Medo da inadimplência está levando empresários a adotar medidas para evitar financiamentos longos no comércio O Norte - PB - Jorge Freitas
Temendo uma explosão da inadimplência, as lojas de varejo já começam a reduzir o prazo de financiamento no crediário. Na contramão da estratégia praticada pelo comércio que usa o crédito mais elástico como arma para atrair as classes de renda menor, as lojas físicas e virtuais do Extra e do Pontofrio.com.br, ambos do Grupo Pão de Açúcar, deverão diminuir o número de parcelas nas vendas para aumentar o capital de giro. "O Grupo Pão de Açúcar mantém seu compromisso em oferecer os melhores preços e modalidades de crédito aos seus consumidores. A partir de um amplo estudo que envolve consumo consciente associado a hábitos e comportamentos de compra, a empresa vem adequando seus prazos de acordo com as necessidades de seus clientes", justificou nota que o conglomerado divulgou no fim da tarde de ontem.
As Casas Bahia, parte do complexo que o grupo está montando para dominar os segmentos de alimentos e eletrodomésticos, informaram que continuam dando preferência para vendas no cartão de crédito, comjuros determinados pelas operadoras dos cartões. No caso de crediários abertos no sistema de carnê, os juros podem variar de 3,5 % a 6,9 % ao mês.
Na opinião do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, o encolhimento dos prazos pode demonstrar uma preocupação excessiva das empresas, pois a elevação da massa real de salários e a fartura de crédito têm estimulado o movimento. "A economia deve crescer bem em 2011 e o endividamento em queda contribui para boas vendas de fim de ano", emendou. Ele reconhece, porém, que o mercado está apreensivo com as indefinições sobre os rumos da taxa de juros, pois uma possível elevação pode encarecer o crédito e frear os negócios.
Combinação
O aumento do consumo d eve-se à combinação da elevação da renda dos brasileiros com o acesso ao crédito, sustentado pelos bancos oficiais. O presidente do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração, Cláudio Felizone, lembrou que os prazos médios depagamento vinham se alongando e alcançaram 540 dias, em lugar dos 506 dias verificados no ano passado, segundo informações do Banco Central.
"Estranho esse anúncio (do Pão de Açúcar), porque o varejo como um todo faz movimento de alongamento dos prazos", afirmou Felizone. O presidente do Provar disse que o aumento da taxa de juros não deverá provocar redução do consumo, porque em ocasiões recentes as vendas permaneceram elevadas mesmo com aumento dos juros. O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oziveira, avaliou que a redução do número de parcelas poderá gerar um impacto negativo no volume de vendas das empresas. O bom mo mento econômico do país e a queda dos níveis de inadimplência para 6% até setembro alongaram os prazos médios. |