04 de abril de 2011 | 0h 00 Fábio Gallo - O Estado de S.Paulo
Sou aposentado pela Prefeitura de São Paulo, tenho 64 anos e a única renda que temos em casa é a minha: de R$ 6 mil e para sustentar quatro adultos e duas crianças. Estamos com dificuldade em lidar com o orçamento. Já cortamos gastos, mas o salário só é suficiente para comprar remédios, pagar o convênio e a comida. Temos uma dívida no cartão de R$ 15 mil e outra com um médico particular de R$ 5 mil. Já tentei negociar duas vezes com o cartão, mas não obtive sucesso. Gostaria da sua orientação para tentar resolver essa situação.
A situação é difícil, mas sempre há saída. A primeira coisa a fazer é buscar solução melhor para a dívida com cartão porque são os juros mais altos do mundo. Tente obter um crédito consignado, verifique na Prefeitura que você trabalhava ou órgãos ligados aos aposentados e veja se não há algum convênio. Assim, você poderá tro car uma dívida mais cara por outra mais barata. Crédito pessoal no banco que você mantém conta pode ser outra alternativa. De qualquer maneira insista novamente com a administradora do cartão de crédito. Tente a ouvidoria da empresa levando a situação e deixando clara a incapacidade de pagar da forma cobrada. A via judicial para discutir essa dívida é uma alternativa extrema, mas possível. Paralelamente, refaça o seu orçamento familiar e busque outros pontos de economia que permitam aumentar a capacidade de pagamento de parcelas para quitação das dívidas. Isto será também muito útil para que você não entre novamente em situação como a vivida agora.
Há sete anos especulo no mercado de ações via home broker. Estou satisfeito, porque tenho acertado mais do que errado. Até hoje, no entanto, não consegui estabelecer o momento em que devo sair de uma ação. Acompanho o mercado, leio bastante, mas me atrapalho de vez em quando justamente neste momento de venda.
Saber quando ent rar e sair de uma ação é o sonho de todos, inclusive dos profissionais. Assim, não fique decepcionado com você porque isso é algo difícil para todos. Mas existem algumas bases para você gerir melhor o seu patrimônio. A primeira coisa é estabelecer qual o objetivo de sua carteira. A segunda é estabelecer a estratégia de como administrá-la. Por exemplo: referencia-la a um índice de mercado - que é um modelo de gestão passiva. Outro exemplo é estabelecer a estratégia conhecida como investimentos de valor que se trata de conhecer muito sobre as empresas em que pretende investir, acompanhando tudo sobre ela e dar ordens de compra e venda conforme a sua leitura daqueles negócios. Trata-se de um modelo de gestão de longo prazo. Estes são apenas dois exemplos. Mas, uma estratégia que é sempre muito útil em casos como o narrado por você é a técnica conhecida como stop loss. Assim que você comprar a ação marque a perda máxima. Exemplo: o preço de compra da ação foi R$ 10, dê ordem de venda automática a R$ 9,5 (perda de 5%). Caso a ação caia para o valor indicado, a ordem será executada e aquela ação sai de sua carteira. Por outro lado, a partir da compra, caso o valor da ação comece a subir, você deverá alterar a sua ordem de stop para cima. Por exemplo, a ação subiu para R$ 12 e ainda dá mostras de que pode subir mais, a ordem de venda automática seria alterada para R$ 11,50. Caso continue o processo de alta, a ordem deve ser alterada constantemente. Perceba que com essa estratégia as perdas serão limitadas e os ganhos serão realizados.
Minha carteira de investimentos está composta assim: poupança com R$ 5 mil;Tesouro Direto com R$ 10 mil; CDB a 93% do CDI com R$ 10 mil; fundos de ações com R$ 6 mil. Minha capacidade de poupança mensal hoje é de R$ 500. Penso em sacar do CDB para quitar o carro. Vale a pena?
A ideia de quitar o carro com o valor aplicado no CDB parece-me correta. É muito comum as pessoas manterem posições como a sua, mas não é ra cional. Explico melhor. Manter dívidas e, ao mesmo tempo, ter dinheiro aplicado pode dar um conforto psicológico, mas você está perdendo dinheiro porque o custo da dívida é maior do que o ganho das aplicações. O aumento de sua capacidade de poupança será muito positivo e, com maior volume de recursos, você poderá organizar melhor sua carteira. Veja que hoje sua carteira é concentrada em renda fixa e com 20% de ações. Mantenha essa posição em renda variável que está adequada e os valores adicionais poupados você poderá explorar melhor alternativas no próprio Tesouro, como as LFTs que são indexadas à Selic. Embora o Banco Central esteja indicando que o combate à inflação não será tão forte e a conversão para o centro da meta será somente em 2012, os juros no Brasil são altos e continuarão assim.
FÁBIO GALLO É PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV E DA PUC-SP |