Aline Lima | De São Paulo 10/12/2010 Jefferson Dias/Valor
Índio da Costa, do Cruzeiro do Sul: ritmo de concessões e prazos estão mantidos
Quatro bancos de médio porte tiveram suas perspectivas de rating alteradas, ontem, de estável para negativa pela agência de classificação de risco Moody's: BMG, Bonsucesso, Cruzeiro do Sul e Schahin. A mudança de avaliação está relacionada principalmente aos impactos da elevação de capital para a oferta de crédito de longo prazo no varejo, anunciada pelo Banco Central (BC) na sexta-feira passada.
O aumento do compulsório sobre depósitos a prazo, outra medida estabelecida pela autoridade monetária, não afeta essas instituições. Como elas têm patrimônio líquido inferior a R$ 2 bilhões, encontram-se dentro da faixa de isenção - cujo limite de dedução em relação aos depósitos, inclusive, foi ampliado de R$ 2 bilhões para R$ 3 bilhões.
Os bancos em questão têm atuação focada em crédito consignado ou no financiamento de veículos. E foram justamente essas duas operações as mais afetadas pelas recentes medidas. Grosso modo, bancos que concedem crédito por prazo superior a 24 meses terão de dobrar o capital necessário para realizar as mesmas concessões.
Ceres Lisboa, vice-presidente da área de bancos da Moody's, acredita que a adaptação desses bancos aos novos desafios impostos pelas medidas do BC vai passar, de imediato, pela redução da oferta de crédito. Outra possibilidade seria a diminuição do prazo dos financiamentos. "Qual vai ser a proporção disso nós não sabemos", diz. Ceres prevê que os bancos com atuação voltada para o crédito consignado vão sofrer mais para se ajustar a prazos mais curtos do que aqueles especializados em financiamento de veículos. Como existe um limite para o crédito consignado de 30% em relação ao salário do tomador, uma redução de prazo implicará também redução do volume de empréstimo. "O financiamento para veículos é mais flexível. A tendência é que todos os bancos, médios e grandes, reduzam o número de prestações."
O presidente do Cruzeiro do Sul, Luis Octavio Indio da Costa, contesta tais argumentos. "A maioria dos bancos médios tem Basileia folgada. Não existe praticamente desafio nenhum", afirma. O índice de Basileia (que mede a relação entre o capital e o risco das operações) do Cruzeiro do Sul é, atualmente, de 14,7%. Se contabilizada a emissão de US$ 400 milhões de dívida subordinada realizada em setembro, a Basileia subiria para 23%. "Mesmo se assumíssemos a nova regulamentação para toda a carteira de crédito do banco [de R$ 6,5 bilhões], a Basileia cairia para 18%", diz Indio da Costa. "O mais curioso é que a própria Moody's, três meses atrás, deu nota [Ba3] para a nossa emissão e, agora, não leva o rating em consideração", critica ele. A emissão ainda depende de aprovação do BC.
O cenário traçado pelo presidente do Cruzeiro do Sul, ao contrário daquele pintado pela Moody's, até que é bem otimista. Segundo ele, a competição com os bancões de varejo em torno do crédito consignado tende a diminuir, já que o compulsório - que atinge os grandes - vão direcionar os recursos para produtos mais rentáveis, como cheque especial e cartão de crédito. "Como a redução de liquidez tende, naturalmente, a impulsionar os spreads, não tem por que prever uma piora de resultado", explica.
O Cruzeiro do Sul está mantendo, por enquanto, tanto o ritmo de concessões quanto o prazo de até 72 meses. "Até pode haver um encurtamento de prazo, mas isso não é mandatório", diz Indio da Costa. "Dependendo de como o mercado vai caminhar, vamos acompanhar. No pior dos cenários, eu diminuo minha produção."
A mudança de avaliação da Moody's é vista também com reservas por um analista de mercado que não quis ser identificado. O raciocínio é de que o BC agiu para para minimizar o risco de compatibilidade entre o prazo de captação dos bancos e o prazo pelo qual emprestam, além de tentar conter a pressão inflacionária. Hoje, portanto, o risco do sistema é menor do que uma semana atrás.
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