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Auxílio com parte fora do teto pode levar Selic a mais de 9%, diz Kawall
A ideia de elevar o Bolsa Família para R$ 400 mensais com parte do valor a ser contabilizada fora do teto de gastos deixa claro o “populismo eleitoral” e pode piorar ainda mais a percepção de risco do mercado e as condições financeiras, o que gera concretamente menos crescimento e mais inflação, com possibilidade de a taxa Selic ficar acima de 9% ao fim do ciclo, diz o economista Carlos Kawall, diretor do Asa Investments.
“O mercado até de certa forma assimilaria um Bolsa Família de R$ 300 com 17 milhões de beneficiários, com a PEC dos precatórios abrindo espaço e uma despesa adicional de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões. Mas agora seriam mais R$ 30 bilhões, com a hipótese de a conta ficar ainda maior. É muito dinheiro, mas não parece significativo no mundo político. Começou com R$ 30 bilhões, agora são mais R$ 30 bilhões e daqui a pouco serão R$ 90 bilhões, 100 bilhões”, diz ele.
A reação dos mercados, avalia, já está sendo negativa e pode piorar ainda mais, embora ainda seja preciso verificar como será o trâmite dessa proposta. O resultado, concretamente, aponta, é menos crescimento e mais inflação. “E coloca uma probabilidade crescente de precisarmos de alta de juros acima de 9% para a Selic ao fim do ciclo.”
Para Kawall, os juros podem chegar a 9,5% ou 10% ao fim do ciclo, caso essa mudança seja efetivada.
Embora não se saiba ao certo qual a parcela do novo benefício ficaria fora do teto, diz Kawall, “está claro que existe a tentação do populismo eleitoral e isso é que está prevalecendo para esses R$ 400. E como isso deve ser tratado em PEC, corre-se o risco de o Congresso buscar um espaço fiscal adicional muito maior, diz o ex-secretário do Tesouro Nacional.
“Fica a sensação clara de que todos os temores de viés populista estão se confirmando. Resta ver qual o limite da equipe econômica, que pode ficar bastante desconfortável”, diz ele.