Clipping
Bancos devem ter 1º trimestre forte, mas incertezas persistem
Fonte: Valor Econômico - 27/04/2021 às 11h04
Os grandes bancos brasileiros devem mostrar uma importante recuperação nos resultados do primeiro trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano passado, quando começaram a reforçar as provisões para enfrentar a pandemia. Entretanto, a segunda onda do coronavírus gera incertezas, especialmente pelo impacto que pode ter na inadimplência.
Dados compilados pelo Valor com as previsões de dez casas mostram que Itaú, Bradesco, Banco do Brasil (BB) e Santander devem apresentar um lucro combinado de R$ 19,883 bilhões nos três primeiros meses deste ano, conforme a média das projeções. A cifra representa uma alta de 41,7% em relação ao mesmo intervalo de 2020 e de 0,4% em relação ao quarto
“Acreditamos que a temporada de balanço dos bancos brasileiros deve apresentar boas tendências, mesmo considerando a piora no cenário da pandemia. O crescimento das carteiras vai continuar mostrando uma boa expansão (cerca de 10% na comparação anual), a taxa de inadimplência deve ter apenas uma leve deterioração - a partir de uma base muito baixa - e o custo de risco deve diminuir um pouco”, dizem analistas do UBS em relatório.
Para o Goldman Sachs, a constituição de provisões para devedores duvidosos (PDD) deve ter uma queda anual significativa. A casa destaca ainda que os bancos têm feito esforços de controle de gastos, até mesmo para compensar um crescimento modesto nas receitas e na margem financeira.
Já o J.P. Morgan tem uma visão um pouco menos otimista. A avaliação é que os números do primeiro trimestre devem ser bons, mas se a situação atual da covid-19 persistir, com medidas de restrição em várias cidades, o restante do ano pode ser menos positivo do que se esperava - recentemente, os analistas do banco se reuniram com executivos do setor financeiro. “Apesar da recente piora na pandemia, a vacinação deve começar a ganhar tração a partir de maio. [...] A maioria dos bancos enfatizou que os resultados podem ficar perto do piso dos guidances para 2021, mas que essas metas não precisam ser alteradas.”
A grande dúvida é se os balanços do primeiro trimestre já mostrarão algum indício de deterioração da qualidade de crédito, e com qual intensidade, por causa da segunda onda da pandemia. Executivos das instituições financeiras têm afirmado que a desaceleração da atividade econômica e as novas medidas de isolamento social devem, sim, pesar nos índices de inadimplência, mas não de forma tão intensa quanto se pensava inicialmente. Apesar de os números da doença estarem até piores agora, a circulação de pessoas não diminuiu tanto quanto nos primeiros meses do coronavírus no Brasil.
Os bancos também terão de lidar, daqui para a frente, com o novo ciclo de alta da taxa Selic, deflagrado em março. O movimento tem impacto inicial negativo, já que o reflexo nos custos de funding é imediato, enquanto leva-se tempo para ajustar a margem financeira de crédito, pois a carteira é formada em grande parte por operações prefixadas.
Entre os bancos, o que deve ter a maior recuperação anual no lucro é o Bradesco, com um salto de 84%, segundo a média das estimativas. Para o UBS, apesar de uma leve alta na inadimplência, o custo de risco do banco deve cair. Esse fator, combinado com uma melhora na eficiência, deve levar o retorno (ROE) da instituição financeira para perto de 20%. “O Bradesco reduziu sua folha de pagamento em 6,4 mil funcionários no quarto trimestre e isso deve levar os gastos operacionais a ter uma contração considerável no primeiro trimestre”, dizem os analistas do banco suíço.
Na visão do Bank of America, a redução de despesas e a queda do custo de capital devem ser os destaques positivos do Bradesco no período. “Conforme mencionado na teleconferência do quarto trimestre, as receitas (tarifas e margem financeira) devem se recuperar ao longo do ano, convergindo para o guidance no segundo semestre”, afirma.
Na sequência dos melhores resultados deve vir o Itaú, com alta anual de 71,2% no lucro. “Acreditamos que o Itaú tem sido o banco brasileiro mais proativo em ajustar seu modelo de negócios ao ambiente mais desafiador, ao reduzir custos, realizar aquisições oportunísticas, melhorar o canal digital e reduzir o risco na sua carteira”, dizem os analistas do J.P. Morgam.
O Banco do Brasil deve ter um aumento anual de 18,6% no lucro. “A normalização das provisões e a redução das despesas operacionais do Banco do Brasil devem permitir ao banco apresentar um bom resultado, embora o aumento modesto da margem financeira, riscos legais e maiores provisões para impostos possam ser alguns obstáculos”, destacam analistas do Safra.
No entanto, o destaque do balanço do BB não deve ficar com os números em si, mas com as sinalizações que serão dadas pelo novo presidente. Fausto Ribeiro assumiu o comando do BB no início deste mês, após a saída de André Brandão, e sua indicação foi criticada por conselheiros, que deixaram o banco. Dois vice-presidentes também deixaram os cargos após a chegada do executivo, e mais alterações na administração devem ocorrer.
Em sua primeira comunicação para os funcionários, Ribeiro disse que o BB é de mercado e do Brasil. Na ocasião, disse que assumia o compromisso de conduzir a instituição financeira oferecendo “retornos adequados” aos acionistas, mas ao mesmo tempo atuaria “de forma integrada e sinérgica com as diretrizes” do controlador e em linha com o desenvolvimento do país.
O menor crescimento do lucro provavelmente ficará com o Santander. A questão é que, no primeiro trimestre do ano passado, o banco não chegou a fazer provisões extraordinárias para atravessar a crise, diferentemente dos pares. Por isso, a média das projeções indica agora uma queda anual de 1,3% no lucro. “As provisões devem aumentar na passagem do quarto para o primeiro trimestre, com a qualidade dos ativos mostrando pequenos sinais de deterioração. A margem financeira deve crescer menos que a carteira, devido ao mix mais fraco. Na verdade, a carteira deve desacelerar, devido a crescimentos mais fracos de crédito pessoal e para pequenas e médias empresas”, aponta o Goldman Sachs.
Apesar da visão um pouco mais cautelosa, o J.P. Morgan aponta que os sistema financeiro brasileiro está com níveis de liquidez e capital confortáveis e um índice de cobertura bastante robusto. Em relatório com o sugestivo título de “Permanecendo fortes diante da adversidade”, os analistas afirmam que a inadimplência deve ter um pico na segunda metade do ano, mas provavelmente não haverá necessidade de mais provisões para lidar com a pandemia. Apesar disso, uma reversão desses colchões - como ocorreu com os bancos americanos no primeiro trimestre - não é provável.