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Crescimento do crédito na China preocupa economistas e executivos
A desaceleração econômica do gigante asiático - cujo crescimento deve ser mantido em uma média de 6,5% nos próximos cinco anos, de acordo com a meta definida pelo governo em Pequim ontem - está criando uma espécie de enigma: como continuar criando crédito sem alimentar o que analistas já classificam como um retorno da bolha do mercado imobiliário.
A forte elevação da oferta de dinheiro nos últimos meses tem dado ânimos aos mercados de capitais, mas necessita ser monitorada de perto, disse Fu Yuning, presidente da China Resources Holdings, um conglomerado chinês com participação em empresas desde o setor de energia ao imobiliário. "Estamos observando atentamente os riscos financeiros dessa elevação da oferta monetária", disse Fu, que participa do Congresso do Povo da China.
Para ajudar a impulsionar a economia, o Banco Central tem inundado o mercado de crédito nos últimos meses. Em janeiro, o montante de yuans criado foi equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Noruega em um ano, cerca de US$ 386 bilhões em empréstimos e emissão de bônus corporativos.
Ainda assim, as leituras mais recentes da performance da economia não mostram sinais de uma recuperação mais ampla. Ao invés disso, regras hipotecárias menos restritas e acesso mais fácil aos mercados de dívida para construtoras levaram a um crescimento de até dois dígitos nos preços dos imóveis em algumas grandes cidades no ano passado. Em Shenzhen, uma das maiores do país, o crescimento foi de 50%. O movimento chamou atenção do ministro da Habitação, Cheng Zhenggao, que declarou que a divergência de preços entre as cidades maiores e menores era "grave".
A maior parte das regiões urbanas do país permanece com um estoque enorme de prédios e moradias não ocupadas, à espera de compradores que não chegaram. Para limpar esse montante, alguns empreendedores estão oferecendo formas facilitadas de pagamentos, o que levou o empréstimo hipotecário a ter um salto.
Para Li Daokui, economista e ex-conselheiro do banco central chinês, o PBoC, o movimento é o mesmo que "beber veneno para matar a sede".
"Este tipo de política é que semeia a crise do mercado imobiliário", disse Li, acrescentando que os governos locais deveriam encorajar os interessados a alugar as propriedades antes de comprá-las.
A disparidade entre a economia derrapante e o surgimento de bolhas imobiliárias localizadas em algumas cidades é um dos temas de fundo do Congresso do Povo da China deste ano. Durante o discurso de abertura, o governo anunciou um programa que tenta equilibrar políticas de estímulo ao crescimento com iniciativas de reestruturação, que na prática agem contra a revitalização de curto prazo da economia.
A redução da dívida, do excesso de estoque imobiliário e da capacidade produtiva em indústrias obsoletas continua a ser a principal prioridade deste ano, disse Yu, da China Resources.
A volta do crescimento do crédito nos bancos comerciais chineses acontece em um momento em que eles estão registrando seus piores lucros em uma década. Embora os bancos listados em bolsa ainda não tenham apresentado seu balanço anual, é esperado que seu lucro líquido se mantenha estável ante o ano anterior.
Já os empréstimos inadimplentes atingiram 1,67% da massa total de empréstimos no final de 2015, o maior nível desde junho de 2009. Analistas sugerem que o porcentual seria maior se grandes bancos incluíssem nas estatísticas empréstimos atrasados que ainda não foram declarados como comprometidos.
A perspectiva para a lucratividade dos bancos é tão ruim que um Li Lihui, ex-presidente do Bank of China, o quarto maior do país em valor de ativos, propôs neste sábado uma redução do montante de dinheiro que os bancos precisam provisionar para proteção contra maus empréstimos.
Para Li, o país deveria reduzir a provisão mínima contra empréstimos inadimplentes dos atuais 150% para algo como 100% ou 120%. "Quando as condições econômicas voltarem a ser boas, podemos elevá-la novamente", disse Li, que estima um crescimento dos lucros dos grandes bancos nos próximos anos para algo entre zero e 2%. Fonte: Dow Jones Newswires.