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Segunda fase do open finance estreia sob cautela dos bancos
Fonte: Valor Econômico - 13/08/2021 às 11h08
A segunda fase do open banking será lançada nesta sexta-feira, mas ainda em um ambiente de muita cautela por parte dos bancos participantes. Embora os erros de sistema que justificaram o adiamento do início dessa segunda etapa pelo Banco Central (BC) tenham sido corrigidos, a visão geral é a de que ainda há chances de instabilidade.
“A verdade é que essa segunda fase vai começar ainda em um ritmo de teste, e alguns eventuais problemas só poderão ser observados quando o compartilhamento de dados entre os bancos, de fato, começar”, afirma o executivo envolvido no desenvolvimento do open banking de um grande banco, que prefere não ser identificado. “Temos o maior open banking do mundo, desenvolvido no menor prazo do mundo”, resume.
A segunda fase de implementação do open banking deveria ter começado no dia 14 de julho. Mas, por falhas de verificação observadas na estrutura - houve problemas no sistema que faz a checagem das pendências dos participantes para a entrada deles no open banking e também atrasos relacionados aos procedimentos de certificação digital -, o Banco Central decidiu acatar um pleito dos participantes e adiou para dia 13 de agosto o início da segunda etapa.
Nesta fase, os clientes que aderirem ao sistema terão efetivamente compartilhados dados cadastrais e informações de conta corrente, cartão de crédito e operações de crédito. Na prática, o acesso a essas informações permitirá que as instituições façam propostas de crédito, de investimentos e de outros serviços de forma mais personalizada, e que tragam melhores condições ao cliente, segundo explica a Febraban. “Nesta fase poderão surgir aplicativos que fazem gestão financeira, simulações de crédito, investimentos, empréstimos em diversas instituições, com base na movimentação financeira do consumidor e em outras informações que poderão ser agregadas”, aponta a entidade.
A segunda fase será implementada ao longo de oito semanas, de forma escalonada. Logo de cara o BC estabeleceu que apenas 0,1% da base de clientes poderá compartilhar seus dados, num horário limitado (8h às 18h) e apenas em dias úteis. Esse universo de clientes e a quantidade de informações a serem compartilhadas serão ampliados ao longo do tempo.
A ideia é que, a cada semana, haja uma verificação sob o modelo “go-no go”, ou seja, semanalmente, antes de passar para a próxima etapa, novos testes serão feitos para garantir a viabilidade do avanço do cronograma. As instituições estão preparadas, portanto, para lidar com ajustes ao longo do processo e evitar que se avance nas etapas sem que haja total consistência do sistema. Afinal, a adesão da população, pessoas físicas e jurídicas, depende da confiança dos clientes de que o sistema é seguro.
“É um sistema em que o sucesso de um participante depende do sucesso dos concorrentes. Um vazamento de dados comprometeria a confiança e geraria uma crise reputacional em toda a indústria”, avalia Bruno Loiola, cofundador da Pluggy, fintech de infraestrutura de open finance no Brasil.
Como não houve alterações no cronograma das fases seguintes, o prazo vai encavalar com o início da terceira fase, marcado para o dia 30 de agosto. Profissionais que atuam no processo acreditam, portanto, que há grande chance de a terceira fase também ser atrasada. E, mais que isso, que o processo de implementação aconteça de forma ainda mais lenta do que o previsto.
Na fase 3, a previsão é que o cliente poderá pagar contas e fazer transferências bancárias fora do internet banking ou do aplicativo do banco, por meio de um aplicativo intermediário.
A última etapa de implementação deve começar no dia 15 dezembro de 2021, e ainda há discussões técnicas entre os participantes. Essa fase se refere ao compartilhamento dos demais dados financeiros do cliente, como os de produtos e serviços de operações de câmbio e investimentos.
O processo de implementação do open banking começou em fevereiro, quando as instituições classificadas como S1 e S2, basicamente os grandes bancos, foram obrigadas a abrir para seus concorrentes informações sobre canais de atendimentos, catálogos de produtos e taxas praticadas. As demais instituições poderiam aderir de forma voluntária.
Fábio Lins, superintendente-executivo de canais, Pix e open finance do banco Original, entende que é quase inevitável que o sistema enfrente problemas no primeiro dia da segunda fase, semelhante ao primeiro dia de funcionamento do Pix em novembro do ano passado. Mas as instituições que estão nesta etapa estão preparadas para instabilidades e há dias se comunicam para que a integração funcione nos dias seguintes.
“Se uma instituição tiver problema para o cliente autorizar, todas serão impactadas. Já combinamos com nossos concorrentes e vamos fazer testes antes mesmo de sexta-feira”, disse Lins. “Aqueles que não estiverem preparados vão ter maiores problemas [nos próximos dias]”.
Até terça-feira, dos 26 players (entre os obrigados e voluntários) que iriam aderir a partir desta sexta-feira, 20 estavam certificados. Para avaliar o interesse dos clientes em autorizar o compartilhamento, o Original realizou um tipo de pré-cadastro. Até ontem (dia 12), 22 mil fizeram esse “falso consentimento”, o que para Lins demonstra que haerá uma importante adesão neste começo da segunda fase. No total, eles esperam que 1 milhão dos 5 milhões de clientes da instituição tenham expressado interesse na autorização.