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Fim do auxílio põe em dúvida o ritmo de retomada do PIB Este trecho é parte de conteúdo que pode ser compartilhado útil

Fonte: Valor Econômico - 17/08/2020 às 03h08

Em grande parte chancelada pelas medidas de suporte à renda do governo, a surpresa positiva com os últimos indicadores de atividade levantou o debate sobre o que pode acontecer não só com as contas públicas, mas também com o desempenho da economia, a depender da extensão ou não do auxílio emergencial. Economistas avaliam que o fim do benefício, pago a 66,2 milhões de brasileiros, seria o principal risco à continuidade da reação econômica no curto prazo.
 

A manutenção ou não do ‘coronavoucher’ não teria impacto só no quadro fiscal, mas também na resiliência da economia aos efeitos da pandemia, afirma Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Em conjunto com os economistas Daniel Xavier Francisco e Daniel Lima, Leal estimou três cenários diferentes para a retração do Produto Produto Interno Bruto (PIB) este ano, de acordo com hipóteses para o futuro do benefício.
 
No mais pessimista, com encerramento do programa em agosto, o PIB cairia 6,1% em 2020. Assumindo que o benefício continua sendo pago até dezembro, mas com o valor de R$ 200 mensais, a queda diminuiria para 5,3%, atual cenário-base do banco. Por fim, na suposição mais otimista, com manutenção do ‘coronavoucher’ em R$ 600, a economia encolheria 4%.
 

Na sexta, o ABC passou a prever recuo 0,7 ponto menor para o PIB brasileiro em 2020. “Os dados correntes sugerem que o impacto deste auxílio é relevante. Ele está sustentando os níveis de vendas varejistas em supermercados, farmácias e material de construção”, aponta o economista Daniel Xavier. Já nos serviços, a maior influência positiva seria sobre as atividades de reparação, manutenção e consertos.
 

Leal observa que mesmo a indústria tem se recuperado com mais intensidade do que o previsto, o que também estaria ligado à ajuda emergencial do governo, que elevou o consumo de bens. “Na China, por exemplo, a diferença entre o desempenho da indústria e do comércio é muito maior do que aqui, o que relaciono ao ‘coronavoucher’. Ele foi uma injeção de consumo na veia.”
 

Por isso, preocupa a chance de que o benefício seja extinto, diz o economista-chefe do ABC, destacando que os cenários calculam apenas o impacto direto do ‘coronavoucher’ sobre o PIB. Haveria, ainda, um efeito negativo indireto, já que muitas pessoas não estão procurando emprego porque recebem a ajuda governamental. Caso elas voltassem a buscar uma vaga assim que perdessem a fonte de renda, o desemprego subiria rapidamente. Isso porque o IBGE só considera desempregados aqueles que estão procurando se recolocar.
 

Para ilustrar como a volta de mais pessoas à força de trabalho poderia elevar a desocupação, o ABC calculou como estaria a taxa de desemprego em junho, se a soma de ocupados e desocupados fosse a mesma de junho de 2019: em vez de 13,1%, a taxa seria de 22,8% no mês. “Já estamos no segundo mês de reabertura e a taxa de participação no mercado de trabalho continua baixa”, nota Leal, o que pode estar relacionado à renda garantida pelas medidas do governo.
 
O banco estimou, também, como seria a variação dos rendimentos, a depender do ‘coronavoucher’. A massa ampliada — que inclui, além da renda do trabalho, aposentadorias e benefícios governamentais — subiria 7,5% em 2020 com manutenção em R$ 600, ou apenas 0,8% com o fim do programa em agosto. No cenário-base do ABC, de extensão até o fim do ano no valor de R$ 200, a expansão será de 2,8%.
 
Mesmo num valor reduzido, a continuidade do pagamento, porém, teria custo elevado para os cofres públicos. Ao incorporarem em seu cenário que o auxílio será pago até o fim do ano, no valor de R$ 300, os economistas Cristiano Souza e Cassiana Fernandez, do J.P. Morgan, calculam que o impacto fiscal das medidas de estímulo aumenta em R$ 91,8 bilhões  este ano.
 
Devido aos gastos extras, a instituição espera, agora, que o déficit primário do governo central fique em R$ 867 bilhões em 2020, ou 12,4% do PIB. A projeção para a relação dívida bruta/PIB ao fim do ano foi elevada de 94,9% para 96,4%. Já a economia deve encolher 6,2% no ano.
 
Para Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, a possibilidade de que o auxílio seja descontinuado é o maior risco à atividade no curto prazo. A retirada pode fazer com que haja uma “recaída” da economia no quarto trimestre, avalia ele. Isso porque, numa conjuntura sem controle efetivo da pandemia, atividade ainda deprimida no setor de  serviços — que abarca cerca de 70% do PIB —, e aumento significativo do desemprego, ainda pode ser cedo para que o governo acabe com a maior parte dos estímulos fiscais, deixando a economia “andar sozinha”.
 
O possível fim do ‘coronavoucher’ em agosto é a principal razão pela qual a LCA não reviu para melhor a projeção de queda de 5,6% para o PIB em 2020. “Temos visto um movimento de melhora da atividade e das projeções, com muita gente prevendo queda na casa de 4%. Mantivemos a nossa projeção em cerca de -5% principalmente por causa desse risco relacionado ao fim do ano”, explicou Nishida, que também destaca os riscos fiscais ligados ao futuro do benefício.
 
A forte expansão fiscal este ano ocorre em meio a uma circunstância excepcional, e poderia causar menos problemas se houvesse sinalização de que as âncoras fiscais seriam respeitadas e que reformas como a administrativa e a tributária andariam, aponta Nishida. Mas os sinais no momento vão em sentido contrário. “É uma situação muito difícil.”
 
Ao revisar sua projeção para a retração do PIB em 2020 de -5,7% para -5%, o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, afirmou que a retomada gradual da atividade persistiu em julho, ainda que contando com grande impulso fiscal. De um lado, há dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento caso os estímulos diminuam.  Do outro, se o ‘coronavoucher’ for estendido nos atuais R$ 600, a estimativa para o déficit fiscal este ano, atualmente em 11,8% do PIB, aumentaria, disse Secemski.
 
 
 
 
 
 
 
 

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