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Imprensa
Na contramão dos bancos e com apoio do BC, cooperativas de crédito abrem agências no País

Enquanto os grandes bancos fecharam mais de mil agências no último ano – e planejam enxugar ainda mais -, as cooperativas de crédito ampliaram a presença física na pandemia e fincaram os pés em novos pontos do país.
 
Maior instituição do segmento, o Sicoob abriu 197 agências em 2020, um crescimento de 6% da sua base, que alcançou 3,48 mil postos. Com isso, em número de agências, só perde agora para o Banco do Brasil, que fechou dezembro com 4,4 mil unidades.
 
O Sicredi, segunda maior cooperativa financeira do País, com 2 mil agências, aumentou sua rede em mais 150 pontos na pandemia e tem outras 250 unidades previstas para este ano, com investimentos de R$ 200 milhões.
O movimento tem o apoio do Banco Central, que colocou como meta o aumento da participação das cooperativas no crédito do Sistema Financeiro Nacional para 20% até 2022 – hoje a fatia está em 10%, o dobro do visto há cinco anos.
 
O cálculo utilizado pelo BC tira da conta nichos em que as cooperativas não atuam, como crédito a grandes companhias. Se todo o sistema for contabilizado, a participação das cooperativas seria em torno de 5%.
 
Muitas originadas no setor agrícola, as cooperativas extrapolaram o campo e hoje atendem clientes de todos os setores, tanto pessoas físicas como empresas, atrás de juros menores. Como não têm fins lucrativos – já que emprestam basicamente para seus próprios associados, que são, portanto, os donos do negócio – elas conseguem taxas mais competitivas.
 
Atualmente há mais de 5 mil cooperativas no Brasil, sendo 827 de crédito, com ativos totais de R$ 310 bilhões e uma carteira de empréstimos de mais de R$ 156 bilhões, segundo último levantamento realizado pelo Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Em crédito especificamente, há mais de 10 milhões de cooperados e 6.043 postos de atendimento.
 
No ano passado, na esteira do covid-19, as cooperativas lideraram o ranking das concessões de empréstimos a pequenos negócios, sendo responsáveis por 31% do total, segundo o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).
 
“Elas exerceram um papel fundamental ao longo da crise, que foi fazer o dinheiro chegar ao pequeno produtor, empresário, comerciante e empreendedor”, diz o coordenador do curso de economia da FGV, Joelson Sampaio. “É importante lembrar que, muitas vezes, o pequeno tem muita dificuldade de lidar com os bancos, pelas exigências que são feitas.”
 
Para ampliar ainda mais a participação do segmento no Sistema Financeiro Nacional, o BC quer mais flexibilização nas regras para associação, um movimento que já visto na última década. A ideia é permitir, por exemplo, que um cooperado de uma instituição possa tomar parte do crédito em outra, caso a sua não tenha recursos suficientes. Isso abre espaço para que companhias maiores sejam cooperadas.
 
Na avaliação do BC, as cooperativas são importantes porque, além de irrigarem pequenas empresas e ampliarem a competição bancária, são alternativa de inclusão financeira.
 
O atendimento a regiões do País em que as transações envolvendo o papel moeda e cheques ainda são significativas, incluindo periferias de grandes centros urbanos, explica em parte a abertura de agências das cooperativas. “Os pequenos têm dificuldade de acesso a serviços financeiros, mas também a meios de pagamento.
 
Isso em época do Pix (meio de pagamento instantâneo, e eletrônico, capitaneado pelo Banco Central)”, afirma o presidente do Sicoob, Marco Aurélio Almada.
 
Para se ter uma ideia, em um período de menos de três meses, de novembro a meados de janeiro, foram depositados no Sicoob mais de 8 milhões de cheques. “Para transações em cheque e dinheiro ainda se precisa do porte físico”, comenta. Para este ano, o Sicoob planeja alcançar 2.144 municípios brasileiros, aumento de 14%.
 
O executivo destaca que essas transações têm baixo retorno às instituições financeiras, mas que as cooperativas conseguem prestar o serviço por não terem fins lucrativos.
 
“O cooperativismo serve para ajudar com essa dor, provendo atendimento em geografias que não são interessantes aos grandes bancos”, afirma. Em função também disso, os juros costumam ser mais atrativos. No Sicoob, por exemplo, a taxa do crédito pessoal é de 15,75% ao ano ante média de 31,6%.
 
Única alternativa

Estudo do BC aponta que a quantidade de municípios onde a cooperativa de crédito é a única alternativa para obtenção de serviços financeiros passou de 184, em dezembro de 2018, para 202, um ano depois.
 
Segundo o regulador, o aumento reflete tanto a expansão do atendimento presencial quanto a redução do número de agências e postos de atendimento dos bancos. “Enquanto a tendência dos bancos é a busca de aumento da eficiência, reduzindo assim o custo fixo com agências, as cooperativas de crédito vão na contramão, aumentando a presença no interior do país”, reforça o analista sênior da agência de classificação de riscos Fitch, Pedro Carvalho.
 
O presidente executivo do Sicredi, João Tavares, destaca que a presença física das cooperativas de crédito é um diferencial competitivo. “Nossa atuação é pautada por estar onde as pessoas precisam de nós e, como a inclusão financeira ainda é uma questão em evolução no País, nosso ritmo de penetração em novas comunidades segue acentuado. Nossos planos de expansão em termos de agências em 2020 eram, inclusive, superiores ao que foi realizado”, frisa o executivo.
 
Longe dos bancos

Dono de uma empresa de consultoria e treinamento, Mauri Pimentel maneja toda a sua vida financeira pelo aplicativo do Sicoob. Há dez anos já não opera com nenhum banco comercial. “As taxas são muito mais competitivas”, comenta. O empresário lembra que muito antes de o Banco Central impor um limite às cobranças de juros do cheque especial, as cooperativas de crédito já ofereciam taxas acessíveis.
 
No meio da pandemia, quando viu seu faturamento desabar 80%, Pimentel recorreu ao Sicoob e teve acesso ao Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), lançado pelo governo).
 
Com R$ 50 mil em mãos, e com juros de 3,5% ao ano, Mauri irrigou seu negócio no pior momento e pôde respirar.
 
No caso dele, a ida a uma agência é raridade. “Apenas em uma emergência”, conta. Todas suas necessidades, tanto como pessoa física quanto jurídica, são resolvidas pelo aplicativo ou internet banking.
 
Clóvis Amaral, dono de uma loja de peças, acessórios e serviços para motocicletas em Goiânia, é cooperado a uma das cooperativas do Sicoob há 17 anos. Logo no começo da pandemia, quando ficou com seu negócio com as portas fechadas por 30 dias, recebeu a visita do gerente da cooperativa para oferecer uma linha emergencial para capital de giro, que foi prontamente aceita.
 
Clóvis pegou, assim, um empréstimo de R$ 80 mil, com juros de 0,7% ao mês.
 
Quando o governo lançou o Pronampe, o pequeno empresário recebeu mais uma ligação e visita de seu gerente. Recebeu a proposta de um empréstimo de R$ 200 mil. Clóvis pegou o crédito e aproveitou para pagar a dívida mais cara. “Se não fosse a cooperativa eu teria tido muitos problemas, como vi outras pessoas tendo”, ressalta o empreendedor.
 
Corporativo

Foi a carteira do Sicoob para micro e pequenas empresas, setor carente de crédito nos grandes bancos, justamente a que mais expandiu no ano passado: 60%. Essa foi a grande alavanca para a carteira de crédito total do Sicoob crescer cerca de 30%, para um saldo de R$ 89 bilhões.
 
Segundo Almada, do Sicoob, a presença física é crucial. É com ela que a cooperativa conhece melhor as empresas, para entender o seu risco, uma vez que muitas dessas empresas não têm balanços organizados. “A cooperativa olha para o retorno social”, diz.

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