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Cresce aposta em elevação da Selic já na reunião de março

Fonte: Valor Econômico - 22/01/2021 às 10h01

Um dia após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ter adotado um tom mais preocupado com o cenário prospectivo para a inflação, o mercado de juros incorporou nos preços chances bastante elevadas de a Selic abandonar a mínima histórica de 2% já na reunião de março.
 
O cenário não é consensual entre economistas de mercado, mas a avaliação de que o comitê irá antecipar o processo de normalização da política monetária ganhou fôlego adicional. Não por acaso, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2022 saltou de 3,215% no fechamento de quarta-feira para 3,390% ontem. A curva já precifica a Selic acima de 5% no fim deste ano. Enquanto isso, o FRA (taxa para um período entre dois vencimentos de contratos futuros) entre outubro de 2021 e janeiro de 2022 apontava para uma taxa de 4,90%.
 
“O mais provável é que o comitê espere um pouquinho. No meu cenário base, o ciclo de aumento de juros começa em maio, mas não é mais para descartar uma alta em março”, diz a economista-chefe da Canvas Capital, Camila Faria Lima.
 
De acordo com a economista, a retirada do “forward guidance” (prescrição futura) e a justificativa utilizada pelo Copom para essa ação vieram em linha com o esperado, diante da proximidade entre as projeções de inflação e a meta. No entanto, Camila nota alguns pontos do comunicado que reforçaram a visão de que o processo de elevação dos juros pode ter início em breve.
 
Ao colocar o termo “neste momento” no apontamento de que os estímulos extraordinariamente elevados são necessários, o Copom surpreendeu o mercado e fortaleceu uma visão de normalização antecipada. “Se pensar no nosso cenário, com a Selic encerrando o ano em 4,75%, a indicação é compatível”, diz a economista da Canvas.
 
A expressão “neste momento” foi colocada em algumas revisões de cenário que pipocaram no pós-Copom. Instituições financeiras passaram a antecipar a estimativa para o início do ciclo de normalização e a esperar juros mais altos no fim do ano. A XP Investimentos se encaixa nesse cenário, após ter elevado sua estimativa para a Selic em dezembro de 3% para 3,5%, com início do processo de aumento da taxa em maio. O Goldman Sachs também passou a projetar Selic a 3,5% e a apontar para maio como o palco para o início da alta de juros.
 
“A expectativa para esta reunião do Copom estava inteira em torno de haver ou não uma retirada do ‘forward guidance’. O Copom fez isso e ainda usou outras frases que denotam maior preocupação. Ao falar sobre os núcleos de inflação, o comitê diz que eles já não são compatíveis com as metas. E, além disso, afirma que o choque está sendo mais persiste do que o esperado”, diz Elisa Machado, economista da ARX Investimentos.
 
Antes mesmo da reunião do Copom, a ARX já defendia a possibilidade de elevação da taxa básica de juros no primeiro semestre deste ano. “O comunicado não mudou o nosso cenário. Nesse sentido, ele não foi uma surpresa, mas essa virada de mão do BC é correta e desejável dadas as nossas preocupações com o cenário prospectivo para a inflação”, afirma a economista.
 
De 90 instituições financeiras consultadas pelo Valor na semana passada, apenas 10 indicavam manutenção da Selic em 2% ao longo de todo o ano de 2021. A Persevera ainda acredita que esse cenário tem chances de se tornar realidade. O diretor de investimentos da gestora, Guilherme Abbud, defende que o Copom seja “paciente” antes de aumentar a taxa básica.
 
“Não existem motivos para os juros serem elevados hoje. Estamos com um desemprego enorme e o Brasil tem tido uma dificuldade muito grande para crescer”, diz o executivo. Para Abbud, uma elevação de juros em breve pelo Copom pode ser “muito prematura”, já que o cenário abarca incerteza elevada em relação à atividade e à inflação.
 
Já o economista-chefe do Fator, José Francisco Gonçalves, que também projetava manutenção do juro básico ao longo do ano, colocou suas projeções em revisão. “Tem que mudar esse cenário porque, quando você pega a projeção do BC, ele está anunciando ali que a Selic sobe. Independentemente dos choques temporários da inflação, o comunicado anuncia uma alta de juros", aponta.
 
Ele afirma, inclusive, que o Copom deve “ficar de olho” nos próximos dias a novidades no cenário fiscal. Ontem, declarações de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência do Senado, deixaram o mercado de juros ainda mais estressado. O senador se mostrou favorável ao retorno do auxílio emergencial e disse que, embora o teto de gastos seja importante, o momento atual é excepcional.
 
Em relatório enviado a clientes, os estrategistas do Morgan Stanley apontam que o desconforto com as medidas subjacentes de inflação e a assimetria de riscos atrelados às perspectivas fiscais “muito provavelmente manterão o prêmio de risco elevado na curva de juros”. Além disso, o banco americano ressalta que “a recente queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, segundo pesquisas, junto com a evolução da covid-19, muito provavelmente manterá esses riscos vivos e difíceis de atenuar”.
 
Ontem, a taxa do DI para janeiro de 2023 disparou de 4,930% para 5,155%, enquanto a do DI para janeiro de 2025 escalou de 6,450% para 6,660%. Na avaliação da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o risco de o BC elevar a taxa de juros em março não é pequeno” e o mercado também começou a embutir nos preços a chance de um novo programa de auxílio após as declarações de Pacheco.
 
O estresse na curva de juros se mostrou ainda mais acentuado, ao ser afetado, ainda, por fatores técnicos. Embora o Tesouro Nacional tenha conseguido vender os lotes integrais de LTNs, NTN-Fs e LFTs no leilão de títulos públicos, a quantidade de risco colocada no mercado se mostrou bastante expressiva. Em termos de dv01, métrica associada à variação das taxas de juros, o Tesouro colocou R$ 6,03 milhões em risco no mercado. Na semana anterior, o nível foi de R$ 3,53 milhões.

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