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Copom discutiu se devia considerar início da redução de estímulo, diz ata
Alguns membros do Comitê de Política Monetária (Copom) sugeriram na reunião da semana passada que o colegiado “deveria considerar o início de um processo” de redução do estímulo “extraordinário”. No entanto, o colegiado concluiu que os benefícios de aguardar novas informações a respeito da pandemia, da recuperação econômica e do quadro fiscal eram maiores do que os custos. Por isso, optou por manter o estímulo extraordinário.
É o que mostra a ata do colegiado divulgada ontem, referente à sua última reunião. Na ocasião, o Banco Central (BC) manteve por unanimidade a taxa básica em 2% ao ano, mas abandonou o “forward guidance” - a intenção declarada pela autoridade de não elevar a Selic no curto prazo.
Segundo a ata, o cenário básico do BC mostra que “as projeções de inflação estão ao redor da meta no horizonte relevante”. Mas os riscos fiscais, presentes no balanço de riscos, “geram um viés de alta nessas projeções, potencialmente justificando trajetória com elevação dos juros anterior à assumida sob esse cenário”.
“Os membros do Copom discutiram o impacto dessa assimetria no balanço de riscos no grau apropriado de estímulo monetário. Em particular, alguns membros questionaram se ainda seria adequado manter o grau de estímulo extraordinariamente elevado, frente à normalização do funcionamento da economia observada nos últimos meses”, diz.
Desde que passou a defender o estímulo extraordinário, em maio do ano passado, o BC observou uma série de mudanças, de acordo com a ata. Foram elas: inversão do choque desinflacionário dos primeiros meses de 2020; reversão da trajetória de queda das expectativas de inflação; e redução da ociosidade da economia, levando a projeção do cenário básico a se aproximar da meta da inflação.
“Por conseguinte, esses membros julgam que o Copom deveria considerar o início de um processo de normalização parcial, reduzindo o grau ‘extraordinário’ dos estímulos monetários.” Ainda assim, mesmo com “alguma normalização” da economia, o Copom acabou concluindo que “o ambiente de incerteza quanto à dinâmica prospectiva das principais variáveis econômicas permanece acima do usual”.
“As próximas divulgações serão muito informativas sobre a evolução da pandemia, da atividade econômica e da política fiscal. Sendo assim, os benefícios de se aguardar essas divulgações para decidir os próximos passos da política monetária se sobrepõem aos custos”, diz. “Por isso, o Copom julgou apropriado manter, no momento, o grau extraordinariamente elevado de estímulo monetário."
A ociosidade da economia foi outro ponto a respeito do qual membros do colegiado apresentaram em algum momento da reunião avaliações distintas. Alguns dos integrantes “refletiram” que números do mercado formal de trabalho “sugerem” que a ociosidade “como um todo tem se reduzido mais rapidamente do que o previsto”. “A maioria dos membros, entretanto, considerou que outros dados do mercado de trabalho não avalizam a conclusão.”
Um ponto de destaque da reunião foi a possibilidade levantada pelo Copom de “reversão” da recuperação da atividade. Segundo o colegiado, os riscos ligados à evolução da pandemia e ao “arrefecimento dos efeitos” dos auxílios criados durante a crise “podem implicar um cenário doméstico caracterizado por mais gradualismo ou até uma reversão temporária da retomada econômica".
Sobre o setor externo, a avaliação é que por ora ele é favorável a emergentes. Para o BC, existe de um lado novos riscos para a atividade econômica e os preços de ativos desses países: as novas variantes do coronavírus e “a recente discussão sobre reflação nos EUA”. Em sentido oposto, estão “amplos programas de imunização” contra a covid-19, nova rodada de estímulos fiscais “em alguns países desenvolvidos” e “a comunicação dos bancos centrais das principais economias desenvolvidas de que os estímulos monetários terão longa duração”. “Por ora, a resultante desse conjunto de fatores é um ambiente favorável às economias emergentes”, diz.