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Mercado espera alta de 1 ponto na Selic

Fonte: Valor Econômico - 17/09/2021 às 12h09

Se o cenário esperado para a inflação já se mostrava desafiador em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) terá de lidar, na próxima semana, com adversidades ainda mais complexas. A surpresa inflacionária se mostrou ainda mais forte e a composição da inflação assustou o mercado. O resultado foi claro: as expectativas se afastaram ainda mais do centro da meta e boa parte dos economistas passou a ver a necessidade de uma aceleração do ritmo de alta da Selic. Nesta semana, porém, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, conseguiu conter o movimento altista nas projeções para o próximo Copom. 
 
 
Levantamento do Valor realizado entre os dias 13 e 16 de setembro com 107 instituições financeiras e consultorias mostra que 92 esperam uma elevação de 1 ponto percentual na Selic na próxima semana, que sairia, portanto, dos atuais 5,25% e iria para 6,25%.

No mercado de opções digitais, na B3, o “efeito Campos Neto” fez com que as apostas em uma elevação de 1 ponto na Selic saltassem de 30% na segunda-feira para 88% ontem, enquanto apostas em um aumento ainda mais acelerado perderam espaço. Apenas 13 casas mantiveram inalterada a projeção de uma alta de 1,25 ponto e somente duas instituições veem uma elevação de 1,50 ponto. 

Durante evento organizado pelo BTG Pactual na terça-feira, o presidente do BC reforçou que levará a Selic “para onde for necessário”, mas ressaltou que a autoridade monetária não alterará o plano de voo a cada número de alta frequência que for divulgado. O mercado havia migrado para um cenário de aceleração do ritmo de aperto na esteira de uma inflação mais alta que o esperado em agosto e com uma composição mais preocupante e mais espalhada. 

“As expectativas de inflação de 2022 tiveram a pior deterioração desde a reunião de março, tivemos surpresa nos dados de curtíssimo prazo do IPCA-15 e do IPCA, e a inflação implícita também teve uma deterioração importante”, aponta o economista-chefe da Vinland Capital, Aurelio Bicalho. 

“No passado, com surpresas inflacionárias menores, o BC adotou um passo maior. Entre junho e agosto, quando o ritmo foi acelerado de 0,75 ponto para 1 ponto, a deterioração das expectativas e a surpresa inflacionária foram menores do que o movimento de agosto a setembro”, observa. “Seria razoável fazer um aperto maior.” 

Bicalho, porém, alterou o seu cenário após as declarações de Campos. “O discurso apontou que ‘fazer o que for necessário’ se relaciona mais ao ciclo e ao nível de Selic que será necessário. O BC deve fazer um aumento de 1 ponto e, se houver necessidade de ajuste, isso irá ocorrer no tamanho do ciclo. Se houver surpresa, será na direção de fazer um aperto maior”, diz o economista. A Vinland espera que a Selic encerre o ano em 8,25% e vê a taxa em 9% no fim do ciclo. 

O economista-chefe para América Latina do Morgan Stanley, André Loes, concorda com a colocação de que optar por doses maiores de ajuste nos juros seria uma decisão mais eficiente na reunião do Copom da próxima semana. Ele, porém, também projeta oficialmente um aumento de 1 ponto na Selic, em linha com o sinalizado por Campos.

“Fazer o ‘frontloading’ [antecipação] ajudaria a conter a deterioração das expectativas de inflação, por uma razão de sinalização e também por você gerar os efeitos reais da política monetária mais rapidamente. Seria eficiente e melhor, a meu ver, se o Banco Central acelerasse o ritmo de alta, a despeito do que foi comentado pelo presidente do BC”, diz Loes. 

A sócia e economista da GAP Asset, Anna Reis, lembra que ainda não há um teto para a inflação e que a disseminação está mais intensa. “Uma aceleração teria a ver com chegar mais rápido, e não com chegar mais longe”, argumenta. Ela, porém, revisou a projeção para a Selic de uma alta de 1,25 ponto para um aumento de 1 ponto na próxima semana, mas ressalta que o ritmo continua a ser forte. 

Nesta semana, houve deterioração adicional das taxas de inflação embutidas nos títulos públicos (NTN-Bs). Dados da Renascença DTVM apontam que a inflação extraída da NTN-B para 2022 subiu de 6,07% na segunda-feira para 6,21% ontem, enquanto a inflação embutida na NTN-B para 2023 avançou de 5,53% para 5,62%. 

“Se a inflação seguir na toada que nós temos visto, as revisões para o IPCA deste ano vão ter impacto em 2022 por inércia. Com uma elevação menor da Selic do que o esperado por boa parte do mercado antes, podemos ver um efeito de continuidade da alta das expectativas de inflação para o ano que vem”, observa o economista Werther Vervloet, da ACE Capital. 

A gestora alterou sua projeção para a taxa básica após os comentários de Campos. Antes, a ACE esperava uma elevação de 1,25 ponto na Selic, mas migrou para uma alta de 1 ponto. 

Na visão de Vervloet, o BC deixou um recado claro de que não deve acelerar o ritmo de elevação do juro básico. “Não dá para dizer que [uma alta de 1 ponto] é um ritmo ruim. É muito forte. Não é passível de grandes críticas, mas existia, sim, a expectativa de que ele fosse ser um pouco mais duro”, diz o economista. A ACE, agora, acredita que a Selic deve terminar o ano em 8,25% e chegar a 9% na segunda reunião do Copom em 2022. 

Quanto ao andamento do ciclo após a decisão de semana que vem, o mercado adota caminhos bastante distintos. A economista-chefe da Canvas Capital, Camila de Faria Lima, por exemplo, acredita que o Copom deve optar por desacelerar o ritmo de alta da Selic já em dezembro, ao considerar a defasagem e os efeitos cumulativos da política monetária. 
“Com uma alta de mais de 5 pontos percentuais acumulada desde o início do ciclo, o Copom poderá optar por essa desaceleração para ter mais tempo para avaliar”, diz Faria Lima. A Canvas espera, assim, que a Selic termine o ano em 8% e que chegue a 9% no fim do ciclo de aperto monetário. 

Já o economista Roberto Troster acredita em um caminho mais agressivo a ser adotado pelo BC, cujos desafios se mostram ainda maiores no cenário traçado pela Troster & Associados, que aponta para a Selic a 8,5% no fim do ano e a 10% no fim do ciclo, além de uma inflação de 6% em 2022. 

“Se o BC quiser reverter a alta das expectativas, é necessário que haja um choque mais forte agora. É o que ele deveria fazer. Como ele está atrás da curva, é preciso acelerar primeiro para depois abaixar a curva”, afirma Troster. 

O cenário de Troster para a inflação diverge do consenso do mercado. O Valor também questionou os economistas sobre os cenários projetados para a inflação. De 100 casas ouvidas, a mediana para o IPCA de 2021 aponta para uma inflação de 8,29%. Em relação a 2022, o ponto médio das 99 estimativas colhidas indica o IPCA em 4,10%. 

Na avaliação do economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, com a política econômica derivada da pandemia (juro baixo e forte expansão fiscal) sendo revertida, a tendência é que choques tenham menos condições de se propagar na economia.

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