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Bancos já temem uma crise no financiamento de veículos
19/03/2008 às 15h12
jornal DCI 19/03/2008 - Luciana Bruno | |
As preocupações com a forte alta dos financiamentos de veículos nos últimos anos já não se limitam mais a economistas e analistas de mercado. Os bancos já começam a admitir nos bastidores que existe a chance de o País ter um pico de inadimplência dessa modalidade no futuro, devido aos longos prazos de pagamento - que chegam a 99 meses - aliados ao aumento do endividamento das famílias e à crise externa, que pode deteriorar o cenário macroeconômico. Formalmente, porém, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) contesta a tese, dizendo que os bancos brasileiros têm critérios de concessão rigorosos para evitar problemas como nos Estados Unidos. Diariamente, R$ 248 milhões são destinados ao financiamento de veículos no Brasil, segundo dados do Banco Central de janeiro. Em 2007, o saldo total de crédito para a compra de automóvel somou R$ 81,4 bilhões, alta de 28,3% sobre 2006. Desde 2000, o avanço é de 425%. Enquanto os prazos se alongaram, as taxas caíram, passando de 32,7% ao ano em janeiro de 2007 para 28,8% em dezembro. Em janeiro de 2008, tiveram novo pico, a 31,2%, devido à crise no mercado e à alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O crescimento da economia, da renda e do emprego são alguns dos fatores que contribuíram para alta dos empréstimos para a compra do automóvel. Outra explicação é a forte concorrência, que derrubou as taxas e ampliou os prazos, de forma a fazer com que a prestação "coubesse" no bolso do consumidor. Para Rafael Durer, da RDI Consultoria, também houve deterioração dos critérios de concessão, que se tornaram mais flexíveis. "O foco dos bancos que operam essa carteira é o consumidor que está comprando o primeiro carro, que ganha de R$ 800 a R$ 1 mil por mês. E esse perfil é o primeiro a ser afetado com eventuais desacelerações da economia", diz. As preocupações com o fenômeno já são comentadas nos corredores dos bancos, que aceleraram os investimentos em cobrança, diz Durer. Porém, o temor ainda não se transformou em desaceleração das concessões, o que deve ocorrer no início do segundo semestre. "As instituições com certeza vão subir as taxas e ampliar as exigências quando os atrasos começarem a aparecer." Para os bancos, as conseqüências de um avanço da inadimplência são queda das receitas, problemas de liquidez e prejuízos. Nesse cenário, os mais afetados seriam especialmente os bancos médios que têm atuação mais agressiva no mercado de veículos. Na opinião de Olivier Girard, diretor da Trevisan Consultoria, é de se esperar que haja uma crise nos próximos dois anos no mercado de novos e usados. Segundo ele, a turbulência nos mercados externos, se afetar a economia real brasileira, só tende a agravar a situação. "O brasileiro ficou mais vulnerável às crises, porque está mais endividado", afirma. "A inadimplência tende a aumentar e, com isso, as financeiras e bancos ficarão com um grande estoque de carros usados para serem vendidos", completa. Não é o que afirma a Febraban. Segundo Nicola Tingas, economista-chefe da entidade, o comportamento da inadimplência não tem sido, "até agora", motivo de preocupação. Números do BC mostram que os atrasos superiores a 90 dias ficaram estáveis em 3,1% da carteira total de veículos nos últimos três meses. "Existe hoje um risco menor de não pagamento, as garantias melhoraram. Atualmente, o devedor sabe que pode perder o veículo se não pagar", endossa. Porém, para uma fonte de um banco médio que não quis se identificar, essa garantia não traz segurança. "Quando for tomado, esse carro já vai estar mais velho e possivelmente com dívidas, como multas e impostos a pagar." Segundo essa mesma fonte, apesar de as preocupações serem crescentes entre os bancos, não há ações sendo tomadas. "Estão apenas apontando uns aos outros, em dúvida entre ficar no mercado e seguir as regras de prazos longos e taxas baixas, ou sair." Para Silvio Neto, economista do Schahin, haverá alta da inadimplência em veículos, mas nada comparado ao que ocorreu nos EUA. "O financiamento de automóveis representa pouco da carteira dos bancos brasileiros." |