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Banco Central estuda adoção de moeda digital
A CBDC, moeda digital que o Banco Central estuda lançar a partir de 2022 deverá ser usada de forma complementar ao Pix - sistema de pagamento instantâneo em regulação pela autoridade monetária. A informação é de Aristides Andrade Cavalcante Neto, chefe-adjunto do departamento de tecnologia da informação do BC. Ele diz que a CDBC (sigla em inglês para central bank digital currency) é uma desmaterialização em meio digital do papel-moeda, cujas emissão e distribuição custam R$ 70 bilhões para a economia.
As CBDCs têm as mesmas características das moedas fiduciárias soberanas - reserva de valor, unidade de conta e emissão por autoridade monetária. O próprio Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco central dos bancos centrais, já tem estudos sobre CBDC.
“Os bancos centrais têm estudado a importância sistêmica dos pagamentos digitais. Há jurisdições com oligopólios como na China, onde operam Wechat e Alipay, ou na Suécia, mercado dominado por um consórcio de bancos. No Brasil, a CDBC será um meio alternativo para o turista estrangeiro usar a moeda local sem precisar abrir uma conta para acessar o o Pix”, explica Cavalcante.
O grupo de trabalho anunciado pelo BC em agosto terá até um ano para elaborar um estudo sobre a viabilidade da emissão de uma CDBC brasileira. “O estudo será submetido à análise da diretoria colegiada para que ela decida os próximos passos; o que não deve ocorrer antes de 2022”, sinaliza.
Por ora, as moedas digitais têm sido usadas mais como ativo financeiro do que como meio de pagamento. Para reverter esse quadro, a Bitfy criou uma carteira multiuso em bitcoins. “A Bitfy permite o uso do bitcoin como moeda no varejo. Temos mais de 23 mil clientes e transacionamos mais de R$ 14 milhões”, diz Lucas Schoch, fundador e CEO da Bitfy.
Após a grande euforia que marcou 2017 - quando o preço do bitcoin passou de US$ 1 mil em janeiro para US$ 20 mil em dezembro -, o mercado de moedas digitais experimentou dois anos desafiadores, enfrentando uma ressaca com um número crescente de fraudes, pirâmides e esquemas ponzi, e com o preço do bitcoin despencando para US$ 3,2 mil em dezembro 2018. Atualmente, o bitcoin está cotado a US$ 10,7 mil (26/9); o ETherium, a US$ 353; e o Bitcoin Cash, a US$ 222; as mais valorizadas entre outras mais de 50 criptomoedas.
Rosine Kadamani, cofundadora e CEO da consultoria Blockchain Academy, diz que agora o mercado caminha para a autorregulação e iniciavas como as stable coins - tokens lastreados em moedas soberanas como o real (BRZ) e o dólar (USDC), e ativos como o ouro - ajudam a reduzir a volatilidade. Há ainda a onda D-Finance (descentralized finance) bancos de base descentralizada em blockchain. E estratégias como a da Kraken Financial - uma das maiores exchanges de criptomoedas que se tornou banco - parecem ser o caminho evolutivo das corretoras.
“Mesmo que o bitcoin tenha nascido para operar fora de regulação, o mercado tem se regulado cada vez mais, o que é um grande paradoxo”, diz. Felipe Sant Ana Pereira, cofundador da Paradigma Education (plataforma que avalia as tendências em criptomoedas e blockchain), observa que o mercado continua explorando limites para fazer uma infraestrutura financeira. “A cada ciclo, há uma série de inovações, inclusive em marcos regulatórios como o americano, que vai permitir que bancos custodiem dinheiro de quem vai emitir stable coins”, diz.
A Mercado Bitcoin lançou stable coins lastreadas em ouro (PAX Gold) e em dólar (USDC), ambas criadas e aprovadas no mercado americano. Reinaldo Rabelo, CEO da corretora, diz que se trata de uma alternativa para operar com esses ativos, cujos mercados tradicionais são muito complexos.
Ele conta que a empresa aproveitou a depressão de 2018 para encontrar pontes com o mercado financeiro e implementar programas de governança e de prevenção à lavagem de dinheiro.