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Imprensa
Medo de calote limita a oferta de crédito mais barato

SÃO PAULO - O atual ciclo de redução dos juros conduzido pelo Banco Central (BC) desde outubro deve levar a Taxa Selic ao seu menor nível em quatro anos até dezembro. Mas, para quem precisa pegar dinheiro emprestado no banco, seja pessoa física ou empresa, o recuo ainda não alterou significativamente o custo dos financiamentos. A recessão prolongada e o desemprego aumentaram o medo dos bancos de arcar com inadimplência dos clientes, elevando o chamado spread bancário, que embute este risco. Por isso, enquanto a Selic recuou 3 pontos percentuais entre fevereiro de 2016 e abril deste ano, os juros cobrados das famílias aumentou: de 40% para 41,4% ao ano, segundo os dados mais recentes.

 

Para as empresas, houve recuo, mas inferior ao corte da Selic, que já caiu de 14,25% para 11,25% ao ano. Os juros das pessoas jurídicas, em um ano, passaram de 22,6% para 20,3%.

 

No mesmo período, os spreads (diferença entre as taxas de captação de recursos e o que é cobrado dos clientes) continuaram subindo, avançando 3,1 pontos percentuais desde o início do ano passado.

 

Para especialistas, o benefício do custo menor dos financiamentos só deve começar a ser repassado efetivamente aos tomadores e correntistas a partir de 2018.

 

— A economia está crescendo mais devagar do que o esperado, há ainda incerteza sobre as reformas econômicas, e o desemprego ainda está em taxa muito elevada. Tudo isso aumenta o risco do crédito, e o banco prefere, então, não conceder, e a forma de inibir o tomador a buscar novos empréstimos é elevar o custo final — explica Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC.

 

Na sequência do corte de 1 ponto da Selic na quarta-feira, os grandes bancos de varejo até anunciaram reduções nas taxas cobradas dos clientes em igual proporção. Mas, como os juros cobrados dos clientes são muito maiores, o efeito é quase inócuo.

 

Pelos dados de fevereiro do BC, os últimos disponíveis, a taxa média do empréstimo pessoal estava em 141,9% ao ano, o que equivale a 7,64% ao mês. Uma redução de um ponto percentual significa que o custo por mês será de 7,60%, ou seja, o efeito no valor final é muito pequeno. O tomador de um empréstimo de mil reais, por exemplo, terá sua parcela reduzida de R$ 130,23 para R$ 129,96.

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Economistas explicam que a queda da Selic é importante, mas os bancos não vão reduzir suas taxas antes de sinais mais consistentes do crescimento da economia, que só devem acontecer em 2018. Além disso, a inadimplência tende a cair de forma lenta, e a taxa de desemprego ainda vai demorar mais para ceder — o número de desempregados chegou a 13,5 milhões.

 

Renan Silva, estrategista-chefe da Bullmark, lembra que, com a expectativa de uma recessão econômica maior, os bancos começaram a elevar as suas margens para compensar as perdas com a inadimplência. Ao fim de 2015, o spread era de 18,6 pontos, e a inadimplência (atraso acima de 90 dias) estava em 3,4%. Atualmente, esses indicadores estão em, respectivamente, 23,9 pontos e 3,7%.

 

Além disso, os bancos passaram a dar preferência a linhas com garantia, como o financiamento de imóveis e de veículos, ou a recebíveis de cartão de crédito, no caso das empresas.

 

— Os bancos começaram a cobrar prêmio adicional para conceder empréstimo — diz Silva.

Em sua avaliação, vai demorar para a dinâmica do crédito ficar mais favorável ao tomador final. E as empresas deverão se beneficiar antes das famílias:

 

— Pode ter alguma melhora pontual em termos de spread no segundo semestre, mas nada relevante. Só vamos ver isso de forma mais clara a partir de meados de 2018, caso as empresas voltem a contratar, e a renda das famílias, a subir.

 

REGULAÇÃO PODERIA INCENTIVAR TAXAS MENORES

Outras medidas já tomadas pelos bancos também vão demorar a surtir efeito, como as novas regras para o rotativo do cartão de crédito, que começaram a valer no início deste mês. A partir de agora, nenhum cliente poderá ficar mais de 30 dias nessa linha. O objetivo é evitar que essa dívida saia do controle.

 

— São iniciativas ainda muito graduais. Os bancos até anunciaram novas taxas para o(financiamento do) rotativo do cartão, mas, ainda assim, elas estão altas — avalia Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.

 

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A cautela é fruto dos números ainda fracos de atividade econômica, que mantêm a sombra da inadimplência sobre os bancos, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac. Atraso de pagamento e calote representam 56% do spread, segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Gastos operacionais e lucro também estão embutidos na taxa.

 

Marcos Mollica, gestor de portfólio da Rosenberg Investimentos, afirma que é preciso ainda completar reformas microeconômicas para que o custo final ao tomador ceda. Isso inclui mudanças no cadastro positivo (inclusão obrigatória do nome dos consumidores) e na cobrança dos compulsórios (recursos dos bancos que ficam em poder do BC), além de mais garantias nas operações de crédito.

 

— São diversas propostas em estudo, que podem resultar em um spread menor. Enquanto isso não acontece, os bancos vão esperar o desemprego cair. Há uma correlação muito grande entre taxa de desemprego e inadimplência no caso das operações com pessoas físicas — ressalta Mollica.

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