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Qualidade do lucro do Itaú é questionada por analistas
O Itaú Unibanco passou bem pelo recrudescimento da pandemia no início do ano. Não se viu um impacto significativo no balanço - ao contrário, o lucro líquido aumentou 63,5% no primeiro trimestre, para R$ 6,398 bilhões. No entanto, boa parte desse crescimento veio de ganhos pontuais com tesouraria e da menor necessidade de provisões contra perdas no crédito - o que, para alguns analistas, desafia o banco a provar que esse resultado é sustentável.
Não por acaso, as ações PN do Itaú abriram o dia em alta, mas viraram e terminaram com baixa de 4,27%, cotadas a R$ 26,71. Os papéis haviam subido na esteira do balanço do Santander, na semana passada, e agora devolvem os ganhos.
O lucro acima do esperado divulgado pelo Itaú na noite de segunda tem uma natureza não recorrente, afirmam, em relatório, os analistas do Credit Suisse. Para eles, a maior parte do ganho ainda não tem sua sustentabilidade comprovada, principalmente nas margens do mercado e provisões. Essa também é a visão do Citi. Excluindo esses fatores, o resultado teria ficado 3% abaixo do projetado pelo banco americano.
No entanto, o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, afirmou em teleconferências com analistas e jornalistas que os resultados irão convergir para o “guidance” fornecido pela instituição financeira ao longo dos próximos meses. Ele lembrou que as métricas são anuais, não trimestrais. “Se você pegar o guidance anual e dividir por quatro, vai errar muito", disse.
“O quarto trimestre deve ter maior normalização, com os efeitos da vacina e a retomada mais forte da atividade”, disse Alexsandro Broedel, diretor-executivo financeiro do Itaú. “Continuamos com cenário positivo para PIB, que deve crescer 3,8%, talvez com leve viés de alta”, acrescentou Maluhy.
A margem financeira gerencial totalizou R$ 18,634 bilhões entre janeiro e março, com alta de 6% em relação ao quarto trimestre e de 4,7% frente ao mesmo período de 2020. O grande impulso veio das operações com o mercado, que cresceram 223,8%, em um ano, para R$ 2,461 bilhões no primeiro trimestre. Segundo Maluhy, a tesouraria teve ganhos acima do esperado com juros e houve bom desempenho nas mesas da Colômbia e do Chile. Porém, o executivo disse que a tendência é o indicador voltar ao patamar habitual de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,4 bilhão.
No crédito, o executivo disse prever uma recuperação da margem com clientes ainda neste ano, chegando perto do ponto médio do guidance, ou seja, algo em torno de crescimento de 4,5% no resultado consolidado. Para o executivo, o destaque do guidance é o custo do crédito, que “poderia ficar até abaixo do piso este ano”. De qualquer forma, o Itaú não está revisando suas metas por enquanto.
Com chances remotas de que uma nova rodada de provisões contra perdas no crédito seja necessária, Maluhy afirmou ser possível que o custo do crédito fique abaixo das projeções para 2021, que vão de R$ 21,3 bilhões a R$ 24,3 bilhões. No primeiro trimestre, o indicador ficou em R$ 4,111 bilhões, com queda de 31,9% em três meses e de 59,2% em um ano. Apesar disso, deve subir um pouco daqui para a frente. “Não acredito em recorrência de custo de crédito de R$ 4 bilhões.”
Para os analistas do Goldman Sachs, o custo de risco do Itaú caiu para 2,3%, de 3,4% no trimestre anterior e 6,6% no primeiro trimestre de 2020, atingindo o menor nível em mais de 15 anos. “A inadimplência ficou estável em 2,3%, já que a deterioração em pequenas e médias empresas foi compensada pela melhora em pessoas físicas.” O Bank of America também elogiou os números do Itaú. “Gostamos da história de recuperação no lucro do Itaú e achamos o valuation do banco atrativo. Além disso, os resultados do primeiro trimestre implicam em uma potencial revisão em alta das nossas estimativas, considerando que o custo de risco anualizado seria de R$ 16,4 bilhões, bem abaixo das nossas previsões, de R$ 22,6 bilhões".
Segundo Maluhy, a inadimplência ficou melhor que o esperado no primeiro trimestre. A expectativa do banco ainda é de uma deterioração dos atrasos, mas ainda abaixo do nível pré-pandemia. “Nossa expetativa é que o quarto trimestre será de normalização, com efeitos da vacina e volta da atividade.”
Em outra frente para melhorar a sustentabilidade do resultado, o Itaú tem o objetivo de “reduzir sequencialmente” os custos mais relevantes do banco nos próximos três anos. De acordo com Broedel, está em desenvolvimento um programa transversal entre as áreas, composto por 16 frentes de trabalho, planejamento detalhado e indicadores para o acompanhamento individual de cada iniciativa. Há 1,2 mil iniciativas planejadas, das quais mais de 400 estão em fase de implementação, em áreas como revisão, simplificação e otimização de processos, automação de atividades, uso de dados e analytics.
De qualquer forma, Maluhy disse que, no curto prazo, não vê o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do banco voltando ao patamar de 2019, quando o indicador atingiu 23,7%. No primeiro trimestre deste ano, o retorno ficou em 18,5%, ante 16,1% no quarto trimestre e 12,8% nos primeiros três meses do ano passado.
Ele reforçou que as condições de hoje não são tão favoráveis como em 2019, em função da forte queda da Selic, mudanças na regra de overhedge de investimentos no exterior, o limite de juros no cheque especial, aumento da CSLL e, obviamente os efeitos da pandemia.