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Imprensa
Lotérica vai oferecer crédito consignado

Em busca de maior rentabilidade, a Caixa Econômica Federal vai ampliar a venda de produtos em lotéricas e correspondentes bancários - canais hoje pouco explorados pelo banco para fazer negócios. Essa rede de distribuição é ponto central na estratégia do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, para tornar o banco estatal mais eficiente e competitivo. 
 
Entre agências, lotéricas e correspondentes, a instituição tem 26 mil pontos para escoar seus produtos e colocar em pé o plano de crescer nos segmentos de pessoas físicas e pequenas empresas.
 
Não está descartado que a base de lotéricas - que implica menos custos e tem mais flexibilidade de horários que uma agência - seja até ampliada. Num momento de digitalização dos serviços bancários, a Caixa ainda aposta na rede física pelo tipo de clientela que atende e por estar presente nos rincões do país.
 
"O cliente já nos conhece, já vai no nosso correspondente [Lotérica] para buscar o benefício social. Aí vai na outra esquina para tomar um consignado. Não faz sentido", diz Guimarães. O executivo concedeu entrevista ao Valor na tarde de sexta-feira (29), em São Paulo.

A constatação é que a Caixa vende bem menos do que poderia nesses canais, que passarão a distribuir produtos tão diversos quanto microcrédito, microsseguros, cartões e financiamentos. Com esse incremento de receitas e o corte de despesas, a expectativa é que o banco passe a gerar um retorno sobre o patrimônio líquido em torno de 20% - bem acima dos 16,1% alcançados no ano passado.
 
Uma das primeiras iniciativas para incrementar as vendas será o lançamento de um cartão de crédito consignado, o que deve ocorrer em cerca de um mês. Guimarães vê potencial para chegar a pelo menos 10 milhões de clientes no produto. Em cartões de crédito convencionais, a expectativa é alcançar no mínimo outros 20 milhões. Hoje, a Caixa tem 96 milhões de usuários de débito e apenas 5 milhões de cartões de crédito. 
 
Em paralelo, o executivo aposta nos serviços de adquirência para, de um lado, aumentar a aceitação de cartões em cidades pequenas e, de outro, aproximar-se do "Joaquim da padaria". O banco não pretende montar uma credenciadora própria, mas fará parceria com alguma das já existentes - o processo de escolha começará nas próximas semanas. A ideia é que a empresa venda suas maquininhas na rede da Caixa, e que esta fique mais próxima dos estabelecimentos para oferecer crédito e serviços. "Hoje é o pior dos mundos, os adquirentes usam nossa rede, e nós não ganhamos nada."
 
Guimarães estima em R$ 1 bilhão anual a receita que o banco deixa de ganhar por não explorar serviços e produtos do setor de cartões, como adquirência, vale-refeição e um programa de fidelidade. No caso das "maquininhas", mais do que a receita propriamente das transações com cartões, o que interessa à Caixa é entrar na antecipação de recebíveis aos lojistas.
 
Isso porque um dos objetivos da nova gestão é avançar no crédito a pequenas empresas - como a "padaria do Joaquim" - e reduzir a participação das grandes companhias na carteira. Essa fatia já vem diminuindo e, no fim de 2018, representava 8% do estoque total de empréstimos e financiamentos da instituição, de R$ 695 bilhões. 
 
Dentro da estratégia para enxugar a carteira de grandes companhias, o banco vem negociando com clientes a troca de empréstimos convencionais por debêntures, que podem posteriormente ser vendidas no mercado. A Caixa também tem negociado a liquidação antecipada das dívidas. O pré-pagamento e as operações que venceram devem resultar em uma devolução de R$ 10 bilhões no primeiro trimestre.
 
Grandes clientes continuarão a ser atendidos pelo banco, mas com a estruturação de emissões no mercado de capitais, e não com o uso do balanço. Para Guimarães, as maiores empresas do país não precisam de recursos da Caixa, uma instituição que, segundo ele, tem primordialmente uma "função social".
 
Grande parte dessa função reside no crédito imobiliário, especialmente nas operações do Minha Casa Minha Vida (MCMV), voltado à população de baixa renda. Ao mesmo tempo, a intenção é voltar a crescer nos financiamentos com recursos da poupança, segmento em que a Caixa desacelerou nos últimos anos enquanto enfrentava restrições de capital. Agora, o banco está na situação oposta, com sobra de capital. O índice de Basileia de 19,6% apresentado no fim do ano passado é considerado pelo executivo maior que o necessário. Parte dessa "folga" vai ser usada à medida que a Caixa voltar a acelerar no crédito, mas, segundo Guimarães, também é um trunfo para ajudar o banco na devolução dos R$ 40 bilhões em títulos híbridos ao Tesouro. Não há prazo para isso, ponderou.
 
 pagamento desses instrumentos também será feito com os recursos que a Caixa planeja levantar com a venda de ativos e a abertura de capital de áreas como cartões e seguros. Guimarães está otimista com a perspectiva de fazer parte relevante dessas operações ainda neste ano. 
 
A Caixa espera que as vendas de ativos, a securitização de parte da carteira de crédito e as ofertas de ações somem R$ 100 bilhões. Para essas operações, uma das ideias é usar a rede da Caixa e distribuí-las para investidores pessoa física. "O banco pode ter esse papel de fomentar o mercado de capitais no varejo", diz. 
 
Em outra frente, a casa tem trabalhado para reduzir custos e melhorar a eficiência. De acordo com o executivo, já foi identificado um potencial de redução de despesas em no mínimo R$ 1,5 bilhão apenas neste ano. Esse ganho virá, por exemplo, da venda de imóveis e de um uso mais racional da estrutura física da Caixa. Edifícios avaliados em R$ 3 bilhões devem ser oferecidos ao mercado nos próximos três anos. Ao mesmo tempo, o banco pretende "empacotar" em fundos de investimentos as agências e outros prédios que possui e alugá-los, reduzindo assim os ativos imobilizados.
 
Guimarães, que assumiu o comando da instituição em janeiro, tem percorrido o país para conhecer as operações da Caixa - uma realidade bem diferente da que encontrava em sua carreira como banqueiro de investimentos. Até o fim do ano passado, ele era sócio do Brasil Plural. As viagens têm ajudado o executivo a balizar o plano de negócios da instituição. É nas regiões mais remotas do país, diz ele, que a presença da Caixa faz mais diferença. "Quando falo da padaria do Joaquim, é a padaria do Joaquim no interior e nas cidades mais distantes. Esse é o foco."

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