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Sem as linhas emergenciais, crédito dá sinais de estagnação

Fonte: Valor Econômico - 30/03/2021 às 10h03

O crédito estagnou no início do ano, em consequência da retração causada pela segunda onda da pandemia e do fim das linhas emergenciais, que minoraram os efeitos da crise nas empresas e a dar alguma sustentação à economia no segundo semestre do ano passado. Dados de fevereiro divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostram que o saldo total das operações de crédito segue pouco acima de R$ 4 trilhões. Houve um aumento de 0,7% sobre janeiro, insuficiente para superar a inflação de 0,86%, sem falar nos juros. O mesmo padrão caracterizou janeiro.
 
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) confirmou, na semana passada, a expectativa de desaceleração do crédito neste ano. A oferta de empréstimos vai diminuir exatamente em um momento em que famílias e empresas precisam de recursos para enfrentar a segunda onda da pandemia e o governo mostra pouco empenho em erguer as redes de apoio à sociedade. Apesar de saber exatamente como fornecer tanto o auxílio emergencial quanto o crédito, após a experiência relativamente bem-sucedida do ano passado, inexplicavelmente, o governo tarda em agir.
 
Em um de seus boxes, o Relatório Trimestral de Inflação expõe a previsão de que o estoque de crédito vai crescer 8% neste ano, praticamente a metade dos 15,7% de 2020. Considerando que a inflação esperada é de 5% e os juros estão em alta em consequência da elevação da taxa Selic, pouco alívio virá dessa frente. A oferta de crédito para as famílias ficará relativamente estável, com aumento esperado de 11,5% em comparação com 11,2% em 2020. O principal aperto será exatamente nas linhas para as empresas, que devem aumentar 3,4%, ou seja, uma variação negativa em termos reais, depois de terem saltado 21,9% em 2020. As concessões de novos créditos às empresas estão em queda há três meses consecutivos e as linhas mais afetadas são as de capital de giro, conta garantida e desconto de cheques.
 
O cavalo de pau vai ocorrer exatamente no crédito direcionado, que abrange as linhas que o governo montou em 2020 para enfrentar a situação de emergência. O crédito direcionado para empresas deu um salto de 22,8% no ano passado, depois de ter encolhido 14% em 2019. A previsão para este ano não para de piorar e agora está em recuo de 7%. Já o crédito direcionado para as pessoas físicas deve crescer 11%, em razão da expansão do financiamento imobiliário, embora menos do que os 11,7% de 2020.
 
O Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) avalia que as condições de financiamento para as empresas serão menos favoráveis neste ano. As empresas serão pressionadas pelo vencimento de impostos que foram postergados e pelo fim da carência de operações de crédito que foram renegociadas e tiveram os pagamentos ampliados. Como acrescenta a Febraban, haverá o peso ainda da elevação do IOF sobre o crédito e da maior alíquota da CSLL dos bancos a partir de julho.
 
Apesar desse quadro sombrio, demora a ser colocada em prática a reformulação das linhas emergenciais. As maiores esperanças estão depositadas no Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que começou a funcionar no segundo semestre e liberou R$ 37,5 bilhões, em 516 mil operações. Somente agora, no fim de março, é que passou pelo Senado um Pronampe reformulado, idealizado para ser permanente, que terá que passar pela Câmara e ser regulamentado, para então entrar em vigor.
 
Não se sabe se terá o efeito positivo na economia dada as mudanças de condições, a começar pelo forte reajuste do custo. Os juros cobrados saltaram de 1,25%, além da taxa Selic, para 6% mais a Selic, em consequência da menor cobertura pelo Fundo de Garantia de Operações (FGO). Na versão original, o FGO cobria até 100% de cada operação até 85% da carteira total. Para minorar a paulada, o prazo foi ampliado de 36 meses para 48 meses.
Além disso, o governo já prometeu linha semelhante ao Pronampe, mas para bares, restaurantes e pequenos negócios semelhantes, com juros menores, com recursos do Fundo Garantidor de Investimentos (FGI) e poderá liberar R$ 3 bilhões. Nada se fala a respeito do Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (Peac), que chegou a liberar R$ 92 bilhões.
 
Assim como falta senso de urgência ao governo para providenciar vacinas, oxigênio e outros insumos básicos, o governo parece não entender que um quarto do ano já se passou e que para muitas empresas pode ser tarde demais para uma recuperação.

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