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Crédito pessoal fica mais barato
Que a taxa Selic está em seu patamar mais baixo da história - e vem renovando as mínimas a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) - não é novidade. Mas um levantamento do Valor Data com base em dados do BC mostra que oito das principais linhas de crédito pessoal também ficaram com os juros mais baixos neste ano.São elas: cheque especial, crédito pessoal não consignado, consignado do setor público, consignado do setor privado, consignado do INSS, aquisição de veículos, aquisição de outros bens e cartão de crédito parcelado.
Em janeiro, a taxa Selic era de 4,5% ao ano. Desde então, foram feitos cinco cortes até o nível de 2%. No ano, portanto, a taxa caiu 2,5 pontos percentuais. Nas linhas de crédito, os cortes foram de 0,42 ponto percentual, de 19% para 18,58% ao ano, no caso de aquisição de veículos, a 35,38 pontos no crédito pessoal não consignado, de 79,79% a 44,41 na média.
A taxa Selic tem influência sobre o custo das linhas de crédito, por ser o juro de referência da economia e, consequentemente, para captação de recursos pelos bancos. Portanto, quanto mais baixa a taxa, menos os bancos vão gastar para captar recursos e emprestá-los ao tomador. Mas a queda da taxa básica de juros não é a única explicação para os juros menores no crédito, segundo Rafael Schiozer, professor de economia da Fundação Getulio Vargas. Segundo ele, houve também uma mudança no mix dos tomadores de crédito durante a pandemia.
“As estatísticas de concessão também caíram bastante. Isso significa que os bancos estão selecionando melhor seus tomadores e deixando de fora os piores pagadores”, afirma. Com isso, segundo o professor, é possível que os bancos estejam praticando taxas de juros menores já que estão emprestando apenas para clientes cujas chances de inadimplência menores.
Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), diz que a queda das taxas de juros pode ser dividida em dois momentos: antes e depois da pandemia. Antes, segundo Sardenberg, havia um otimismo em relação ao ambiente econômico e, assim, um crescimento do crédito. Com a demanda mais forte e a Selic menor, as taxas já vinham caindo. A pandemia, no entanto, trouxe um impacto inicial “potencialmente altista”, por conta da crise econômica e da chance maior de inadimplência. Mas logo as taxas voltaram a cair devido à queda na demanda.
“Na prática, não houve aumento. Ele foi compensado por um certo movimento dos bancos de tentar acomodar a situação em função da retração, dos fatores de deflação, de queda da atividade e da consequente queda da demanda por crédito por parte da pessoa física”, afirma.
Para Sardenberg, a pandemia trouxe “um aumento muito grande no crédito para pessoas jurídicas e uma redução no crédito para pessoas físicas”, o que também influenciou nas taxas praticadas.
Segundo dados da nota de crédito do Banco Central, as concessões de cinco das oito modalidades analisadas diminuíram em junho (dado mais recente da autoridade monetária) ante janeiro: cheque especial, consignado dos servidores públicos, consignado dos servidores privados, aquisição de veículos e cartão de crédito parcelado. Já as concessões para crédito pessoal não consignado, consignado do INSS e aquisição de outros bens aumentaram.
Embora ainda haja chances de a taxa Selic passar por mais um corte (já que o Copom manteve um certo “suspense” em seu último documento de divulgação), isso não deve se refletir nas taxas dos empréstimos, segundo o professor Schiozer. Para ele, “não será mais 0,25 ponto de corte na taxa que fará com que os juros dos empréstimos caiam de forma significativa".
“A taxa básica pode ter mais influência no crédito para grandes empresas, nas taxas que essas companhias se financiam no mercado financeiro, mas para pessoa física ela é um elemento quase secundário, não é o principal”, afirma.
Ainda segundo Schiozer, apesar de as taxas terem passado por uma queda, este não é necessariamente o melhor momento para se fazer uma dívida. “É claro que essa é uma decisão muito individual. Neste momento, é importante o consumidor avaliar sua capacidade de pagamento no médio e longo prazo, porque é um momento de instabilidade econômica. Ele precisa ver se é realmente necessário fazer aquele empréstimo”, explica.