheque especial têm as taxas mais altas. Se for seu caso, o objetivo deve ser quitar primeiro aquelas com juros maiores.
Identifique que dívidas podem ser substituídas ou quitadas
Deve-se avaliar se vale a pena trocar uma dívida com juros altos por outra com melhor condição, como o crédito consignado. Pagar menos juros pode ajudar a eliminar a dívida mais rapidamente, mas somente se você usar o dinheiro como pretendido e seguir seu plano de quitação. Com a chegada do fim de ano, muita gente consegue uma renda extra. Esse é um bom momento para avaliar se há débitos que podem ser quitados.
Anote todos seus ganhos e gastos
Para não aumentar as dívidas e perder o controle do orçamento, é necessário anotar todos os ganhos e gastos. Esse hábito vai lhe ajudar a identificar como está gastando.
Confira também: A dívida some depois de 5 anos? Em caso de morte a família é obrigada a quitá-la? Confira mitos e verdades.
Comece a cortar gastos
Depois de identificar seus hábitos de consumo e entender como tem gastado seu dinheiro, será possível identificar que despesas são essenciais e o que é supérfluo. A partir disso, é possível cortar gastos não tão necessários.
Trace um planejamento
Para quitar as dívidas, é necessário poupar. Mas você só saberá o quanto precisa poupar por mês, se criar um planejamento. Pense como quer ver suas finanças daqui três, seis e nove meses e trace metas realistas.
Faça um acompanhamento contínuo
O mais difícil em relação às finanças é manter o planejamento. Caso perceba que sua realidade está muito diferente de seu plano, reveja o planejamento e diminua as metas. O importante é ter constância e disciplina para não acumular novas pendências.