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Baixa oferta e crédito restrito adiam o sonho da casa própria

Fonte: Paraná Online - Tribuna - 01/03/2016 às 09h03

As perspectivas não são muito otimistas pra quem pensa em conquistar a casa própria este ano. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), o setor enfrenta um período de retração e reajuste. A oferta de imóveis caiu, mas os preços subiram e o crédito imobiliário está mais restrito. Conforme agentes do setor, os descontos que vinham sendo dados não serão mais encontrados com tanta frequência em 2016. Imóveis usados ou do Minha Casa, Minha Vida aparecem como alternativas. Segundo pesquisa da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR), em parceria com a Brain Bureau de Inteligência Corporativa, Curitiba fechou 2015 com o menor número de apartamentos novos dos últimos três anos. Em dezembro havia 10,2 mil disponíveis, menor número desde junho de 2014 (12,2 mil).
 
Nos últimos 12 meses, os apartamentos de padrão standard (com preço de R$ 250 mil a R$ 400 mil) tiveram a redução mais expressiva (-27%) na quantidade de imóveis disponíveis pra venda, com 2.452 unidades. O estoque de apartamentos de padrão econômico (de R$ 170 mil a R$ 250 mil) baixou 21%, com 1.509 unidades, e o de studios, lofts e apartamentos de um dormitório recuou 14%, com 2.132. “Com a diminuição das unidades disponíveis, a tendência é de que essas ações de incentivo fiquem cada vez mais raras”, analisa a presidente da Ademi/PR, Aline Perussolo Soares.
 
Otimismo
 
O consultor Marcos Kahtalian, sócio-diretor da Brain, cita que 2015 teve queda expressiva no número de lançamentos, mas, graças aos esforços promocionais feitos pelas empresas, as vendas se mantiveram no patamar de 2014. Pra 2016, a expectativa é que o mercado siga com menos lançamentos. “Esperamos que no terceiro trimestre, a situação politica e econômica se estabilize e os negócios melhorem. O ano deve terminar melhor do que começou, com boas oportunidades de venda. O maior empecilho pro crescimento do setor é a restrição de crédito, que dificulta a vida de quem compra e de quem produz”, analisa.
 
Meio pra recuperação da crise
 
Levantamento nacional da agência Fitch revela que a cada 100 imóveis vendidos entre janeiro e setembro de 2015, 41 foram devolvidos. Para o diretor de Incorporação do Sindicato dos Corretores de Imóveis no Estado do Paraná (Sindimóveis-PR) e diretor de vendas da PDG, Rafael Garcia Camargo, isso se deve às dificuldades financeiras dos clientes, que deve ser amenizada com as atuais restrições na concessão de crédito. Segundo o diretor de Relacionamento com as Entidades do Sindimóveis-PR e Diretor da Apolar Champagnat, Júlio Cesar Cataneo, o mercado está com um grande número de oportunidades pra quem quer adquirir seu imóvel. “Este deve ser um ano de boas vendas pro mercado imobiliário. O setor de imóveis será um dos meios de recuperação da atual crise econômica do Brasil. A retração dos preços fez o mercado ficar mais realista, deixando mais famílias com acesso ao imóvel próprio e aumentando as possibilidades de negócios. Com o estoque em baixa, a construção civil deve voltar a trabalhar em grandes números, e os novos lançamentos prometem agitar o mercado”, ressalta. Para o diretor de Relação Institucionais da Ademi-PR, Marcelo Gonçalves, a redução no número de lançamentos e os atuais descontos mostram a “saúde” do mercado, que se ajusta pra oferecer boas oportunidades e atrativos pros clientes.
 
“A nossa realidade em Curitiba, em 2015, foi melhor do que a média. A expectativa é que este ano, quem quer e pode comprar vai conseguir fazer ótimos negócios. O curitibano, que sempre foi muito criterioso, deve voltar a comprar nos próximos meses”, aposta.
 
Falta imóvel acessível
 
Segundo os especialistas, os imóveis mais vendidos em 2016 devem ser apartamentos usados de dois ou três quartos, com bom acesso à infraestrutura local. Para os imóveis novos, a preferência será por unidades prontas que ofereçam boas condições de compra. Levantamento do portal de imóveis Viva Real revela que 59% das pessoas que procuram uma residência em Curitiba estão dispostas a pagar até R$ 350 mil, mas apenas 40% dos imóveis estão nessa faixa de preço. O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR) João Carlos Perussolo, ressalta que cada nicho se comporta de uma maneira diferente. Os maiores estoques de Curitiba são os de imóveis que custam entre R$ 300 mil e R$ 1 milhão, principalmente apartamentos.
 
“Este segmento recebeu muitos lançamentos feitos por construtoras paulistas nos últimos anos. Por isso a oferta seria maior que a demanda mesmo sem a crise. Já os imóveis de até R$ 300 mil têm mais procura do que oferta. Quem investiu neste setor não tem enfrentado dificuldades. Os mais afetados são os imóveis entre R$ 1 milhão e R$ 4 milhões, cujos compradores esperam para ver como suas empresas enfrentarão a crise nos próximos meses, antes de comprar um novo imóvel”.
 
Restrições de crédito
 
Com as atuais restrições na oferta de crédito, quem pretende financiar um imóvel pela Caixa Econômica Federal, precisa ficar atento às condições impostas pela instituição. No Paraná, imóveis que custam até R$ 650 mil precisam de entrada de 50% para o crédito ser aprovado pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH), com taxa de juro efetiva de 9,45% ao ano. Já as negociações acima de R$ 650 mil, pelo Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), só têm 40% de seu valor financiado pela Caixa. As taxas são de 11% ao ano.
 
Já o Programa Minha Casa Minha Vida teve novas regras definidas em dezembro de 2015. Para a terceira fase, que corresponde às faixas 2 e 3 e com uso de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o limite de renda do beneficiário pode chegar a R$ 6,5 mil. Segundo a Caixa, também foram atualizados os valores dos imóveis a serem enquadrados para financiamento pelas faixas 2 e 3 do Minha Casa Minha Vida. O valor destes imóveis varia entre R$ 90 mil e R$ 225 mil, conforme a localidade. Nesta modalidade, o financiamento pode ser feito em até 30 anos, com entrada de 10 a 20%. As operações dentro das condições da fase 2 do programa estarão disponíveis para contratação até 30 de abril de 2016. O Minha Casa Minha Vida contará com R$ 970 milhões em 2016, dos quais R$ 613,8 milhões para pagamento de obras em curso e R$ 338 milhões para contratação de novas operações de crédito. Em março, quando for lançada a fase 3 do Minha Casa Minha Vida, a prestação mínima vai subir de R$ 25 para R$ 80.

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