Clipping
Com Selic em alta, cresce a atração por crédito privado
Fonte: Valor Econômico - 12/08/2021 às 11h08
Depois de sofrerem com a remarcação de preços e com os juros na mínima histórica, resultando em rentabilidades negativas e em uma corrida por resgates no início da pandemia, os fundos de crédito privado voltaram ao radar do investidor. O ciclo de alta da Selic, combinado a prêmios de risco atrativos, explicam a captação líquida positiva em muitos fundos desde o primeiro trimestre. Em paralelo, as captações continuam aquecidas. As emissões de debêntures, por exemplo, somaram R$ 99 bilhões no primeiro semestre, o equivalente a 82% do captado ao longo de todo o ano de 2020, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
O Fundo BV Crédito Ativo viu o patrimônio crescer de R$ 53,8 milhões em dezembro de 2020 para R$ 70 milhões em junho de 2021. “O grande atrativo para fundos de renda fixa, como os fundos de crédito, é a alta da Selic. E o ciclo de aumento ainda não terminou, o que aponta que o fluxo de recursos continua para essa classe nos próximos meses”, diz Luiuiz Sedrani, superintendente de investimentos da BV Asset.
A estratégia do fundo é diversificar a carteira em setores (a exemplo de varejo, energia elétrica e concessionárias), emissores e produtos (debêntures e FDICs). “Buscamos bons emissores com bons spreads de crédito. A busca é, também, por um duration um pouco mais móvel, tentando aproveitar o que acreditamos que deve ser o fechamento ou a abertura dos spreads”, afirma. O fundo entregou retorno de 179% do CDI no ano até 23/7.
A estratégia do Capitânia Premium é alocar entre 70% e 80% em títulos privados (debêntures, CRIs, FIDCs) e o restante em títulos públicos federais pós-fixados. A diversificação é a marca do veículo, com uma cesta que reúne de 70 a 80 papéis - nenhum título tem mais de 2% de patrimônio do fundo - sendo 43% AAA. “É um fundo estruturalmente de mais baixo risco, voltado ao investidor de varejo, e uma forma interessante de o investidor testar nossa habilidade em gestão de crédito privado e seus derivados”, diz Arturo Profili, sócio da Capitânia Investimentos.
Com R$ 600 milhões em patrimônio líquido e meta de retorno de CDI + 1,5% a 2% ao ano, pós-custos, o Premium aloca em papéis de alta liquidez. “São papéis com liquidez acima da média, sendo que a carteira gira em torno de 50% ao longo do ano. Buscamos gerar um resultado adicional comprando o papel a uma certa taxa e acreditando que podemos vender um pouco melhor ao longo dos próximos 12 meses”, afirma.
Geridos pela Captalys, os fundos Orion e Panorama investem em direitos creditórios e têm estratégias semelhantes, pautadas em ativos ilíquidos e na diversificação das carteiras. São três eixos principais: pulverização de riscos (nenhuma posição representa mais de 2% de risco ao investidor), diversificação setorial (mais de 80 setores econômicos estão representados nos créditos) e diversificação de produtos (antecipação de recebíveis, capital de giro, financiamento imobiliário etc). Os fundos nunca fecharam um mês abaixo do CDI.
“Os três eixos de diversificação trazem resiliência e baixa volatilidade para a carteira. O investidor hoje não consegue acessar uma carteira de crédito tão diversificada dessa forma. É o que entregamos a eles”, diz a CEO Margot Greenman. O que diferencia os fundos é a liquidez do direito creditório - quanto mais ilíquido, maior o prêmio. O Orion oferece um prêmio de risco maior (busca retorno de CDI + 6% a 8% ao ano) e o Panorama um prêmio menor (CDI + 3% a 5% ao ano).
Já o Jive Distress II, da gestora de ativos alternativos Jive Investments, aposta exclusivamente nos chamados ativos distressed - créditos em atraso, imóveis com algum tipo de problema jurídico ou de posse ou ações judiciais com discussão sobre o valor devido. “Entendemos que existem oportunidades de comprar ativos que têm bastante valor intrínseco, mas que demandam uma atuação direta do gestor para que esse valor seja destravado e liberado ao investidor”, explica o sócio Guilherme Ferreira.
Criado em março de 2018 e fechado para captação desde então, o fundo já finalizou o investimento do capital e começou a etapa de desinvestimento. Hoje, tem um patrimônio de quase R$ 2,4 bilhões alocado em classes de ativos que incluem direitos creditórios, créditos “inadimplidos” (que não foram pagos), imóveis e créditos imobiliários e ativos judiciais (precatórios e pré-precatórios). “É um fundo com prazo de duração e término previsto para 2024. Ele nasce com um compromisso de investimento, investe durante três anos e depois devolve o capital mais um retorno ao investidor”, diz. Desde o início, já entregou retorno de 361% do CDI.