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Ritmo de retomada é incerto, diz Ibre/FGV

Fonte: Valor Econômico - 25/08/2020 às 11h08

Dados de confiança apontam que a retomada econômica continuou em julho e agosto, mas a atividade deve perder força no quarto trimestre, moderação que se estenderá também ao início de 2021, avalia o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
 
 
Antecipada ao Valor, a edição de agosto do Boletim Macro manteve a projeção para a queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 em 5,4%, mas destaca a elevada incerteza sobre o ritmo da economia nos últimos três meses do ano, devido à dúvida sobre a extensão ou não do auxílio emergencial de R$ 600.
 

A reversão dos estímulos, que tiveram alto custo fiscal em quase todos os países, não será fácil para nenhum deles, observam os economistas Armando Castelar e Silvia Matos na abertura do boletim. “Na América Latina, o desafio é ainda maior, pois, além de estar com níveis elevados no número de novos casos de covid-19, a pressão por mais gastos fiscais se intensifica. O espaço fiscal para estas políticas é, porém, muito mais limitado na região. E este é o caso do Brasil”, afirmam.
 

Não só a questão política é um obstáculo à remoção dos estímulos, apontam os pesquisadores, mas também o impacto contracionista relevante da retirada. O fim das medidas fiscais pode abortar a recuperação em curso da atividade se não for compensado por reação da demanda doméstica, dizem. Por outro lado, eles ponderam que o aumento da dívida pública pode ser insustentável, ou causar uma crise econômica ainda mais séria.
 

Assim, na avaliação da equipe de conjuntura do Ibre/FGV, o ritmo de recuperação da economia brasileira segue em aberto, devido às incertezas fiscais e à pouca visibilidade sobre qual será a política econômica que vai prevalecer nos próximos anos. No cenário-base da entidade, a cautela dos consumidores em razão da fraqueza do mercado de trabalho deve reduzir a velocidade da retomada nos próximos meses.
 

No segundo trimestre, o tombo do PIB - projetado em -8,8% ante o primeiro trimestre, feitos os ajustes sazonais - foi ligeiramente menor que o previsto anteriormente, comentam Silvia e a pesquisadora Luana Miranda na seção de atividade. Em relação a igual período de 2019, a economia deve ter encolhido 10,6%.
 

Para as economistas, as políticas governamentais de apoio à renda mais do que compensaram a redução dos rendimentos do trabalho no período. Segundo elas, as medidas tiveram papel fundamental para sustentar o aumento do consumo de bens verificado nos últimos meses. “O consumo de serviços, por outro lado, ainda está longe de retomar o patamar pré-crise, em especial os serviços prestados às famílias”, notam Silvia e Luana.
 

Coordenadora técnica do boletim, Silvia observa que, nas estimativas do Ibre, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) cresceu 5,6% entre junho e julho na comparação dessazonalizada, o que seria uma recuperação forte. Com o fim dos benefícios, porém, a retomada ficaria mais dependente de uma normalização da atividade dos serviços.
 

As sondagens de confiança do Ibre, que dão um retrato do humor de empresários e consumidores, sinalizam que a retomada heterogênea entre os ramos de atividade continuou no terceiro trimestre, destaca a entidade no boletim. Na prévia de agosto, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) - que agrega os indicadores da construção, do comércio, da indústria e dos serviços - subiu 5,8 pontos em relação a julho. Em sentido contrário, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) diminuiu 3 pontos.
 

Responsáveis pela seção de confiança, Aloisio Campelo, Renata de Mello Franco e Rodolpho Tobler afirmam que os dados do mês atual reforçaram a tendência de descolamento dos dois índices, assim como a visão de que os consumidores estão mais preocupados com os desdobramentos da crise. “A confiança dos consumidores tem se apresentado como um desafio  maior neste momento de retomada, ao recuperar apenas 59% das perdas no começo da pandemia”, dizem.
 

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De acordo com Silvia, o fim dos estímulos fiscais derrubaria a massa ampliada de rendimentos - que inclui a renda do trabalho, benefícios previdenciários e sociais, inclusive os auxílios -, limitando o crescimento do consumo das famílias. Assumindo como hipótese que não haja extensão do auxílio, a massa ampliada teria recuo de 5,2% no quarto trimestre frente a igual intervalo de 2019, estima o pesquisador Daniel Duque, responsável pela parte de mercado de trabalho do boletim.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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