A queda na liquidez do sistema financeiro, fruto da crise global de confiança, tem forçado a uma elevação nos padrões de análise de crédito. É nesse cenário, marcado por uma maior seletividade na concessão de linhas de financiamento, que a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) lança um novo produto. É o SCPC Integrado já em teste e que será oferecido ao mercado nos próximos dias. Diferentemente do sistema hoje em operação, o novo modelo exige uma única consulta para todas as informações como cheque devolvidos, registros de inadimplência, problemas com a Receita Federal, títulos protestados entre outros.
"A idéia do produto é dar mais agilidade na consulta para a concessão de crédito ao consumidor, unificando as repostas", explica Rodrigo Thedim, gerente de produtos de pessoa física da ACSP. No sistema anterior, explica o executivo, eram necessárias consultas em separado, uma para cheque, outra para a Receita e assim por diante. "Há um ganho de tempo e também de escala, que deve, dependendo do módulo contratado, promover uma redução de custo para os clientes entre 10% e 15%." A entidade não divulga o valor por consulta, tão pouco o quanto os produtos já existentes geram de receita.
A Associação Comercial oferece ao mercado um sistema de consulta para concessão de crédito desde 1955. Hoje são 120 milhões de CPFs em seu banco de dados, cujas informações estão disponíveis a seus 30 mil associados. Segundo o gerente da unidade de negócios de pessoa física, Paulo Ronaldo Capoletti, aproximadamente 15 mil associados usam o sistema, principalmente de médio e grande portes. "O pequeno ainda usa pouco, mas temos adotado uma série de iniciativas para estimular as consultas, afinal cada vez mais a análise do risco na hora da concessão do crédito é importante para reduzir a probabilidade de inadimplência", afirma Capoletti.
O banco de dados da ACSP é utilizado por empresas dos mais variados setores, varejo, financeiras, bancos e prestadores de serviços. São 25 milhões de consultas por mês sendo que os bancos e financeiras respondem por 50% deste volume. 40% das consultas são feitas pelo varejo e o restante, 10%, por prestadores de serviços.
O fato de boa parte das compras hoje pagas com cheque ou carnê estarem migrando para o cartão, o que poderia afetar as consultas ao SCPC, não preocupa a Associação Comercial. "Isto não é um problema, até porque o varejista deixa de fazer a consulta na hora da venda, mas é preciso lembrar que o banco ao emitir o cartão ou mesmo na hora de elevar o crédito usa o sistema", explica Thedim. "O que há é apenas uma migração do momento em que será feita a consulta do histórico do cliente para a concessão do crédito." O novo sistema integrado de SCPC já está em teste com alguns associados da entidade e, a partir do dia 11, será ofertado para todos os clientes.
Cadastro positivo não é a solução
A possibilidade de que o cadastro positivo saia finalmente do papel - apontado por executivos do setor financeiro como determinante na queda dos juros - não anima os executivos da Associação Comercial. Segundo Paulo Ronaldo Capoletti, a entidade está preparada para fornecer informações completas do histórico dos consumidores. "Hoje não fazemos isto apenas porque a lei nos impede de fornecer dados sobre dívidas com prazo superior a cinco anos", diz . "Por enquanto, só podemos informar o momento do consumidor, mas se fosse permitido já poderíamos fornecer o histórico completo. Não creio que o cadastro positivo mude muito as taxas praticadas no mercado."
No spread bancário, lembra Capoletti, apenas 30% do juro está ligado ao desconhecimento do histórico. "Os outros 70% são informações já conhecidas. Na verdade o Brasil tem um processo de avaliação de crédito bem desenvolvido", diz. "Pelos padrões do Banco Mundial, cuja nota para processo de avaliação de crédito vai de 1 a 6, o Brasil recebe nota 5, ou seja, não está muito distante dos outros países", afirma. "O cadastro não será a solução para tudo." |