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Como o Rappi quer ser um banco digital e se consolidar como ‘superapp’

Fonte: O Estado de S. Paulo - 27/01/2021 às 02h01

Nos primeiros dias de 2021, o Rappi anunciou a criação de um braço financeiro, o RappiBank. A peça é fundamental na jornada do aplicativo, que tenta emular na América Latina o modelo de “superapp” – formato popular na China que se refere a uma plataforma ampla, com oferta de variados e diferentes tipos de serviços.
 
A fintech do Rappi chega em meio a uma disputa intensa no setor. Algumas das principais startups brasileiras são fintechs, incluindo Nubank, Creditas e Neon – nos primeiros nove meses de 2020, empresas do setor receberam aportes que somaram US$ 939 milhões, segundo dados do hub de inovação Distrito. Além disso, startups de outras áreas também já começam a oferecer produtos financeiros, como a Loft. 
 
O RappiBank começará com três tipos de produtos: crédito para capital de giro, antecipação de recebíveis para pessoas jurídicas e cartão de crédito para pessoas físicas. O primeiro já está disponível. Em entrevista exclusiva ao Estadão, João Paulo Félix, presidente do RappiBank, fala sobre os motivos que levaram a gigante embarcar nesse setor, a concorrência com outras gigantes e as ferramentas que pretende usar para se diferenciar. Confira os melhores momentos.
 
Por que o Rappi decidiu abrir um braço financeiro?

A gente quer ser o super app da América Latina. Estamos sempre buscando ouvir o feedback do nosso ecossistema, sobre o que falta nessa experiência. E produtos e serviços financeiros, via de regra, sempre aparecem na lista. Do ponto de vista do aliado, CNPJs que, de fato, vendem na nossa plataforma, é fácil entender o porquê. Uma empresa precisa de capital de giro, de algum suporte financeiro, principalmente no momento que o mundo vem passando. Do lado do usuário, ele obviamente tem as suas necessidades - ele quer fazer uma melhor gestão da sua vida financeira, quer cada vez mais ter oportunidades de economizar ou poder comprar um pouco mais. 
 
A decisão de lançar o RappiBank tem alguma influência da pandemia? 

Produtos e serviços financeiros são pauta do Rappi já há alguns anos. Quando estávamos definindo os nossos primeiros produtos, obviamente nos atentamos ao contexto, que é um momento difícil para grande parte de empreendedores no Brasil. Portanto, olhamos para a demanda por produtos PJ, que dessem crédito para os nossos parceiros continuarem crescendo. Colocou na frente produtos de capital de giro e antecipação de recebíveis, levando em conta todo esse contexto. Para a pessoa física, da mesma forma, também estamos falando de um produto de crédito, que oferece cashback. Ouvir o ecossistema é fundamental. Se tivéssemos, por exemplo, lançado um produto de investimentos antes de um produto de crédito, nós estaríamos desconectados desse ecossistema. Não é o momento para produtos de investimento e, sim, de crédito. 
 
Em que medida a criação do RappiBank é uma maneira de fortalecer o sistema de delivery no Rappi? A quantidade de opções no app diminui quando restaurantes fecham.  

É fundamental para a existência do RappiBank que o ecossistema do Rappi continue forte - o segmento de delivery é o core business da organização. Quanto mais parceiros a gente tem dentro do nosso ecossistema, melhor para o nosso cliente e quando mais cliente temos mais interessante fica o ecossistema para os nossos parceiros. Então é um ciclo virtuoso que queremos criar aqui. Produtos e serviços financeiros são um catalisador para que a gente consiga esse tipo de resultado.
 
Vocês querem ocupar o espaço de outras fintechs grandes, como Creditas e Neon?

Todos estamos oferecendo produtos e serviços financeiros. Diferentemente de outras empresas que estão atuando em mar aberto, estamos focando no nosso ecossistema. Acho que a gente vem a somar nesse segmento. O que nos diferencia dessas outras opções é o tipo de produto que estamos oferecendo para um usuário que ninguém conhece melhor do que a gente. Nós queremos ser o melhor banco para o nosso aliado e para o nosso usuário.
 
Quais ferramentas vocês têm para conhecer as necessidades dos parceiros que uma fintech de mar aberto não tem?

O que nos dá a possibilidade de sermos a melhor opção é esse relacionamento que a gente tem em diversas frentes. Hoje, o Rappi é uma plataforma extremamente rica em se tratando de informações relevantes. Então, até no processo de definição de que tipo de produto vamos lançar e em que prioridade, e com quais características, a gente olha para essas informações para identificar o que faz mais sentido ou não. Isso é difícil o mercado ter. Se você olhar, o mercado financeiro no Brasil, principalmente as fintechs, já estão fazendo uma mudança para virar marketplace também. Nós nascemos como marketplace e estamos agregando produtos e serviços financeiros. A gente está em uma posição melhor do que outros players do mercado para entender e oferecer produtos - desde o desenvolvimento, passando por característica, até a entrega e suporte. É um ciclo inteiro de relacionamento. 
 
Não é difícil entender que vocês consigam olhar para os parceiros em um nível macro e ofereçam o que eles precisam. Isso funciona também no nível individual? É possível identificar melhores juros, por exemplo?

Sem dúvidas. Quando um parceiro faz um pedido de crédito, a gente avalia esse risco agregando informações tradicionais de mercado, como birôs de crédito, mas também adicionamos diversos componentes exclusivos e específicos desse nosso relacionamento. Nosso processo de precificação de risco é melhor que o do mercado. Portanto, conseguimos ser mais agressivos em se tratando de taxas que cobramos dos nossos parceiros. 
 
Parece que existe um movimento de “fintechzação” entre as startups brasileiras. Ou seja, todas acabam fazendo o movimento de oferecer produtos e serviços financeiros. Esse é o caminho do mercado?

Eu acho que o caminho é a especialização. Acredito de verdade no termo “embedded fintech”. Acho que empresas com uma boa base de usuários e parceiros estão em uma excelente posição para oferecer produtos e serviços financeiros, sejam elas empresas tradicionais ou empresas digitais. Você tem exemplos de grandes varejistas que têm um cartão há muitos anos. Então, é um modelo que já é testado. Nas empresas digitais, acredito que não serão todas que irão desenvolver tudo dentro de casa. Existem diferentes opções para criar esses produtos. A longo prazo, o questionamento seria se, de fato, todas irão conseguir coexistir tendo em vista que o cliente tende a ser o mesmo. Eu diria que é uma pergunta para os próximos capítulos.
 
No ano passado, o Rappi recebeu um aporte de US$ 300 milhões sem fazer barulho. Esse aporte tem alguma conexão com o surgimento do RappiBank? 

Foi bem low profile, sim. Mas a gente achou que não fazia sentido anunciar um aporte de milhões passando o pico da pandemia. Não quisemos fazer barulho num momento com um monte de gente perdendo o emprego.
 
Basicamente, o valor que entra é para investir na operação como um todo.
 
De forma geral, qual é o cuidado que o Rappi toma para não passar a impressão de que está atirando para todos os lados sem executar bem aquilo que já faz? 

Quando a gente lança uma vertical no mercado, nós trazemos times de gestão, focados nessas verticais, que entendam o negócio, que tenham relacionamentos no mercado, que sejam provados. O Rappi entra para ganhar. Foi assim com as primeiras verticais, tem sido assim com as verticais novas. Com serviços financeiros, essa é uma preocupação nossa sem dúvidas. A gente quer oferecer o melhor produto e o melhor serviço para os nossos usuários, independente da vertical em que estamos atuando. Continuaremos crescendo, adicionando novas verticais na medida do tempo, sempre com esse cuidado de ter o melhor produto, o melhor serviço, com a melhor experiência. Se a gente se propõe a ser o super app da América Latina esse tipo de movimentação é natural, mas obviamente a gente precisa manter níveis de qualidade acima da média. 

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