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Sem dinheiro para chegar ao fim do mês, população recorre ao crédito para pagar contas

Fonte: 6 Minutos - 22/10/2021 às 12h10

Sem dinheiro para chegar ao fim do mês, a população está recorrendo ao crédito para honrar todos os compromissos financeiros. Levantamento da Serasa Experian, divulgado com exclusividade para o 6 Minutos, mostra que a busca por financiamento subiu 14,2% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano passado.
 
Essa alta é ainda maior entre a população que recebe até R$ 500 mensais: para essa fatia da população, o aumento foi de 21,3%. Conforme a renda vai aumentando, esse percentual vai caindo. Entre os que ganham de R$ 1.000 a R$ 2.000, a busca por crédito subiu 12,3%. Esse movimento revela a vulnerabilidade dos mais pobres ao aumento da inflação.
 
“O crescimento mais recente da procura por crédito está relacionado à dificuldade do brasileiro de chegar vivo até o fim do mês, em função do aumento da inflação em um ambiente de desemprego ainda muito alto”, avalia o economista da entidade Luiz Rabi.
 
O IPCA, índice de inflação oficial do país, subiu 1,16% em setembro. Foi a maior taxa para meses de setembro desde o início do Plano Real, em 1994. Em 12 meses, a alta acumulada é de 10,25%.
 
Crédito caro
 
Como a população mais pobre é a que tem menos acesso a linhas de financiamento, ela acaba recorrendo a produtos de crédito mais caros. “Nos últimos meses, temos observado o crescimento da contratação de modalidades de crédito típicas de momentos em que as pessoas passam por dificuldades financeiras, sem conseguir manter seus custos fixos com a renda que têm”, afirma Rabi.
 
Exemplo disso, segundo ele, é que linhas de crédito para construção de patrimônio e consumo de bens duráveis, como o financiamento de veículos e imóveis, têm perdido força no mercado, enquanto cresce a concessão em modalidades emergenciais, utilizadas por famílias quando perdem a capacidade de manter o padrão de vida ao qual estavam habituadas.
 
“Houve uma mudança do mix, até por conta da falta de insumos para a indústria, que dificultou a compra de carros, por exemplo. De julho a agosto, o rotativo e o parcelado do cartão de crédito cresceram 9,4%, o cheque especial cresceu 8,4% e as renegociações de dívida cresceram 7,8%. Isso é muito típico do aumento da inflação.”
 
Um levantamento divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) dia 15 revelou que a inflação enfrentada pelas famílias de rendimento mensal domiciliar inferior a R$ 1.808,79 em setembro foi de 1,3%, a maior taxa entre todas as faixas de renda analisadas. No acumulado de 12 meses, o grupo lidou com aumento de 10,98% nos preços dos produtos de sua cesta de consumo. Para os mais ricos, este percentual é de 8,91%.
 
“Quando a gente vê que a baixa renda está puxando a fila do crescimento do endividamento, isso causa uma preocupação, porque muitas vezes o crédito que essas pessoas conseguem são com taxas de juros muito altas. As que estão negativadas recorrem às financeiras, que cobram taxas três vezes maiores que as dos bancos convencionais. É um perfil de crédito não muito saudável e é uma porta de entrada para a inadimplência”, alerta Rabi.
 
Volta da inadimplência
 
Segundo Rabi, deve haver uma aceleração da taxa de inadimplência que havia caído em 2020 com a implementação do auxílio emergencial. Os aumentos da taxa de juros previstos para as próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central devem dificultar ainda mais a quitação dessas dívidas.
 
“O aumento da taxa de juros tem dois efeitos nesse caso. Por um lado, ele combate a inflação que corrói o poder de compra principalmente dos mais pobres. Isso faria com que menos pessoas precisassem de crédito. Por outro, ele deixa as dívidas mais caras e mais difíceis de pagar”, afirma Rabi.
 
O economista destaca que um possível incremento em benefícios sociais, como o projeto do novo Bolsa Família, pode atenuar este processo, mas não deve evitar o aumento da inadimplência. “O quadro não é favorável. Não podemos imaginar que haverá queda da inadimplência como vimos no ano passado”, projeta.
 
Apesar do atual momento de penúria das famílias mais pobres – que ainda deve se agravar com o avanço do endividamento e da inadimplência até o fim deste ano-, as perspectivas para 2022 não são tão desanimadoras, na avaliação de Rabi. “A inflação bateu o pico em setembro. A partir de agora devemos ter uma redução, o que deve gerar um certo alívio. Os IGPs já estão registrando deflação. Minha projeção de inflação para 2022 é de 5%, bem mais baixa do que a atual”, prevê.

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