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Imprensa
BC atua e interrompe escalada do dólar

Um dia após o ministro da Economia, Paulo Guedes, reafirmar que o real desvalorizado é algo positivo para a economia e as contas do governo, o dólar abriu as negociações em novo patamar recorde, ao alcançar os R$ 4,38. Logo depois, ainda na manhã de ontem, o Banco Central anunciou uma intervenção surpresa no mercado de câmbio, o que acabou por tira a força do dólar.
 
A moeda americana vinha de uma sequência de cinco sessões consecutivas de alta, testando dia a dia novos patamares. No fim do pregão de ontem, fechou em queda de 0,38%, aos R$ 4,3339. O Banco Central vendeu no leilão de ontem o equivalente a US$ 1 bilhão em contratos de swaps cambiais. Para hoje, a autoridade monetária anunciou novo leilão de um lote de 20 mil contratos de swaps, que pode movimentar mais US$ 1 bilhão. O BC não realizava um leilão de novos swaps desde 30 de agosto de 2018, quando o agravamento da crise econômica na argentina e a proximidade das eleições no Brasil levaram o dólar a rondar R$ 4,20.
 
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a atuação do BC começa a colocar uma espécie de “teto informal” ao câmbio em um momento no qual investidores pareciam carecer de parâmetros para atuar. “O foco agora é saber se essa faixa perto dos R$ 4,35 vai se confirmar. O mercado deve tentar testar de novo esse patamar e, se o BC voltar a atuar, forma-se esse topo”, diz.
 
A fala de Guedes trouxe pressão adicional a um mercado que já vinha reavaliando suas posições favoráveis ao real nas últimas semanas. A instabilidade externa provocada pelo coronavírus e recentes dados decepcionantes da economia local, que têm reforçado as expectativas de novos cortes da Selic, já vinham deixando desconfortáveis os investidores que carregavam posições vendidas em dólar no mercado futuro - ou seja, aqueles que apostam e ganham com a queda da moeda americana.
 
Segundo analistas, mais do que uma reação direta ao comportamento do câmbio no dia, a intervenção do BC foi uma resposta ao movimento do real nas duas últimas semanas, quando a moeda brasileira voltou a se descolar dos pares emergentes.
 
Ettore Marchetti, sócio e responsável pelas estratégias de câmbio e renda fixa da Trafalgar, diz que agora é necessário saber se essa atuação será apenas pontual ou parte de um programa mais longo. “Dependendo de como o mercado reagir nos próximos pregões, pode ser adequado BC anunciar um programa maior”, diz. “A primeira impressão é que o real agiu bem.”
 
Mas, mesmo após a atuação do Banco Central, o real permanece como a moeda de pior desempenho entre as 33 divisas mais negociadas do mundo em 2020, com uma desvalorização de 7,5%. O rand sul-africano, segunda pior moeda de 2020 até o momento, recua 6,1%. Neste mês, a perda acumulada pelo real em relação ao dólar é de 1,13%.
 
“A moeda brasileira tem desafiado o consenso otimista repetidamente nos últimos meses e muitos investidores locais deixaram de tentar expressar algum otimismo sobre Brasil por meio do real. Ao invés disso, clientes decidiram trabalhar com o que funciona, assumindo posições longas em bolsa ou dadas no DI, e se protegendo no dólar”, disse Ilya Gofshteyn, analista do Standard Chartered em Nova York, em relatório sobre uma viagem recente ao Brasil.
 
Dados da B3 mostram que a posição vendida dos investidores institucionais locais em dólar - que ganha com a queda da moeda americana - sofreu redução de US$ 8,75 bilhões até ontem, em relação ao pico do ano, registrado em 22 de janeiro, descendo para US$ 5,7 bilhões. No pico do ano, essa classe de investidor estava vendida em US$ 14,496 bilhões, o maior patamar desde o final de março do ano passado.
 
O quadro atual contrasta com o de muitas casas que, em dezembro, traçaram um cenário positivo para o Brasil, confiando que a agenda de reformas e a aceleração da economia iria beneficiar ativos locais. É esse comportamento recente que tem feito investidores locais desistirem de manter posições em real.
 
A redução de posições vendidas na B3 deu reforço ao salto recente do dólar e ajuda a explicar a atuação do Banco Central, que age para conter movimentos disfuncionais no câmbio. No entanto, restaram dúvidas no mercado sobre o porquê, após dias do real estar destoando do comportamento das divisas emergentes, o câmbio ser alvo de intervenção justamente num pregão - o de ontem - em que andava mais alinhado a seus pares. Lá fora, a maioria das moedas comparáveis com o real cedeu terreno contra o dólar ontem, reagindo ao salto do número de infectados e mortos registrado após uma mudança na metodologia de contagem de casos de Covid-19 na China.
 
Apesar da depreciação cambial e a consequente intervenção do BC no mercado - cenário que poderia aumentar a desconfiança dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil -, o risco país seguiu sem grandes oscilações, perto de seus menores patamares em nove anos. Na tarde de ontem, o spread do contrato de Credit Default Swap (CDS, espécie de seguro contra calote) de cinco anos do país operava em 96 pontos, segundo dados compilados pela Markit.

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