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Imprensa
Ruído político leva dólar a R$ 5,66

A decisão do presidente Jair Bolsonaro de elevar a taxação de bancos, veículos e da indústria química para compensar a isenção de impostos federais sobre o diesel e o GLP ampliou o desconforto dos investidores. Como resultado, o dólar teve forte alta desde o início do pregão de terça e chegou a tocar R$ 5,7323 no momento mais tenso do dia. No entanto, de olho na negociação da PEC emergencial e com a ajuda do Banco Central, que injetou mais US$ 2,095 bilhões em duas intervenções no mercado à vista, a moeda americana acabou registrando alguma acomodação e terminou com valorização de 1,12%, a R$ 5,6633.
 
Operadores citaram a leitura positiva feita da nova versão da PEC emergencial pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC), que manteve intactos os gatilhos fiscais, embora outros dispositivos, como a desvinculação dos pisos da educação e da saúde, tenham caído.

“O que proporcionou essa melhora durante a tarde foi a PEC um pouco menos desidratada. O mercado viu que tem uma luz no fim do túnel”, disse um gestor.

No início da noite, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, se mostrou atento à dinâmica cambial. Durante evento, o dirigente admitiu que passou a intervir mais sobre o dólar e que pode voltar a fazê-lo caso julgue necessário. Reforçou ainda que irá trabalhar para entregar metas no horizonte relevante da política monetária.

A agitação vista no início de março pode se revelar uma prévia do que está por vir nos próximos dias. Nas próximas semanas ocorrem eventos importantes de política econômica e monetária que devem ajudar a calibrar o cenário para o restante do ano. Os dois primeiros meses de 2021 golpearam a convicção do mercado sobre as premissas otimistas com que trabalhava. Se dezembro terminou com a perspectiva de que o pior da pandemia estava para trás, que o estrangeiro estava de volta, que a economia estava começando a andar com as próprias pernas e o governo, tirando de campo os estímulos fiscais, o que se viu até aqui foi uma realidade menos “cor-de-rosa”.

A segunda onda da covid-19 atingiu em cheio o país, o calendário de vacinação ainda é duvidoso e economistas começaram a cortar suas previsões para o PIB. O auxílio emergencial, dado como carta fora do baralho, ressurgiu dentro de um evento que deveria ser visto como positivo — a eleição de Arthur Lira (PP-AL) e de Rodrigo Pacheco (MDB-MG) para o comando da Câmara e do Senado.
 
Apesar do estrago causado pela intervenção de Bolsonaro na Petrobras, existe a esperança de que a aprovação da PEC emergencial possa ajudar os mercados a virar a página e retomar uma postura mais otimista quanto ao que o governo pode entregar em termos de reformas.

No entanto, o ambiente de indefinição pressiona o câmbio e alimenta a ansiedade com o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), em duas semanas. O comitê se reúne diante de projeções de inflação para 2021 acima da meta e riscos de mais repasse cambial para os preços caso o real não se estabilize, além de temores sobre a guinada da política econômica e um cenário internacional mais desafiador por causa da alta dos yields dos Treasuries.
 
Ontem, a curva de juros precificava 81% de chance de alta de 0,75 ponto percentual da Selic em março. Existe, entretanto, certa desconfiança sobre em que medida o Copom irá concordar com uma guinada desse tipo. A atual direção do BC é tida como “dove” (favorável a estímulos), e ainda está fresco na memória dos agentes o “ajuste de comunicação” promovido em janeiro, quando dirigentes atuaram para diminuir a convicção de que uma alta de juros era iminente.
 
Outro ponto de atenção é com a maré global, que pode virar mais cedo que o imaginado. Como nota o economista-chefe adjunto do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Sergi Lanau, a alta dos juros nos EUA teve impacto rápido sobre os fluxos para emergentes. “Nossos indicadores registraram fortes saídas de capitais de economias emergentes ex-China na semana passada. Apesar do suporte dado pelos preços das commodities e do crescimento mundial acelerado, este será um ano volátil para esses países”, escreveu Lanau em seu perfil no Twitter.
 
Por outro lado, apesar do noticiário negativo recente, não existe uma fuga de capitais do Brasil, diz o integrante de uma tesouraria de banco. “Um cenário político como esse desencadeia uma procura por proteção no câmbio. Mas ainda não vemos fluxo efetivo [deixando o país]”, diz esse interlocutor.

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