Clipping
Com alta de 3,7%, serviços superam expectativas
Com o isolamento social mais relaxado no país, os serviços surpreenderam em fevereiro ao crescer 3,7% frente a janeiro, feito o ajuste sazonal, enquanto a mediana das estimativas de economistas era de alta de 1,3% no período.
Foi o nono aumento consecutiva no dado, que devolveu o faturamento real do setor a níveis pré-crise, uma sequência que deve ser interrompida em março por causa do recrudescimento da pandemia e das restrições à circulação para controlar a disseminação do coronavírus.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve crescimento nas cinco atividades investigadas pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) com destaque para transporte e correios (4,4%), serviços profissionais e administrativos (3,3%) e outros serviços (4,7%). Os serviços às famílias, com uma forte alta de 8,8%, foram um capítulo à parte. A expansão ocorreu após dois meses de queda e o segmento é o que ainda está mais distante de recuperar as perdas da pandemia. Na comparação com fevereiro do ano passado, registrara queda de 28,1%.
de caráter mais presencial, e por isso têm mais dificuldade em ganhar tração por causa do distanciamento social, diz Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa no IBGE, que chama atenção para o caráter heterogêneo da recuperação entre os segmentos do setor de serviços. Apenas seis de 12 recuperaram-se a níveis pré-pandêmicos até fevereiro. O setor ainda tem um longo caminho para percorrer. A queda em 12 meses, de 8,6%, é a maior da série histórica, iniciada em 2012.
Por outro lado, ele aponta que o crescimento do comércio digital ajudou a movimentar transporte, armazenagem e correios, que cresceu 4,4% em fevereiro e atingiu o maior nível da série histórica. “Há uma mudança de paradigma das empresas, que se adaptaram ao e-commerce. As parcerias entre pequenas e grandes empresas em plataformas de marketplace também são um movimento importante para entender a história desse segmento. As empresas de menor porte passam a ter acesso a um número maior de pessoas”, observa Lobo.
O crescimento do setor de serviços em fevereiro mostra que a atividade econômica vinha bem no início do ano, com dados mais fortes que o esperado em transporte e correios e serviços técnicos e administrativos afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. A gestora esperava queda de 4,1% na comparação com fevereiro do ano passado, o dobro do informado pelo IBGE. Para março, a previsão é de recuo de 2,7% no confronto anual, por causa da volta das restrições à circulação de pessoas.
Alguns indicadores apontam para retração da atividade em março, como Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) que recuou a 44,1, de 47,1 em fevereiro, maior queda desde julho de 2020, segundo a IHS Markit. E o índice de confiança do setor, da Fundação Getulio Vargas, que caiu 5,6 pontos em março, para o menor nível desde junho de 2020.
Rodolfo Margato, economista da XP, estima queda de 4,2% nos serviços em março, na comparação com fevereiro, e recuo de 0,8% sobre o mesmo período do ano passado. Se essas estimativas se realizarem, diz, os serviços devem crescer 2% no primeiro trimestre sobre o quarto trimestre do ano passado - que deixou carregamento estatístico positivo de 1% -, mas recuar 2,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
A MCM Consultores observa que índices de mobilidade de fontes como Google, Apple, Waze e Moovit, padronizados pela própria consultoria, mostram que a circulação de pessoas recuou sensivelmente no país em março e manteve tendência de queda ou estabilidade nos primeiros dias de abril. “A adesão ao isolamento ainda ficou aquém de abril e maio do ano passado, mas comparável a agosto [de 2020] para a maioria dos indicadores”. A consultoria estima queda de 3,1% para o setor de serviços no mês passado, na comparação com fevereiro.
O cenário da LCA Consultores é de queda de 2,8% em março e também de algum recuo em abril, na série com ajuste sazonal. “O impacto sobre a atividade econômica será forte. Não como no início da pandemia no ano passado, mas ainda forte. O setor de serviços vai dar alguns passos para trás”, afirma o economista Lucas Rocca.
O setor deve começar a reagir a partir de maio, com o avanço da vacinação contra covid-19 para os grupos prioritários, prevê. “A retomada plena do setor de serviços depende do controle da pandemia e do avanço da vacinação.