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IPCA surpreende em fevereiro, sobe 0,86% e já pressiona a meta do ano

Fonte: Valor Econômico - 12/03/2021 às 12h03

A inflação surpreendeu, subindo com força em fevereiro e consolidando a percepção de que o primeiro trimestre será mais pressionado. Sem perspectiva de grande alívio também para os próximos meses em itens que têm influenciado as altas recentes, como combustíveis e bens industriais, diversas casas revisaram projeções para 2021, de modo que uma inflação de 4% no fim do ano parece, agora, o piso - e algumas estimativas rondam os 5%. A meta é de 3,75%, com 1,5 ponto percentual de tolerância para mais ou para menos.
 
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,86% em fevereiro, ante 0,25% em janeiro, divulgou o IBGE ontem. O número ficou acima da mediana de 0,70% colhida pelo Valor Data e foi o maior para o mês desde 2016 (0,90%). A inflação vem escalando desde setembro de 2020, com exceção de janeiro, mês beneficiado pela transição na tarifa de energia.
 
Em 12 meses, o IPCA sobe 5,2% - virtualmente batendo no teto da banda de tolerância, de 5,25% -, o resultado mais elevado desde janeiro de 2017 (5,35%), aponta Pedro Kislanov, gerente do Índice de Preços ao Consumidor do IBGE. Ele reconheceu que o patamar da inflação está mais elevado, mas disse que é preciso esperar para ver o comportamento de itens de maior peso nos próximos meses.
 
Como pressões já tinham aparecido em janeiro, a inflação do primeiro trimestre “está ficando com uma cara um pouco mais forte”, diz Guilherme Loureiro, economista-chefe da Trafalgar Investimentos. Em uma ponta ainda mais baixa, ele revisou sua projeção de IPCA em 2021 de 3,75% para 4%.
 
Segundo economistas, dois fatores explicam boa parte da surpresa altista de fevereiro: a desaceleração menor do que a esperada em alimentos (de 1,02% em janeiro para 0,27% em fevereiro) e o avanço mais forte em transportes (de 0,41% para 2,28%), puxado pelos combustíveis. A alta em educação (de 0,13% para 2,48%) já era prevista, em função da captação dos preços do início do ano escolar, e foi até menor do que de costume.
 
Na “disputa” entre pressões altistas de oferta - com preços de commodities subindo e real se desvalorizando - e efeitos baixistas de demanda, agravados pela piora da pandemia e vacinação lenta, a avaliação é que os primeiros fatores têm sobressaído, como aponta a Renascença. A expectativa entre analistas é que a inflação acumulada em 12 meses supere 7% mais para o fim do primeiro semestre e permaneça o ano todo acima do centro da meta.
 
Solange Srour e Lucas Vilela, do Credit Suisse, já vinham argumentando que a inflação ia surpreender para cima, mas o resultado de ontem “mostra uma dinâmica muito pior do que o esperado”, escrevem eles, ao atualizar a projeção para o IPCA em 2021 de 4,8% para 5,1%. Fevereiro reforçou o “forte impacto” do câmbio na inflação, segundo eles.
 
A gasolina, um dos produtos que sentem o dólar mais alto, exerceu a maior contribuição individual positiva para o IPCA do mês passado, de 0,36 ponto percentual, ao acelerar de 2,17% para 7,11%. Já a alta no etanol passou de 1,73% para 8,06%. Com isso, os preços dos combustíveis de veículos avançaram de 2,13% para 7,09%, e o grupo de administrados - do qual eles fazem parte - passou de 1,81% para 3,81%.
 
A pressão sobre a gasolina é fruto dos aumentos da Petrobras nas refinarias, que decorrem da cotação internacional do petróleo mais elevada, além do próprio dólar alto. “Essa situação vai se agravar, porque o último aumento ainda não chegou nos postos”, diz João Fernandes, economista e sócio da Quantitas Asset, esperando mais 10,5% para a gasolina no IPCA de março.
 
O cenário é parecido para o etanol, que mantém certa paridade com os preços da gasolina e ainda sofreu com problemas no plantio da cana-de-açúcar, explica o economista. Ele projeta alta adicional de 14% para o etanol neste mês. Após o resultado do IPCA de fevereiro, a Quantitas elevou sua projeção para 2021 de 4,9% para 5,1%.
 
“Números recentes de pesquisas de alta frequência sugerem que os aumentos desses preços [de combustíveis] para os consumidores estão chegando mais cedo e mais fortes do que o esperado”, escrevem Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez, do J.P. Morgan, em relatório.
 
Considerando a surpresa com fevereiro e revisões para março (0,93%) e abril (0,72%), o IPCA de 2021 deveria ir de 4,3% para 5,1%, mas a equipe ajustou a 4,5%, aguardando maior clareza sobre preços-chave. De qualquer forma, Moreira e Fernandez afirmam que têm se preocupado com a dinâmica da inflação, principalmente no curto prazo, e o resultado de fevereiro reforçou o sentimento.
 
Embora o “carro-chefe” da inflação em março seja o grupo de transportes, por causa dos combustíveis, os preços de alimentos devem voltar a acelerar, para 0,60%, estima Fabio Romão, da LCA Consultores. “Será uma aceleração modesta, mas, como é um grupo com peso importante, vai contribuir”, afirma. Ele projeta alta de 0,81% para o IPCA de março, incluindo que os preços de gasolina e etanol avancem 8,02% e 8,50%, respectivamente.
 
Economistas destacam que as surpresas altistas de fevereiro concentraram-se em itens fora dos núcleos - medidas que tentam suavizar os efeitos de preços mais voláteis. A média dos cinco principais núcleos acompanhados pelo Banco Central acelerou, no acumulado em 12 meses, de 3% em janeiro para 3,22% em fevereiro, enquanto a inflação dos serviços roda em 1,38%, ante 1,52% em janeiro, e os serviços subjacentes (mais sensíveis ao ciclo econômico), estão em 2,84%, vindo de 2,68%, todos “ainda bem abaixo da meta” do ano, observa o Goldman Sachs.
 
Embora o cenário tenha piorado nos últimos meses, “a inflação não está fora de controle”, afirma Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do banco. Mas a dinâmica recente requer monitoramento próximo para observar sinais de efeitos secundários e generalização de pressões, pondera.
 
Para Julia Passabom, economista do Itaú Unibanco, a parte de bens industriais ainda não está com uma “cara boa”. “Itens industriais subjacentes subiram 0,59% no mês, contra 0,39% em janeiro. Em 12 meses, foi de 3,2% para 3,5%. Pode parecer pouco, mas está acelerando rápido”, afirma. E, segundo Julia, não há sinais de desaceleração no curto prazo. “Temos indícios anedóticos de gargalos na indústria, insumos mais caros, dólar alto, repasse de preços. É algo que acende uma luzinha vermelha.”

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