Clipping
BC cria linha ligada à sustentabilidade
O Banco Central (BC) lançou ontem a dimensão “sustentabilidade” da Agenda BC#, conjunto de propostas de modernização do sistema financeiro. Mais do que colocar em prática medidas com impactos imediatos ou atrair investidores estrangeiros, o objetivo é “dar um norte” para o mercado, segundo o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
“Se as pessoas acompanharem a agenda do BC como um todo, às vezes damos o norte, a direção para onde achamos que o mercado tem que caminhar”, afirmou em entrevista coletiva. Ele citou como exemplo o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos em implantação pela autoridade monetária. “Olha a quantidade de inovação que já foi feita, já foi adiantada.
Uma das medidas anunciadas foi a criação de uma linha de liquidez com critérios de sustentabilidade. A ideia é que instituições financeiras peguem empréstimos com o BC dando como garantia operações ou títulos de crédito privado. Segundo a diretora de assuntos internacionais e gestão de riscos corporativos da autoridade monetária, Fernanda Nechio, a nova linha começará a funcionar nos “próximos meses”.
Outra mudança será a criação de um birô de crédito verde para substituir o Sistema de Operações do Crédito Rural (Sicor), com a primeira fase entrando em vigor no ano que vem e funcionando no modelo de “open banking”. Na prática, serão incorporadas ao birô informações sobre operações de crédito com “características verdes”.
Isso facilitará a securitização de crédito e a emissão de títulos verdes (“green bonds”). A estimativa do diretor de regulação, Otávio Damaso, é que até R$ 200 bilhões em empréstimos anuais sejam afetados pelas mudanças.
“É uma medida de maior envergadura”, afirmou. Uma segunda medida na área rural será a ampliação de até 20% nos limites das operações de crédito com características sustentáveis. Segundo Damaso, a projeção é que o aumento dos limites beneficie até 11% dos usuários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e até 40% dos maiores produtores.
Entre as demais medidas da lista, ainda está a inclusão de “critérios de sustentabilidade para seleção de contrapartes na gestão das reservas e para a seleção de investimentos”. Fernanda afirmou, no entanto, que ainda não há definições sobre “métricas específicas”.
“Todas as alterações de investimentos e gestão de reservas passam pela diretoria colegiada”, disse. “As medidas trazem os riscos climáticos para dentro desse processo decisório.”
Na entrevista, o presidente do Banc Central afirmou que o anúncio estava ligado a uma “missão maior” do que a simples atração de investidores. “Mostrar para o investidor que o BC se preocupa com isso é importante, mas também está ligado a uma missão maior”, disse.
O executivo reforçou que a mudança climática era uma preocupação que já existia dentro da autoridade monetária. “Mas entendemos que era uma preocupação que precisávamos elevar”, afirmou.
Segundo Campos, os anúncios colocam o Banco Central na vanguarda da promoção da sustentabilidade, da mesma maneira que a implantação do Pix e do open banking colocou a autoridade monetária na vanguarda da inovação tecnológica ligada ao sistema financeiro.
“Mas é um trabalho que já vem acontecendo e que não acaba aqui”, disse Campos.
Na abertura do evento, o CEO da BlackRock, Larry Fink, afirmou que o “Brasil pode liderar hoje a luta pelo futuro sustentável”. A empresa é uma das maiores gestoras de recursos do mundo. “Apesar dos esforços, ainda há uma grande diferença entre onde estão as coisas [medidas de combate à mudança climática] e onde as pessoas gostariam que as coisas estivessem" disse.
Para Fink, os fatores ligados a ESG (sigla em inglês que define práticas sociais, ambientais e de governança) serão “integrados em todos os investimentos” nas próximas décadas.
Ex-presidente do Banco da Inglaterra (BoE), do Banco do Canadá e enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para ação climática e finanças, Mark Carney também destacou o papel de vanguarda que o Brasil pode ter no combate às mudanças climáticas.
“Nenhum país tem mais capital natural do que o Brasil”, afirmou. “A transição [para a economia verde] é uma das principais oportunidades do nosso tempo, porque haverá amplos investimentos no Brasil e no exterior.”