O BV (ex-Votorantim) e o Google Cloud anunciam nesta segunda-feira uma parceria de longo prazo voltada à inovação em produtos e serviços financeiros no contexto do open banking.
 
O acordo é o primeiro desse tipo anunciado pela companhia americana no país com uma instituição financeira. O Google Cloud é o braço da holding Alphabet, controladora do Google, voltada a tecnologias na nuvem.
 
“A proposta é unir forças e contar com a tecnologia do Google Cloud para alavancar ainda mais o que o BV já vem fazendo no mercado. Eles, agregando conhecimento de inteligência de dados e tecnologia, e nós, com a expertise de crédito e outros produtos financeiros”, afirma Guilherme Horn, diretor de estratégia e inovação do BV, em comunicado antecipado ao Valor.
 
Executivos do BV não concederam entrevista porque o banco está em período de silêncio relacionado a seu processo de IPO.
 
“Vamos oferecer nossa tecnologia para o processo de transformação digital que o BV já vem fazendo”, afirmou Marco Bravo, chefe do Google Cloud no Brasil, em entrevista ao Valor.
 
A parceria se baseia no uso intensivo de ferramentas de dados e inteligência artificial para desenvolver novos produtos e serviços nas áreas de crédito, investimentos e pagamentos; facilitar a distribuição deles para parceiros por meio de APIs (interface de compartilhamento); e pensar em inovação.
 
Com isso, o BV busca de forma mais imediata melhorar a assertividade de suas operações de crédito e incrementar o chamado “cross-selling”. Porém, reelaborar modelos de negócios e criar produtos novos também são objetivos do acordo.
 
Num exemplo hipotético de uma aplicação simples, a instituição poderia cruzar dados da base para identificar se o cliente que financiou a compra de um carro elétrico seria também um tomador de crédito para instalar equipamentos de energia renovável.
 
Equipes do Google Cloud e do BV formarão grupos de trabalho a partir desta semana. O acordo tem semelhanças com o que foi anunciado em dezembro pela companhia americana com o Deutsche Bank, que prevê o desenvolvimento de serviços financeiros na nuvem e a coinovação.
 
O BV já tem parte de seus sistemas armazenados em nuvem do Google Cloud, embora seja também usuário da AWS (Amazon) e da Microsoft.
 
Com foco originalmente no financiamento de veículos e no crédito a empresas, o banco se transformou, nos últimos anos, em um “hub” de produtos financeiros próprios e de terceiros. O BV estabeleceu uma série de parcerias com fintechs. Dessa forma, entrou em áreas que vão do crédito estudantil ao financiamento de placas solares, adotando um modelo de plataforma aberta mesmo antes da chegada do open banking.
 
Esse posicionamento foi, de acordo com Bravo, um dos atrativos para o Google. “O open banking é uma iniciativa estratégica do BV, e não regulatória”, disse.
 
No entanto, a expectativa do banco e da empresa de tecnologia é que a padronização da infraestrutura de compartilhamento de dados pelo Banco Central multiplique as oportunidades de parcerias para o BV. Segundo Bravo, o Google pode atuar como “uma cola” entre a instituição e as fintechs.
 
Para o executivo, o open banking materializa, no setor financeiro, um processo de abertura pelo qual outras indústrias já passaram, e que resultou benéfico para as empresas que souberam se posicionar. Com o open banking, os efeitos esperados são o aumento da oferta e o barateamento do crédito. “No fim, nosso papel é agregar inteligência para que a instituição financeira consiga reduzir o risco de crédito”, disse.