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Selic deve ir a 7,25%, mas há espaço para crescimento do PIB, diz Itaú Asset

Fonte: Valor Econômico - 13/07/2021 às 10h07

Diante do risco de pressões inflacionárias adicionais nos próximos meses, em meio ao processo de reabertura da economia, o Banco Central pode ser forçado a levar a Selic para território restritivo ainda neste ano. É justamente com essa visão que a Itaú Asset trabalha com uma estimativa de que o juro básico encerrará o ano em 7,25%, embora a visão do PIB siga favorável.
 
O número “nasce da visão de uma inflação de serviços mais alta” e, assim, exigiria do Banco Central uma elevação de juros que colocasse a Selic no campo contracionista, afirma o economista-chefe da gestora, Diogo Guillen, em entrevista ao Valor. Isso significa que o aperto monetário acabaria amenizando o ímpeto de crescimento para combater o encarecimento dos produtos.
 
O economista, porém, trabalha com projeções de atividade acima da média do mercado. As estimativas da Itaú Asset contemplam um crescimento forte de 1% no terceiro trimestre e de 5,3% em 2021, com viés altista. Guillen nota, inclusive, que os níveis de mobilidade já voltaram aos registrados no pré-pandemia, mas ressalta que diversos serviços ainda estão abaixo dos patamares observados antes da crise.
 
“Existe espaço para crescer. Somando isso à indústria com estoques ainda baixos e a continuidade do auxílio emergencial no terceiro trimestre, esperamos que volte um pouco o emprego informal”, diz.Já em relação ao crescimento de 2022, a gestora projeta uma expansão de 2,5% ao colocar na balança uma política fiscal contracionista, uma política monetária também restritiva e a incerteza eleitoral forte. Contrapondo-se a isso, Guillen aponta para a discussão sobre a real situação do mercado de trabalho, já que os dados do Caged e da Pnad têm andado em sentidos opostos. “E também existe a possibilidade de despoupança”, diz o economista. Para ele, uma recuperação do mercado de trabalho e a despoupança colocam algum viés altista no número de crescimento.
Com a Selic em 7,25% no fim do ano, Guillen observa que, “naturalmente, o aperto monetário vai afetar o crescimento”, mas o impacto na atividade dependerá de alguns fatores, como o nível de ociosidade na economia. Ele nota, por exemplo, que a capacidade instalada da indústria está “muito forte”, mas volta a enfatizar a incerteza em relação ao mercado de trabalho.
 
No cenário básico defendido pela gestora, além de um nível contracionista para a Selic no fim do ano, o processo também se daria de forma ainda mais acelerada - duas elevações de 1 ponto percentual em agosto e setembro; uma de 0,75 ponto em outubro; e uma alta final de 0,25 ponto em dezembro. O cenário, contudo, é condicional ao comportamento das expectativas de inflação de médio prazo, lembra Guillen. Após a decisão do Copom de junho, a mediana das estimativas do mercado para o IPCA em 2022 pouco se mexeu.
 
O economista, porém, observa que a autoridade monetária “abriu o leque” em relação aos fatores determinantes do ritmo de ajuste da Selic na próxima reunião e passou a considerar tanto a inflação implícita quanto o comportamento da inflação de serviços, que podem jogar a favor de uma retirada ainda mais tempestiva dos estímulos monetários. “É difícil definir o timing, mas existe esse lado da inflação de serviços, que coloca mais viés de alta para a inflação. E, em relação ao Focus, às vezes ele fica meio parado e pode se mover bem rápido”, afirma.
 
Foi o que aconteceu com as expectativas de inflação deste ano. Enquanto o primeiro boletim do ano indicava que o IPCA chegaria ao fim de 2021 em 3,32%, em 1º de abril a mediana das projeções de inflação deste ano já havia saltado para 4,81%. Hoje, o Focus aponta para o IPCA em 6,07%, mas algumas casas projetam números ainda mais elevados. É o caso da Itaú Asset, cuja estimativa para a inflação no fim deste ano está em 6,8%, enquanto a projeção para o IPCA de 2022 está em 4,1%.
 
“Na nossa visão, a inflação de serviços pode começar a aparecer um pouco mais alta”, avalia Guillen. “O choque da pandemia se deu, principalmente, no setor de serviços. À medida que a reabertura acontecer, há uma série de fatores que levariam a um aumento da inflação de serviços. A retomada vai aumentar a demanda por serviços, o que pode permitir repasse de custos. Já vimos a inflação de bens mais forte e, tendo demanda, pode haver um repasse para serviços”, diz.
 
O processo de normalização da política monetária também já começa a ser colocado em prática por outros bancos centrais além do brasileiro. No cenário traçado pela Itaú Asset, o Federal Reserve (Fed) deve dar início a uma redução no volume de compras de ativos (“tapering”) no fim deste ano e uma alta de juros nos Estados Unidos pode ocorrer no início de 2023. E, embora o cenário para a economia americana não tenha se alterado significativamente e continue com crescimento forte e inflação temporariamente mais alta, o momento é de ver o quão sensível o Fed está sendo em relação a surpresas na inflação.
 
“A visão do ‘tapering’ começar no fim do ano já me parece consensual. Não seria uma surpresa. Todo mundo tem medo do ‘taper tantrum’, mas acho que o Fed tem feito tudo com passos curtos e indica para onde está indo. Diminuiu um pouco o risco de um grande movimento [nos mercados]”, afirma Guillen.
 
O economista aponta, adicionalmente, que uma visão mais “hawkish” (favorável à retirada de estímulos) tem imperado em diversos países emergentes mais recentemente. Como exemplo, ele cita o Banco do México (Banxico), que surpreendeu ao elevar os juros sem indicação prévia e outros emergentes que também elevaram as taxas, como os bancos centrais da Hungria e da República Tcheca.
 
“Nessa saída da pandemia, o que temos observado é que a inflação de bens não volta completamente e se mantém mais alta e temos, ainda, a inflação de serviços da reabertura. O segundo ponto é ver como isso irá afetar as expectativas. Os emergentes têm uma maior contaminação das expectativas e isso, consequentemente, exige uma atitude mais tempestiva dos zbancos centrais', afirma o economista.

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