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Caixa prepara marketplace para turbinar banco digital antes de IPO
A última parcela do auxílio emergencial foi depositada em dezembro a milhões de brasileiros, mas a Caixa Econômica Federal não quer que o aplicativo criado para distribuir o benefício, o Caixa Tem, caia em desuso. A instituição – que aguarda aval do Banco Central (BC) para transformá-lo oficialmente em um banco digital e depois abrir seu capital – tem corrido para acrescentar uma série de novas possibilidades ao cliente, como a de receber indenizações do seguro obrigatório para acidentes de trânsito (DPVAT), anunciada nesta segunda-feira. Outro item no pacote, como antecipou o Broadcast em seguida, é um marketplace, espaço online onde vários lojistas podem vender seus produtos.
Com os cadastros que foram feitos para distribuição do auxílio e também para facilitar o saque emergencial do FGTS, o Caixa Tem chegou a 2021 com 105 milhões de contas criadas, uma base de fazer inveja a qualquer fintech. “É uma operação inigualável”, disse ao Broadcast o presidente do banco público, Pedro Guimarães.
Como parte do esforço para turbinar o aplicativo, a Caixa assumirá a gestão e o pagamento do DPVAT, destinado a indenizar vítimas de acidentes de trânsito. Quem for receber o recurso terá de ter uma conta digital no Caixa Tem, que será criada gratuitamente e automaticamente pelo banco, gerando um mercado potencial maior para o braço digital que a Caixa quer criar.
“O DPVAT faz cerca de 600 mil pagamentos por ano. É claro que muitas dessas pessoas já terão a conta digital do Caixa Tem, mas, em geral, quem sofre algum acidente de carro, de moto ou de caminhão costuma ter um poder aquisitivo maior e vários deles não receberam o auxílio ou não fizeram o saque emergencial do FGTS. Seriam novos clientes”, afirma Guimarães, que espera que o DPVAT, sob a gestão da Caixa, experimente uma redução do número de fraudes.
Com o seguro, o presidente do banco vê também a possibilidade de realizar vendas cruzadas, por meio da oferta de outros produtos aos novos clientes. “As pessoas que têm carro, moto ou caminhão, podem também ter seguros, ou talvez queiram fazer investimentos, e nós teremos”, explica o executivo.
É neste sentido que está em discussão a criação de um marketplace, em que lojistas aprovados pela Caixa poderiam vender produtos pelo aplicativo, numa espécie de shopping virtual, função que alguns bancos digitais do setor privado, como Inter e o C6 Bank, já disponibilizam. Segundo Guimarães, os modelos existentes no mercado podem ser replicados pelo Caixa Tem, que teria como diferencial a base de 105 milhões de clientes, equivalente à metade da população brasileira, e uma rede física que só não está presente em quatro dos 5,5 mil municípios do País. “Ninguém tem a nossa capilaridade”, afirma.
Estágio avançado. A Caixa tem sido procurada por lojas e tem conversas adiantadas com várias delas, desde comércios de ferragens até grandes operações de varejo, que teriam o apoio dos 25 mil pontos da rede física do banco. Como exemplo, Guimarães citou o relacionamento entre o banco e o setor de construção civil, por meio do programa Casa Verde e Amarela, antigo Minha Casa Minha Vida. “Nós financiamos 99,9% desses imóveis. Quem é o banco que você acha que tem relação com as pequenas lojas de ferragens?”, disse.
A ideia é lançar o marketplace antes da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês). Outras três novas operações devem ser anunciadas em até 45 dias, afirma Guimarães, entre as quais o programa de microfinanças, esperado para o fim de março, com empréstimos de R$ 500 a R$ 2 mil. Todas as iniciativas se propõem a turbinar o Caixa Tem, que chegaria mais robusto a uma abertura de capital.
Quanto ao IPO, Guimarães prefere não dar prazo e afirma que primeiro terá de receber o aval do BC para formalizar a transformação do aplicativo em um banco digital. Garante também que não fará nenhuma joint venture com fintechs por enquanto. Se acontecer, seria apenas depois da listagem em bolsa.
Enquanto isso, ele acredita que o aplicativo cairá no gosto do usuário mesmo após o fim do auxílio. Recorre, como argumento, ao número de chaves cadastradas para uso do Pix, sistema de pagamentos instantâneos lançado em novembro passado pelo BC. Até o momento, estima Guimarães, são 16 milhões de CPFs cadastrados, um sinal, segundo ele, de que o aplicativo tem sido usado para transações de rotina.