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Caixa reduz taxa de financiamento imobiliário, na contramão da Selic
Na contramão do ciclo de altas da taxa básica Selic, a Caixa anunciou ontem um corte de 0,4 ponto percentual na taxa de juros de uma de suas linhas de crédito habitacional. Segundo o presidente da instituição financeira, Pedro Guimarães, a queda foi somente um “primeiro passo” na estratégia. “Isso aqui foi uma primeira calibrada”, disse.
A queda valerá para a linha de crédito imobiliário atrelada à poupança, com a taxa mínima passando de 3,35% ao ano mais o rendimento da poupança (SBPE) para 2,95% ao ano mais o rendimento da caderneta. As contratações com essa taxa terão início em 18 de outubro.
Sem mencionar o nome dos concorrentes, Guimarães afirmou que dois bancos estavam cobrando, em linhas semelhantes, taxas de 2,99% ao ano - abaixo do que vinha sendo praticado pela Caixa.
“Nem acho que faz sentido matematicamente, porque a gente tem um custo [de captação] muito menor do que qualquer um”, disse. Já o corte anunciado pela Caixa, segundo ele, “faz todo o sentido matemático”. Isso porque o spread da instituição, que é a diferença entre a taxa cobrada do cliente na ponta e o custo de captação, teria aumentado com a elevação da taxa básica de juros. “Quanto maior a taxa Selic, sem mexer no resto, maior é o ganho de todo banco que tem mais captação, em especial captação barata”, justificou.
Atualmente, a Selic está em 5,25% ao ano. O Banco Central (BC) indicou nova alta de um ponto percentual para a reunião da semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado também afirmou após seu último encontro que considera “apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro” - ou seja, com efeito restritivo na atividade econômica para combater a inflação.
A mediana das estimativas de consultorias e instituições financeiras para a taxa básica no fim de 2021 e 2022 está em 8% ao ano, segundo o último Boletim Focus.
O evento organizado pelo banco marcou os R$ 300 bilhões de crédito habitacional contratados desde que Guimarães assumiu a presidência do banco, no início de 2019. Antes da apresentação realizada por ele, houve a execução do hino nacional e falas elogiosas à atuação recente da Caixa, feitas por representantes da construção civil, como Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Ainda que todo o alarde da Caixa sobre o corte de taxa no crédito imobiliário tenha se limitado à redução do “spread” da linha atrelada à poupança, talvez o maior impacto da nova estratégia do banco estatal para o segmento venha do que não fez. A instituição pública manteve as taxas das demais modalidades de financiamento imobiliário, o que também vai na contramão dos bancos privados.
Com isso, segundo dados da plataforma Melhortaxa, a taxa média das operações da Caixa liderou, em setembro, a lista do menor custo entre as maiores instituições financeiras para a linha de crédito imobiliário que inclui a variação da taxa referencial (TR), a mais tradicional do mercado. A taxa média efetiva do banco estatal ficou em 7% ao ano em setembro, até o momento, quase um ponto percentual abaixo do segundo colocado, o Banco do Brasil, que ofereceu 7,95% no período - no BB a taxa mínima está em 6,85%.
A taxa atual praticada pela Caixa está 1,5 ponto percentual abaixo da linha do Bradesco, 1,3 ponto menor que a do Itaú e 1,99 ponto a menos que a do Santander nos empréstimos habitacionais com TR. Essa diferença se explica porque os bancos privados vêm repassando, ainda que parcialmente, a alta da Selic para os contratos. A rodada mais recente de reajustes foi anunciada nesta semana.
O Santander subiu a mínima na linha com TR de 7,99% ao ano para 8,99%, enquanto Bradesco passou a ter taxas a partir de 8,50%. O Itaú reajustou seu piso dos empréstimos para compra de imóveis de 7,30% para 8,30%.
O maior banco privado do país, no entanto, teve a mesma iniciativa de reduzir o spread da modalidade atrelada à poupança antes da Caixa. No início da semana, o Itaú diminuiu a taxa de 3,45% mais a variação da caderneta para 2,99% mais o juro da aplicação tradicional. O Bradesco, que já cobrava os mesmos 2,99% manteve o spread.
Segundo o executivo de um grande banco ouvido pelo Valor, os movimentos recentes de ajustes já acomodam eventuais elevações da Selic até o fim do ano. As instituições privadas, disse a fonte, vão continuar aumentando as taxas se a Selic subir mais que o esperado, mesmo com eventual perda de participação de mercado. “Não compramos ‘market share’, preferimos dar um bom retorno aos nossos acionistas”, disse.