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Cenário piora e Bradesco corta projeção do PIB
A queda da circulação de pessoas devido ao agravamento da pandemia afetou a atividade no começo do ano, ainda que de forma menos intensa do que no pior momento de 2020, na avaliação do Bradesco. Em revisão de cenário divulgada ontem, o banco informa que passou a esperar expansão de 3,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2021, ante 3,6% anteriormente.
De acordo com o departamento econômico chefiado por Fernando Honorato, os dados recentes apontam para desaceleração expressiva da atividade econômica em março, por causa da redução da mobilidade.
“Mesmo a indústria, que tem registrado um desempenho melhor do que outros segmentos, começa a sentir os impactos das restrições, além do já conhecido quadro de falta de insumos”, afirmam os economistas do Bradesco em relatório. Para eles, essa conjuntura deve persistir entre abril e maio, o que vai impactar o comportamento da atividade no início do segundo trimestre.
No curto prazo, o banco pondera que a perda de tração da economia causada pela segunda onda da pandemia deve ser mais fraca do quer a observada entre março e abril do ano passado, uma vez que houve uma “curva de aprendizagem”, com empresários e consumidores mais adaptados às medidas de distanciamento social.
O cenário-base da instituição conta com redução dos casos de covid-19 a partir de maio e vacinação de ao menos todo o grupo de risco no primeiro semestre. Se não houver atraso significativo na oferta de doses, afirma o Bradesco, o país deve acelerar o atual ritmo de imunização, de cerca de 500 mil em março para 1 milhão a 1,6 milhão de pessoas por dia de abril a junho.
Assim, avalia o banco, a atividade deve mostrar retomada após o esperado relaxamento das restrições à circulação, no segundo semestre.
Para o departamento econômico, a aceleração no processo de vacinação, as boas perspectivas para o crédito e o mercado de capitais, o maior crescimento da economia mundial e a manutenção de estímulos monetários e fiscais, ainda que em menor grau, favorecem a recuperação da economia.
“Entretanto, a retomada pode não se materializar pelo aumento das incertezas fiscais”, pondera o Bradesco, que diz estar monitorando as chances de extensão de programas emergenciais fora das regras fiscais e a sinalização negativa emitida pela aprovação do Orçamento de 2021 com despesas obrigatórias subestimadas.
“Nosso cenário-base prevê a manutenção do teto de gastos, mas a incerteza em relação à trajetória da dívida pública tem afetado o câmbio e os juros.”
Essa deterioração das condições financeiras, se continuar, terá efeito adverso sobre a inflação e o crescimento econômico, alerta o Bradesco, que também reviu suas estimativas para a dinâmica de preços, para o dólar e para a Selic.
A taxa de câmbio prevista para a média de 2021 passou de R$ 5,30 para R$ 5,60. Sem estabilização do câmbio, o banco avalia que a inflação continuará pressionada e passou a projetar aumento de 5% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano. O número anterior era 3,9%.
Por fim, a projeção para a taxa básica de juros ao fim de 2021 foi elevada de 4% para 5,25% ao ano. A resposta da política monetária reflete a piora do balanço de riscos para a inflação, apontam os economistas do Bradesco.
Segundo o banco, todas as novas estimativas assumem que as regras fiscais serão cumpridas, “além do manejo apropriado da pandemia, que possibilitará a reabertura de boa parte dos setores ainda neste semestre”.