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BB avalia fechamento de agência na China
O Banco do Brasil (BB) vem avaliando nas últimas semanas fechar sua agência instalada na China e transferir suas atividades para outra unidade no exterior. O movimento, segundo o Valor apurou, estava sendo preparado para ocorrer ao longo deste ano e se insere em um processo de reestruturação de sua área internacional, que já teve algumas mudanças no ano passado. Cerca de 20 representações no exterior estão em análise.
Apesar de a proposta de fechar a agência de Xangai já estar avançada na área técnica do banco, a situação política atual, com maior estremecimento da relação entre Brasil e China provocada pela família Bolsonaro, ao mesmo tempo em que o país precisa de insumos e da vacina para a covid-19, pode fazer o banco abandonar a ideia de se desfazer da representação naquele país, evitando novos atritos com o gigante asiático.
Procurada, a instituição federal disse que não há decisão tomada. “O BB informa que mantém estudo para rever a atuação de sua rede externa com o objetivo de aumentar a eficiência e nega que haja qualquer decisão de encerrar as atividades de seu escritório em Shangai ou de qualquer outra unidade no exterior”, disse em nota.
A ideia em análise pelos técnicos é a de fazer uma centralização de atividades em algumas unidades fora do Brasil. O esforço, em tese, é para melhorar a eficiência operacional da instituição, que tem buscado elevar sua rentabilidade e capacidade de competição com seus concorrentes privados.
A abordagem em estudo sobre a China é um pouco diferente da que se estava adotando no ano passado, antes da chegada de André Brandão para o lugar de Rubem Novaes na presidência do BB, quando a intenção era de reforçar o papel da representação no centro financeiro chinês. Vale lembrar que Brandão, que entrou no banco em setembro do ano passado, quase perdeu seu cargo na última semana, por conta da decisão de fechar agências no Brasil e fazer um plano de demissão voluntária.
Para além das questões próprias relativas ao negócio do banco, o fechamento da unidade chinesa pode acabar tendo implicações mais amplas para a já conturbada relação entre Brasil e China no atual governo. O país asiático é alvo frequente de provocações por parte do presidente Jair Bolsonaro, sua família e seus aliados mais radicais. A versão final do plano de reestruturação do BB e do eventual fechamento da agência em Xangai, contudo, ainda dependeria de aprovação do comando da instituição. E, provavelmente, do próprio governo, dadas as repercussões políticas.
Fontes da própria instituição estranham o movimento, uma vez que essas representações têm papéis que, com frequência, vão além dos negócios, sendo um deles o suporte para a própria diplomacia. Um interlocutor destaca que a medida pode acabar piorando a situação e por isso os tomadores de decisão no BB adicionaram uma dose extra de cautela que há poucas semanas não haveria em torno do tema.
Instituições concorrentes do BB, como Itaú e Bradesco, não têm representação em Xangai. O primeiro atende a Ásia por meio de seu escritório em Londres, enquanto o segundo tem representação em Hong Kong, território autônomo da China. O enxugamento da rede do BB no exterior começou a ser discutido e teve início ainda na gestão de Paulo Caffarelli, no governo Temer. O foco era identificar e fechar as unidades que não fossem superavitárias, segundo fonte que acompanhou o processo.
Especialista em relações Brasil-China, o professor da FGV Law Evandro Carvalho diz que seria um erro a decisão, se ela for adiante. “Retirar o banco de lá anda na contramão do potencial de crescimento da relação entre Brasil e China”, disse, destacando também a trajetória de crescimento do mercado financeiro chinês e a relevância de ali se estar presente. Segundo ele, um dos problemas da relação entre os dois países é exatamente a pouca presença física do Brasil na China.
Ex-gerente da agência do BB em Xangai e funcionário aposentado do BB, Sérgio Quadros diz que desconhece qualquer movimento de fechamento, mas avalia que, se isso ocorrer, será um erro estratégico do banco e do próprio governo. “A China é nosso maior parceiro comercial. A agência é importante para as relações entre os dois países. Na China, a presença física é importante para se abrir oportunidades de negócios”, disse Quadros, que coordenou o processo de abertura dessa agência naquele país asiático em 2014.