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Preferência na renda fixa é por crédito
Fonte: Valor Econômico
Os fundos de crédito voltaram a atrair a atenção do investidor, tanto nas plataformas quanto nos bancos de varejo. A compra direta de dívida corporativa e de títulos bancários também ganhou adeptos, à medida que emissores oferecem bons prêmios para cativar o aplicador que quer dar um pé atrás no risco de bolsa.
“Parece que o brasileiro tem memória curta. Estamos voltando a ver captação em fundo que tem descasamento entre ativos e passivos, com liquidez curta e investimento em dívida longa”, afirma Carlos Constantini, principal executivo da divisão de gestão de riqueza do Itaú Unibanco. Ele lembra que em meio ao estresse da pandemia, no ano passado, muitos investidores sacaram seus recursos dessas carteiras porque não aguentaram cotas negativas.
A captação em fundos de crédito reflete a preocupação do investidor de buscar um retorno extra, sem ficar de peito aberto em alternativas aparentemente mais arriscadas, diz Ademir Aparecido Correa Junior, diretor do departamento de investimentos do Bradesco.
Conforme recorte feito pelo economista Marcelo D’Agosto, do Guia Valor de Fundos de Investimentos, considerando-se o conjunto de fundos disponíveis em plataformas e nos principais bancos de varejo, os portfólios de crédito privado atraíram neste ano R$ 4,57 bilhões até 21 de maio. As carteiras com debêntures incentivadas tiveram ingressos de outros R$ 863 milhões. Estratégias ligadas a juro real, por sua vez, receberam R$ 2,7 bilhões no ano.
Na contramão, a categoria renda fixa ativo perdeu R$ 16,6 bilhões. Como essas carteiras têm muita exposição a títulos prefixados, com a queda de preços no secundário no primeiro trimestre, muitos fundos ficaram no vermelho, diz D’ Agosto. “Quando o cotista vai buscar explicações, acaba sendo oferecida a opção de sacar e investir em outra modalidade."
Se os juros reais ficarem altos - o que ainda não se vê -, a migração que se via para classes de maior risco tende a perder ritmo, diz William Eid Jr. coordenador do Centro de Estudos em Finanças, da Fundação Getulio Vargas (FGV), até porque essa diversificação não é tão geral. “A imensa maioria dos brasileiros continua nos instrumentos tradicionais de renda fixa, poupança, CDB e outros”, afirma.
Em abril, a caderneta registrou a primeira captação líquida de 2021, mas em maio a diferença entre aplicações e saques voltou a ficar negativa, em R$ 3,6 bilhões até o dia 20. Vale lembrar que, no ano passado, houve ingresso recorde de R$ 166,3 bilhões, turbinado pelo pagamento do auxílio emergencial feito via contas de poupança para atenuar os efeitos da pandemia de covid-19. Agora, com a volta de alguma mobilidade e um subsídio menor do governo para as famílias, parte dessa reserva tem sido consumida. Já a captação em CDB, que estava negativa até abril, em R$ 7,7 bilhões, inverteu a direção nos primeiros dias de maio, com R$ 13,8 bilhões até o dia 7.
Segundo Marilia Fontes, sócia-fundadora e analista da Nord Research, há um movimento interessante nos bancos, principalmente pequenos e médios, que vêm melhorado as taxas de CDBs e de letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCI e LCA). “As instituições têm aumentando um pouco o prazo, talvez pensando nas eleições, buscando ter mais dinheiro em caixa disponível."
Títulos bancários com prazo de dois anos vêm pagando até 135% do CDI, caso de uma emissão do Agibank. O BTG Pactual tem oferta de LCA a 110%, que por ser um título isento equivaleria a 130%, cita. Em bancos digitais há contas remuneradas com liquidez diária pagando entre 150% e 180% do CDI, mas Marilia diz preferir o risco de bancos selecionados.
Embora veja demanda para ativos de crédito corporativo, a especialista alerta que os prazos costumam ser mais longos, para resgate depois de 2025. Mesmo que venha um bom resultados das urnas, o risco é ficar amarrado por tempo demais. E, se o pior acontecer, talvez a taxa pactuada não compense o risco. “Tem hora para ser agressivo e aproveitar as oportunidades e há momentos para deixar dinheiro na mesa. O investidor pode não participar do próximo rali da bolsa, mas é melhor ser conservador e colocar o dinheiro no bolso.”
Com a corrida eleitoral se aproximando, não é hora de alongar muito prazos ou seguir em estratégias arrojadas, acrescenta Marilia. “O mais recomendável é reduzir o risco de investimento. A bolsa num patamar alto convida a fazer isso.”
É de se esperar que, com a tendência de alta dos juros, quem tem o receio de ser atropelado pela inflação migre parcela dos recursos para ativos pós-fixados ou ligados ao IPCA, diz Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. “O juro muito baixo acabou fazendo o investidor abrir mão do conservadorismo e abraçar mais o risco em busca de retorno. Agora, aos poucos, isso vai se esvaindo”, afirma. “Com expectativa de Selic mais alta neste ano e em 2022, a tendência é buscar alguma proteção em papéis indexados à inflação.”
Nesse rol, entram tanto o Tesouro IPCA como o crédito privado. Beyruti diz que as companhias têm conseguido captar e rolar dívidas, oferecendo bons prêmios. Há papéis pagando IPCA mais 4,8% com vencimento em seis anos, cita. Os fundos de crédito têm sido alimentados por essa safra.
Vale acompanhar as taxas dos papéis de dívida, tanto no mercado primário quanto secundário, para obter um retorno maior na renda fixa, diz Luciane Effting, superintendente executiva do Santander. A seleção deve ser, porém, cautelosa e o investidor não deve ter mais do que 5% num mesmo papel. A preferência é por ativos isentos de imposto, como debêntures de infraestrutura e certificados de recibos imobiliários e do agronegócio (CRI e CRA).