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Inadimplência represada vai se refletir no primeiro semestre, diz Boa Vista
O percentual de consumidores endividados recuou durante o ano passado, apesar dos efeitos recessivos da pandemia, mas tende a aumentar significativamente nos primeiros seis meses de 2021. Pesquisa do birô de crédito Boa Vista com cerca de 1.400 entrevistados em todo o Brasil mostra que 83% se diziam endividados no segundo semestre de 2020, ante 87% nos seis meses anteriores e 89% no período de julho a dezembro de 2019.
A trajetória descendente pode ser explicada não só devido ao pagamento do auxílio emergencial pelo governo federal mas também pela postergação na cobrança de dívidas por bancos. As instituições financeiras renegociaram o pagamento de dívidas tendo como contrapartida a redução do depósito compulsório que têm de fazer junto ao Banco Central, diz o presidente da boa Vista, Dirceu Gardel.
Como consequência, o volume de “negativações” - restrições provocadas pelo atraso de mais de três meses no pagamento de dívidas - caiu ao longo de 2020, na comparação com o ano anterior. “A inadimplência foi deslocada para 2021”, sustenta Gardel, citando uma análise do Banco Central (BC). “Os números do primeiro e do segundo trimestres vão retratar os níveis reais de inadimplência".
Principal fator de expansão da inadimplência, o desemprego avançou em 2020. O contingente de desocupados no país subiu de 12,9 milhões, nos primeiros três meses do ano passado, para 14 milhões no trimestre encerrado em novembro. Ainda assim, o percentual de consumidores com dificuldade para quitar contas diminuiu dez pontos percentuais na comparação entre o segundo semestre de 2019 e o mesmo período de 2020. Caiu de 64% para 54%.
A partir de abril, o empréstimo compulsório sobe, o que vai desestimular a postergação na cobrança de dívidas por parte dos bancos. Isso pode fazer com que a “inadimplência represada” suba a partir do segundo trimestre, no máximo, alerta Gardel. O executivo destaca que, mesmo com uma nova leva de pagamentos do auxílio emergencial, a renda do consumidor tende a piorar devido ao menor valor e alcance do benefício.
“A economia não está dando sinais de recuperação em ‘V’. No fim do segundo trimestre de 2020, vimos uma certa reação”, acrescenta o presidente da Boa Vista. Para ele, o desempenho da economia brasileira está “muito mais para um padrão em ‘L’ do que em ‘V’.”
Do ponto de vista econômico, o ‘L’ significa uma queda abrupta seguida por um período de estagnação. “Não acredito que a economia vá dar sinais de pujança no primeiro e no segundo trimestres com esse nível de inadimplência”, diz Gardel, numa referência à projeção de um incremento no percentual de consumidores inadimplentes. “Vamos ter um aumento da inadimplência bem significativo, relevante, nos dois primeiros trimestres do ano.”
O indicador de registro de inadimplência da Boa Vista aponta para uma trajetória descendente a partir de abril do ano passado. O indicador não faz parte do perfil do consumidor traçado pela Boa Vista para o segundo semestre de 2020. É elaborado com base na quantidade de novos registros negativos informados por empresas em decorrência do não pagamento de compromissos financeiros firmados.
O reaquecimento da economia no segundo semestre deste ano vai depender - na visão de Gardel - da evolução do processo de vacinação. Conduzida de forma satisfatória, a imunização permitiria, por exemplo, retomada plena das atividades dos varejistas físicos.