Clipping
Juro curto tem nova queda ainda repercutindo fala do presidente do BC
As taxas futuras de curto prazo voltaram a recuar nesta quarta-feira (31), como ocorreu ontem, embora em menor intensidade. A queda registrada era de 4 pontos-base ao fim da sessão regular de hoje, sendo que, na mínima, foi de 8 pontos-base.
O fato de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ter ressaltado na terça (30) que o plano de voo é uma normalização parcial da Selic e que o início do ciclo de alta de forma mais intensa pode levar a um ciclo total menor ainda é visto como um guia para o alívio na ponta curta.
À espera do anúncio do plano de cerca de US$ 3 trilhões de investimentos de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e monitorando o ambiente político, as taxas curtas e médias encerraram a sessão desta quarta em altas leves.
Finalizado o pregão regular, às 16h, o juro do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2022 passou de 4,66% no ajuste anterior para 4,62% e o do DI para janeiro de 2023 variou de 6,42% para 6,445%. Já o juro do DI para janeiro de 2025 anotou alta de 8,07% para 8,11% e o do DI para janeiro de 2027 avançou de 8,69% para 8,72%.
A precificação implicada no mercado no fechamento de ontem era de uma alta de 91 pontos-base nos juros básicos no próximo Copom e, hoje, foi reduzida marginalmente, para 90 pontos-base. Isso implica uma chance de 60% de alta de 1 ponto percentual e 40% de 0,75 ponto, caso somente se essas alternativas fossem consideradas.
“Não acho que o BC vai entregar 100 pontos-base [de alta], que é o que está aproximadamente precificado para a próxima reunião do Copom”, diz o diretor de tesouraria de um banco. De acordo com ele, o atual cenário traçado pelo BC, de manter a alta de 0,75 ponto para a próxima reunião, deverá fornecer algum alívio para a curva de DI. “No entanto, continuo expressando minhas opiniões pessimistas sobre as taxas mais longas.”
Se Campos Neto tem falado que o início mais intenso do ciclo de alta da Selic pode levar a uma taxa final menor ao cabo do processo, os riscos de a autoridade monetária ter de elevar o juro básico a um patamar ainda maior — como o risco fiscal, os preços de commodities e o câmbio — seguem orientados para cima, analisa Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do banco Santander Brasil.
“O BC elevou a Selic em 0,75 em março porque o balanço de riscos para a inflação está apontando para cima”, observa Oreng. “Então, eles viram que fazer um ciclo mais rápido pode fazer com que o ajuste total seja menor, como disse o Campos Neto. Mas o risco, na verdade, ainda é de que o BC tenha que fazer mais do ponto de vista de política monetária, dada a situação fiscal e o patamar do dólar”, argumenta. A projeção atual do Santander é de que o BC levará a taxa básica a 5,50% ao ano ao fim de 2021.
A precificação extraída da curva de juros continua mostrando que o mercado espera uma Selic próxima de 6,5% no fim do ano.
Os trechos intermediário e longo da curva, no entanto, após a queda firme de ontem, terminaram a sessão regular desta quarta apontando levemente para cima. Os agentes do mercado também ficaram de olho, hoje, na divulgação do plano de investimentos de Biden, o que, na avaliação da TD Securities, deve ser um motor para mais altas do juro do título do Tesouro americano (Treasury) de dez anos dos Estados Unidos.
Internamente, os investidores monitoram também o ambiente político e a evolução da questão fiscal. O relator-geral do Orçamento, Márcio Bittar, comunicou ao presidente Jair Bolsonaro nesta quarta que cancelará R$ 10 bilhões em emendas parlamentares, assim que a peça orçamentária seja sancionada pelo chefe do Executivo. O Valor apurou que, embora tenha aprovado o gesto, o Ministério da Economia acredita que a situação ainda não está resolvida. Isto porque ainda faltam R$ 21 bilhões em despesas obrigatórias canceladas que ainda precisam ser recompostas para que o governo não fique sem recursos para pagar aposentadorias e outros gastos.
“Havia uma preocupação, lá de trás, do governo flertar com o populismo econômico. Acredito que a questão do Orçamento contribuiu para reforçar essa visão, já que a peça aprovada teve um apoio velado do Planalto”, diz Gustavo Ribeiro, economista-chefe do ASA Investments. “O risco fiscal no curto prazo piora pela pandemia, mas a situação não deve melhorar muito assim que ela acabar: a pressão por gastos vinda do Congresso pode continuar, e isso tem um peso muito importante nas expectativas de inflação.”