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IPCA-15 desacelera, mas alívio é curto
Depois de superar as expectativas do mercado por quatro meses seguidos, a prévia da inflação oficial desacelerou de 1,06% em dezembro para 0,78% em janeiro e ficou ligeiramente abaixo do previsto, mas economistas viram poucos sinais de alívio no resultado. Segundo eles, à exceção da descompressão dos alimentos, outros dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) reforçaram motivos de preocupação com a dinâmica inflacionária, como o aumento de núcleos, de bens industriais e da difusão.
Apesar da perda de fôlego na passagem mensal, a alta do índice, divulgado ontem pelo IBGE, foi a maior para janeiro desde 2016 (0,92%). No acumulado em 12 meses, a inflação medida pelo IPCA-15 subiu de 4,23% para 4,30%. Especialistas afirmam que o indicador anual deve continuar acima da meta para 2021, de 3,75%, em boa parte do ano, atingindo um pico de cerca de 6% no fim do primeiro semestre e começando a desacelerar rumo ao alvo a partir de então.
Excluindo a desaceleração nos preços de alimentação e bebidas, de 2% para 1,53%, a prévia de janeiro não trouxe sinais mais confortáveis para o cenário inflacionário, avalia Thiago Pereira, economista-chefe da Macro Capital . A gestora manteve a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) começará a subir a Selic na reunião de março, em 0,5 ponto percentual.
A prévia da inflação ficou ligeiramente abaixo dos 0,81% previstos, diz Pereira, mas não trouxe mudanças em dados que mostram a tendência subjacente da inflação, em especial nos núcleos. A média das cinco medidas calculadas pelo BC para excluir ou reduzir a influência de itens voláteis sobre a inflação subiu 0,65% no IPCA-15 de janeiro, mesma variação registrada no fechamento de dezembro.
“Esse patamar reforça o desconforto do Banco Central com as medidas de núcleo e também o tom dele sobre a necessidade de alta de juros nas próximas reuniões do Copom”, diz Pereira, que menciona o nível alto de dispersão e a aceleração de bens industriais e serviços subjacentes como outros números ruins.
A difusão, que mede o percentual de preços com reajustes no mês, passou de 63,2% no IPCA-15 de dezembro para 73,8% na prévia do mês atual. Já os bens industriais avançaram de 0,43% para 0,85%, enquanto os serviços subjacentes, núcleo que exclui alguns serviços que têm pouca relação com o nível de atividade, aumentaram 0,75% agora, ante 0,19% um mês antes.
Segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, a medição atual do IPCA-15 teve composição “menos benigna”. “A inflação de núcleos e serviços surpreendeu para cima e houve alguns sinais de disseminação de pressões inflacionárias entre grupos diferentes”, apontou Ramos.
O economista destaca a parte de alimentação fora do domicílio, que é um serviço, e acelerou de 0,58% para 1,02%. Na medida em 12 meses, no entanto, os núcleos subiram 2,7%, e os serviços subjacentes, 2,61%, ambos patamares confortáveis, observou. “Núcleos e serviços ainda abaixo da meta devem dar conforto ao Banco Central no curto e médio prazos”,
Para Ramos, “não há razão para pânico”, mas a dinâmica inflacionária recente “exige monitoramento intenso” e, provavelmente, será necessário dar início à normalização da política monetária no curto prazo. Segundo ele, o BC precisa monitorar sinais de efeitos de segunda ordem sobre os preços, assim como indícios de espalhamento das pressões.
Já Raphael Rodrigues, economista do banco BV, avalia que a prévia de janeiro deve diminuir a pressão sobre o BC para subir os juros. Isso porque, se comparado ao IPCA fechado de dezembro, que avançou 1,35%, não houve aceleração adicional dos núcleos, serviços e bens industriais, nem ganho de ímpeto da difusão.
“A alta da média dos núcleos ainda gera cautela porque o índice está elevado e não seria compatível com a meta se fosse repetido nos próximos meses, mas acreditamos que esse dado tem tendência de baixa”, comentou Rodrigues, para quem o IPCA mensal arrefecer nos primeiros meses do ano.