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Preocupação com juro nos EUA cria nervosismo nos mercados
04/02/2006 às 18h36
A quarta-feira foi de alvoroço nas Bolsas de Valores, no Brasil e nos Estados Unidos. Depois de acumular uma valorização de 6% em dez pregões, o Índice Bovespa caiu 1,8% ontem, e hoje caiu mais ainda: 3,6%, em parte por realização de lucros, mas também por influência da queda nas bolsas norte-americanas, fruto de preocupação com o rumo dos juros nos Estados Unidos. Foi a segunda maior queda do ano da Bolsa paulista. | |
O risco-Brasil, que no começo da semana chegou a encostar no melhor nível de sua história, 337 pontos, subiu, e hoje já está em 364 pontos (medido pelo banco J.P.Morgan). Quanto mais baixo o risco, maior a confiança dos investidores estrangeiros na economia do país. E a inflação, que vinha numa curva de queda nos últimos meses, deu sinais de que anda querendo voltar. Saiu hoje o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo), que apurou inflação de 0,44% em setembro no município de São Paulo. É a maior taxa desde abril. A Fipe prevê inflação de 0,5% para outubro. De acordo com o economista Marcelo Serfaty, boa parte do nervosismo do mercado nesta quarta foi causado por declarações de autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) na véspera. Três autoridades do Fed afirmaram que não há previsão para o fim do processo de aperto monetário no país. Juros mais altos tendem a afetar os resultados das empresas. Como conseqüência, provocam diminuição de negócios nas Bolsas. Segundo Serfaty, o "tom" do discurso do Fed é que "está ficando mais duro". "Todos os emergentes romperam o raio, chegaram aos níveis mais altos, históricos. Todas as moedas emergentes se apreciaram. Um alerta como esse nesse tipo de momento causa alguma realização. Mas o cenário de pano de fundo aparentemente ainda é confortável. São realizações normais, quando temos uma certa piora do mercado americano." "O que é preocupante é a escolha de Alan Greenspan (o chairman do Fed). Isso ainda não é motivo de pânico, mas certamente vai ser motivo de preocupação mais adiante. O candidato mais popular em voga é Ben Bernanke, que tem um discurso muito generoso para o mercado, para tudo o que é expansivo. Se for Ben Bernanke, mercados ficam mais tranqüilos. Mas, há outros candidatos correndo por fora. Quem nomeia é o Bush. A tendência é que essa indicação acabe acontecendo com certa antecedência para já ir acomodando os mercados." "Nosso Banco Central é o mais ortodoxo do planeta" Serfaty afirmou que considera o Banco Central brasileiro "o mais ortodoxo do planeta". Para ele, o BC conseguiu controlar a inflação, e a alta do IPC da Fipe em setembro já estava "precificada" por causa do aumento dos combustíveis. "A inflação está decepada, ferida de morte", declarou. "Nosso principal problema realmente hoje é a relação dívida/PIB. Hoje, ainda pagamos uma taxa de juros anormal para dívida com duração muito curta. O governo praticamente acabou com dívida em dólar, e agora está alongando a dívida o máximo que pode usando papéis pré-fixados." "O problema desse governo é o micro, que é uma tragédia. Não conseguimos finalizar o marco regulatório , os leilões de projeto de energia nova que estão para sair nunca saem, há problemas de infra-estrutura, saneamento, estradas..." "A única coisa que faria tudo ficar em risco seria uma crise de liquidez lá fora. No meio desse caminho, o que a gente tem aqui no Brasil é um crescimento mediocrizado, e não por culpa do BC. A gente não tem educação, não tem área micro voltada para a infra-estrutura. O arcabouço micro-econômico é medíocre", declarou. "Apesar disso tudo, estamos conseguindo crescer, porque temos uma política fiscal que não é brilhante, mas que também não está atrapalhando. E porque a política monetária e cambial é excelente." Queda dos juros impulsionará o segundo semestre "O ciclo de queda de juros é um grande alavancador para investimento privado. Mesmo que a velocidade seja lenta, vendo que a inflação realmente está morta, mais à frente o resultado aparece. O segundo semestre vai começar a recobrar fôlego", disse. "O crescimento do ano que vem virá mesmo por consumo interno. Os dissídios, todos estão tendo aumento real de salário, isso resulta em muito consumo, que vai ajudar a uma melhoria no crescimento." (Fonte: UOL News) |