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Inflação da baixa renda sobe 6,3% em 2020, a maior desde 2012
A inflação percebida pela baixa renda em 2020 foi a mais alta em oito anos, impulsionada por alimentos mais caros, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), que apura percepção de preços em famílias com ganhos mensais de até 2,5 salários mínimos, subiu de 0,95% para 1,39% entre novembro e
O indicador também ficou acima do Índice de Preços ao Consumidor - Brasil (IPC), que abrange famílias mais ricas, com até 33 salários mínimos e subiu 5,17% em 2020. Para André Braz, economista da fundação e responsável pelo indicador, a perspectiva é de continuidade de alta de alimentos em 2021, mas menos intensa.
“O que aconteceu [em alimentação] no ano passado foi muito anormal”, afirmou. “Além da pandemia, praticamente tudo que poderia acontecer de ruim para elevar preços [dos alimentos] aconteceu”, resumiu.
Na análise do técnico, ocorreu uma “tempestade perfeita” nos preços dos alimentos da cesta básica, no ano passado. Ele lembrou que cresceu demanda por comida nos supermercados, após início da pandemia, com aumento das refeições em casa. Além disso, houve quebra de safra de feijão, que ficou mais caro.
“O feijão carioca encerrou o ano passado com alta anual de 20,21%; feijão preto, alta de 56,58%”, afirmou. Problemas de oferta devido às oscilações climáticas também levaram a aumentos em batata inglesa (65,31%) e em tomate (41,66%) em 2020, disse Braz.
O economista citou, ainda, redução de área plantada do arroz, que diminuiu oferta e deixou produto 72,96% mais caro, no ano passado. “E tivemos a alta do dólar, que estimulou exportações, como das carnes, diminuindo oferta aqui no mercado doméstico”, acrescentou Braz. A carne bovina ficou 21,76% mais cara em 2020.
Todos esses itens, muito consumidos na cesta básica do brasileiro, levaram a inflação dos alimentos no IPC-C1 a subir 15,37% no ano passado. Além de superior à alta de 6% de 2019, a taxa foi recorde no âmbito do indicador, iniciado em 2004.
O grande peso que Alimentação tem, dentro do IPC-1, contribuiu ainda mais para pressionar a taxa do indicador, acrescentou ele. Enquanto no IPC-BR essa classe de despesa representa 19,82% do total do índice, essa fatia é de 24,31% no indicador de inflação entre os mais pobres, comentou o economista da FGV.
Porém, como o que houve em 2020 nos preços de alimentos foi “um ponto fora da curva”, nas palavras do técnico, os mesmos fatores não devem ocorrer na mesma intensidade em 2021. Para esse ano, são esperados aumentos em tarifas públicas e em preços administrados, como tarifa de ônibus - que não foram reajustados no ano passado, devido à crise e ao ano de eleições. “Tem muita coisa, sim, que vai comprometer inflação de famílias mais pobres”, admitiu ele. “Mas não devemos ter inflação de alimentos tão intensa quanto ano passado”, afirmou, completando que isso deve conferir alívio ao IPC-C1, ante resultados de 2020.