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BC deve criar regulação para 'startup' de crédito
Conhecidas por atuarem em modelo de negócios chamado de peertopeer lending (ou crédito pessoaapessoa), as "startups" que concedem crédito por meio de plataformas online devem ganhar regulação própria. O Banco Central vai colocar o assunto em audiência pública em agosto.
Hoje, essas empresas precisam estar associadas a uma instituição financeira para poderem atuar na concessão de crédito para pessoa física ou jurídica, atuando como correspondente bancário. Com a regulamentação nova, a ideia
é que isso não seja mais necessário. "A regulamentação vai dar mais segurança para quem toma o crédito e permitir um preço melhor", diz Jorge Vargas Neto, presidente da Biva, que atua no empréstimo para pequenas e médias empresas
A Biva junto com outras fintechs de crédito online criaram a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD) para
fazer a interlocução com o BC e buscar melhores práticas para o mercado. "O BC tem sido receptivo com a nossa operação e o impacto social positivo que a gente causa", diz Neto, da Biva.
As fintechs têm sido consideradas uma alternativa para ampliação e redução do custo de crédito pessoal e o segmento de PMEs.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem estudado caminhos para que o crédito chegue às micro e pequenas empresas por meio de "fintechs", uma vez que os bancos estão mais restritivos no segmento. Não está descartada a possibilidade de que algumas fintechs se tornem repassadoras do banco, disse o diretor de operações indiretas, comércio exterior e fundos garantidores do BNDES, Ricardo Ramos.
A Biva, que já atua como correspondente bancário tendo parceria com a Sorocred, Socinal e Barigui, já está em conversas com o BNDES e tem interesse em repassar linhas do banco. A startup faz uma análise de crédito das empresas que querem tomar os empréstimos e seleciona algumas para oferecer aos investidores. "Em geral, são pessoas físicas, que já investem em produtos financeiros e fundos", diz Vargas Neto, da Biva. O investimento é atrelado a um CDB cuja rentabilidade é baseada na performace desses créditos.
A Biva trabalha com linha de capital de giro, antecipação de recebíveis, refinanciamento e começou uma nova modalidade de crédito estudantil. A startup tem hoje uma carteira de crédito de R$ 34,8 milhões, com 1.042 empresas em portfólio. "O microempreeendedor não tem acesso a crédito e esse modelo é importante para oferecer uma alternativa de funding para esse setor", diz Vargas Neto
A Nexoos, startup de crédito online que atua como correspondente bancário, também tem interesse em atuar com o BNDES. A startup, que está em operação desde o ano passado, tem uma parceria com a Socinal e com a Porto Seguro e atua na antecipação de recebíveis e empréstimos sem garantia para PMEs, já tendo emprestado R$ 9,8 milhões para 92 clientes.
A empresa solicita o financiamento por meio da plataforma, a Nexoos analisa, busca o investidor e a instituição financeira faz o trabalho de formalizar a operação.
O diferencial das fintechs é o modelo de análise de risco de crédito que utiliza uma série de dados agregados e inteligência computacional que permite que uma avaliação mais eficiente das operações, agilizando o processo e barateando o custo. "Conseguimos fazer uma préanálise de forma mais rápida, online e automatizada", diz Daniel Gomes, presidente da Nexoos.
Na Biva, a taxa de inadimplência acima de 60 dias estava em 2,76%, enquanto na Nexoos, o índice médio de créditos em atraso acima de 90 dias estava está 2,5%. A média no sistema financeiro para esse segmento atingiu em 2016 um pouco mais de 6%.
Por ter uma operação completamente online, as fintechs também conseguem praticar taxas mais competitivas nas linhas de crédito que as oferecidas pelos bancos. Na Biva, a taxa do empréstimo começa em 1,7% ao mês, sem a exigência de garantia.
Outras vantagem dessas startups é a escala da operação. Hoje, o BNDES não tem capilaridade para atender todo o Brasil e precisa dos bancos parceiros para fazer isso.
A Biva conta com 16 mil clientes cadastrados e atende em 22 Estados do Brasil. "A gente recebe mais de 600 solicitações de crédito por dia", afirma Vargas Neto
O problema é que existem poucas fintechs de crédito online que atuam com pessoa jurídica, por conta da regulamentação do BC e pela análise mais complexa dos dados. Para Dan Cohen, sócio da F(x), plataforma que conecta empresas em busca de empréstimos e instituições financeiras, há um bom espaço para operações peertopeer no Brasil. No entanto, a informalidade e a falta de informações sobre as pequenas companhias podem ser um
problema.
Outra questão para o BNDES considerar essas empresas como repassadores das linhas de crédito é o compartilhamento do risco da operação. No modelo das fintechs, o risco das operações fica com a instituição financeira parceira ou com os investidores e, por isso, não é exigência de requerimento de capital das startups.
Por isso, a figura do agente repassador do BNDES continuará sendo necessária. "O banco não tem capilaridade para atender as empresas", disse Ramos.
O BC informou, por meio da assessoria de imprensa, que acompanha as inovações do mercado e faz constantes reavaliações da regulamentação para assegurar que elas estejam compatíveis com a evolução do segmento financeiro e com as necessidades dos clientes.
O BC informou que tem uma visão positiva do processo de inovação nos bserviços e produtos financeiro, pois aumenta a eficiência do sistema, facilita a aderência a requerimentos normativos e permite atender a uma demanda social. "Essa visão também é aplicável ao segmento das PMEs e às linhas de crédito oferecidas a esse segmento, de forma a permitir que a evolução tecnológica possa contribuir para a melhor alocação de recursos", diz em nota.