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Para conter inflação, BC sobe taxa básica de juros para 5,25%, maior alta em 18 anos

Fonte: O Globo - 05/08/2021 às 10h08

Preocupado com as expectativas de inflação de 2022, o Banco Central (BC) subiu a taxa básica de juros de 4,25% para 5,25% nesta quarta-feira. Foi a maior alta em uma única reunião desde fevereiro de 2003, quando subiu a Selic de 25,5% para 26,5%. A decisão foi informada no início da noite desta quarta-feira.
 
O aumento de 1 ponto percentual (p.p) foi maior que o sinalizado na reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom). Em junho, o aceno foi de um aumento de 0,75 p.p., com a ressalva de que uma piora nas expectativas poderia levar a altas maiores.
Apesar disso, a subida mais intensa já era esperada pelo mercado financeiro justamente por conta das sucessivas altas nas expectativas de inflação para 2021 e 2022.
 
"Esse ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação", apontou o comunicado.
 
Juros devem subir de novo em setembro
 
Para a próxima reunião marcada para setembro, o BC sinalizou uma nova alta de 1 ponto percentual, elevando a Selic para 6,25% ao ano.
 
"Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude", informou a autoridade monetária. Nesse patamar, os juros se aproximam do nível considerado “neutro”, que não estimula nem prejudica a atividade econômica. Economistas calculam que esse valor está entre 6% e 7%.
 
O BC, por sua vez,  indicou que o cenário econômico e os riscos devem fazer com que a trajetória de alta dos juros supere a taxa neutra. Essa é uma mudança na avaliação em comparação com a última reunião, quando a autoridade monetária considerou que levar a Selic para esse patamar seria suficiente para conter a inflação.
 
Economista vê comunicado mais firme
 
Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, o comunicado foi mais firme do que o anterior contra a alta da inflação.
 
— Ele ressalta que a abertura da economia agora pode deteriorar ainda mais esse cenário de inflação de serviços, que começou a ficar mais alta, além da inflação de bens. Ele muda o comunicado e diz que pode subir os juros acima do patamar neutro, com uma política monetária mais restritiva para conter a inflação — destacou.
 
Juros mais altos desestimulam consumo

Na época da última reunião do Copom, a projeção de inflação para 2021 era de 5,82% e, para 2022, de 3,34%, abaixo da meta de 3,5% estipulada para o próximo ano.
 
Já no relatório Focus mais recente, que reúne as projeções do mercado, as estimativas estavam em 6,79% para este ano e 3,81% para o próximo.
 
O principal objetivo do Banco Central é atingir a meta e o instrumento para isso é a taxa Selic. Ao aumentar os juros, o crédito tende a diminuir, assim como o consumo, o que diminui a inflação.
 
No entanto, esse efeito demora de seis a nove meses para chegar na economia real. Por outro lado, a recuperação da economia ganha mais um obstáculo com juros mais altos.
 
Reabertura de negócios pressiona preços
 
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, ressaltou que o BC se mostrou preocupado com a persistência do cenário inflacionário e como a reabertura da economia vai impactar na inflação futura, com uma possível alta nos índices no setor de serviços.
 
— Tem componentes recentes também, por exemplo,  de como a questão climática vai bater nos preços dos alimentos. Além da preocupação com a inflação corrente, ele enxerga alguns aspectos de que a gente possa ter um cenário mais inflacionário nos próximos meses e em soma ele cita a questão da política fiscal, da importância da aprovação das reformas — disse a economista.
 
A trajetória de alta nos juros acontece ao mesmo tempo em que os índices de inflação subiram mês após mês. Em junho, a alta acumulada de 12 meses ficou em 8,35%, bem acima da meta de 3,75% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
 
Mesmo com o intervalo de tolerância de 1,5 p.p para cima ou para baixo, a inflação deve acabar o ano acima do teto da meta, em 6,79%, de acordo com o relatório Focus.
 
No comunicado, o Copom disse que a inflação ao consumidor "continua se relevando persistente" e destacou a inflação de serviços e a continuidade de pressão por bens industriais.
 
"Aém disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas", diz o texto.
 
Riscos fiscais
 
Entre os riscos para uma alta de inflação, o BC citou possíveis novos prolongamentos de políticas fiscais de resposta à pandemia. Esses programas poderiam pressionar a demanda, como o auxílio emergencial fez no ano passado e "piorar a trajetória fiscal" do país, segundo o comunicado.
 
De acordo com o BC, apesar da melhora nos índices da dívida pública, o risco fiscal "segue elevado". Para conter esse risco, o comunicado reitera a importância do processo de reformas e de ajustes na economia.
 
No cenário externo, o comunicado lembra da variante Delta da Covid-19, que pode prejudicar o processo de recuperação da economia no mundo e ainda adiciona um risco de alta na inflação nas economias "centrais". Internamente, o BC avalia que a recuperação é positiva.
 
"Os indicadores recentes continuam mostrando evolução positiva e não ensejam mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre", aponta o comunicado.

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