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Riscos fiscais de curto prazo seguem elevados devido à pandemia, observa BC
Apesar da recente aprovação de reformas importantes, que trarão benefícios no médio prazo, os riscos fiscais de curto prazo seguem elevados devido ao agravamento da pandemia, implicando um viés de alta nas projeções, destaca o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em ata divulgada nesta terça-feira referente a sua última reunião, realizada na semana passada. No encontro, a autoridade monetária elevou o juro básico em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano.
“Por um lado, o agravamento da pandemia pode atrasar o processo de recuperação econômica, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado”, afirma o documento. “Por outro lado, um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco”, afirma. “Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando trajetória com elevação inicial dos juros superior à suposta no cenário básico", diz o documento.
Segundo o Copom, a alta de 0,75 da Selic na reunião passada, “mais célere” do que o esperado, “é compatível com o cumprimento da meta no horizonte relevante mesmo em um cenário de aumento temporário do isolamento social”. O colegiado reforçou considerar adequada para a sua próxima reunião uma nova alta de 0,75 ponto percentual da Selic. “O Comitê avaliou que, para a próxima reunião, seria adequada a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário, com outro ajuste da mesma magnitude”, traz a ata.
O BC também destacou que essa avaliação a respeito do próximo encontro “pode ser alterada caso haja uma mudança significativa nas projeções de inflação ou balanço de riscos”. Isso, porque, “em última instância, a decisão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, e das projeções e expectativas de inflação”.
Na avaliação do comitê, a pandemia atingiu de maneira heterogênea a ociosidade dos diferentes setores econômicos, e "programas governamentais de recomposição de renda levaram o setor de bens a operar com baixa ociosidade", por exemplo. "O Copom avalia que os dados de atividade e do mercado do trabalho formal sugerem que a ociosidade da economia como um todo se reduziu mais rapidamente que o previsto, apesar do aumento da taxa do desemprego".
A redução da ociosidade, diz o BC, foi "fruto do ritmo forte de crescimento dos últimos meses" e que indicadores de maior frequência sugerem que a recuperação consistente da economia se prolongou provavelmente até fevereiro, embora ressalte ser necessário olhar os dados com cautela.
“A despeito da redução parcial dos programas governamentais de recomposição de renda, a retomada econômica surpreendeu positivamente”, afirma a ata. Os membros do Copom notaram,no entanto, "que os últimos dados disponíveis ainda não contemplam os possíveis efeitos do recente e agudo aumento no número de casos de covid-19, e que assim há bastante incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia no primeiro e segundo trimestres deste ano”.
O documento afirma que, prospectivamente, o comitê avaliou que uma possível reversão econômica devido ao agravamento da pandemia seria bem menos profunda do que a observada em 2020, e provavelmente seria seguida por outra recuperação rápida. Para o Comitê, diz a ata, “o segundo semestre do ano pode mostrar uma retomada robusta da atividade, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente”.
O Copom cita ainda que "houve uma reversão das expectativas de inflação, que passaram a se situar na parte superior do intervalo de tolerância da meta para o ano de 2021 e ao redor da meta para o ano de 2022, os dois anos-calendário do horizonte relevante de política monetária".
“Diversos membros também ressaltaram que as pressões inflacionárias observadas em 2021 podem contaminar as expectativas de inflação para 2022, gerando risco de uma desancoragem das expectativas no horizonte relevante de política monetária”, diz o comunicado.
De acordo com a ata, o BC discutiu que a demora na normalização das cadeias produtivas, pressionando custos de produção e inflação em setores específicos, sugere que há também um choque positivo de demanda atuando.
O comitê avalia que, “apesar do diagnóstico de que os choques atuais são temporários, o modelo de metas prevalente no país considera a inflação cheia no ano-calendário”. Segundo a ata, todos esses fatores contribuíram para “uma postura mais assertiva na condução da política monetária”.
"Consequentemente, os membros do Copom concluíram que o cenário atual já não prescreve um grau de estímulo extraordinário e que o Copom deveria iniciar um processo de normalização parcial da taxa de juros", afirmou.
Sobre o cenário externo, o BC indica que a reprecificação de ativos nos mercados internacionais poderá tornar o ambiente “desafiador” para as economias emergentes. Segundo a ata, os avanços na vacinação, os novos estímulos fiscais em alguns países desenvolvidos e a comunicação dos bancos centrais de que os estímulos monetários terão longa duração devem implicar crescimento econômico robusto durante o ano.
“Contudo, a discussão sobre 'reflação' tem causado aumento na volatilidade em alguns mercados”, afirma o comitê. “A evolução desse processo de reprecificação de importantes ativos financeiros pode tornar o ambiente para as economias emergentes mais desafiador.”