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Agentes públicos avançam no crédito rural
Em um ano atípico, marcado pela pandemia e pela aversão ao risco do setor financeiro privado, o Sistema Nacional de Fomento (SNF), formado por bancos públicos federais, bancos estaduais comerciais com carteira de desenvolvimento, cooperativas de crédito e agências de fomento, foi responsável por 74% do crédito rural, um ponto percentual a mais que em 2019. Os desembolsos do SNF aos produtores e empresas do campo somaram R$ 153,4 bilhões em 2020, montante 18% maior que os R$ 129,6 bilhões liberados em 2019. Ao todo, os empréstimos ao campo no ano passado foram de R$ 206,4 bilhões.
Proporcionalmente, o maior crescimento percentual de desempenho nas operações foi das cooperativas de crédito, que emprestaram 24% a mais, chegando a R$ 39,6 bilhões. Os bancos públicos, puxados pelo Banco do Brasil, líder de mercado, foram os principais agentes financiadores, com R$ 111,2 bilhões emprestados em 2020. Mais comedidos, bancos privados e sociedades de crédito ampliaram seus empréstimos em 8%, para R$ 52,8 bilhões. Os bancos de desenvolvimento e agências de fomento desembolsaram R$ 2,6 bilhões, com recuo de 11% na comparação com o ano anterior.
Levantamento inédito feito pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) mostra que 79% dos recursos do SNF, ou R$ 138,2 bilhões, foram destinados a pessoas físicas, principalmente pequenos produtores. Mais de R$ 95 bilhões foram para custeio, R$ 44 bilhões para investimentos, R$ 11 bilhões para comercialização e R$ 4 bilhões para industrialização.
Sergio Gusmão Suchodolski, presidente da ABDE, diz que as instituições de fomento mostraram seu “diferencial” no período da pandemia por atuarem com programas “anticíclicos”, capazes de mitigar os efeitos da crise e de colocar em prática as políticas públicas. Segundo ele, os membros do SNF trabalham de forma complementar, integrada e coordenada, o que dá capilaridade ao conjunto de bancos e permite atender às demandas regionais e específicas do setor.
“Temos um poder de desembolso importante. Há parcerias entre nós, sinergia e relação ganha-ganha para atender com capilaridade a execução dos programas de maneira eficiente”, disse ele ao Valor. Suchodolski, que também comanda o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), estreante na operação de recursos equalizados do Plano Safra nesta temporada 2021/22, afirma que o sistema é robusto e que existe uma ação “em cascata”, em que cada ente cumpre seu papel de maneira complementar. “É um grupo bastante dinâmico, há entrosamento, e não concorrência”.
A ABDE reúne 31 instituições financeiras de desenvolvimento, como BB, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os bancos estaduais e regionais, como BDMG, BRDE (região Sul), BRB (Brasília), o Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste. Também integram o grupo as agências de fomento de Estados como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Goiás e São Paulo e as cooperativas de crédito Cresol, Sicoob e Sicredi - estas, com forte atuação na agricultura familiar.
As entidades que compõem o sistema financiaram, por exemplo, 90% do crédito do Pronaf e 85% do Pronamp, maiores programas de crédito rural nacionais, com R$ 28 bilhões e R$ 24 bilhões, respectivamente, no ano passado. Outro destaque são os financiamentos para o programa ABC, de agricultura de baixo carbono, que totalizaram R$ 1,8 bilhão em 2020, equivalente a 82% do total.
“Quando o mercado privado teve atuação bem mais tímida e fechou o acesso ao crédito, o SNF teve um papel ainda mais robusto, alinhando fundos garantidores para poder trabalhar em escala”, afirmou o presidente.