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Endividamento das famílias bate novo recorde na pandemia, diz BC
A crise econômica trazida pela pandemia de covid-19 fez o endividamento das famílias bater novo recorde no Brasil. Dados divulgados nesta segunda-feira, 28, pelo Banco Central mostram que, em março, o endividamento das famílias com o sistema financeiro chegou aos 58%. Esse é o maior porcentual da série histórica, iniciada em janeiro de 2005.
O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas bancárias dividido pela renda das famílias no período de 12 meses. Como incorpora dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE, o porcentual possui certa defasagem. Por isso o resultado divulgado agora é de março.
Se forem descontadas as dívidas imobiliárias - que geralmente abarcam um montante considerável da renda das famílias - ainda assim o endividamento ficou em níveis elevados, de 35,7% em março. O porcentual também é recorde para a série histórica.
Em função da pandemia, muitas famílias brasileiras têm tido dificuldades para fechar as contas. Uma consequência disso é a procura maior por crédito, com consequente aumento do endividamento. Para se ter uma ideia, em março do ano passado - no início da pandemia - o endividamento total das famílias estava em 49,4%, um porcentual 8,6 pontos porcentuais menor que o visto em março deste ano.
Os números mostram um aumento gradativo do endividamento durante o ano de 2020 e também no primeiro trimestre de 2021, em meio à demanda das famílias por crédito.
Os dados do BC mostram ainda que o comprometimento da renda mensal com essas dívidas ficou em 30,5% em março, acima dos 30,0% de março do ano passado. Se o financiamento imobiliário for excluído da conta, o comprometimento da renda ficou em 27,9% em março, ante 27,7% em março do ano passado.
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, pontuou que o comprometimento da renda das famílias com dívidas bancárias pouco tem variado durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, isso está ligado às condições dos novos financiamentos.
O cálculo do BC sobre endividamento leva em conta o total das dívidas bancárias dividido pela renda das famílias no período de 12 meses. O comprometimento da renda corresponde ao quanto de sua renda as famílias gastam para pagar o serviço da dívida (juros mais principal).
Na prática, as famílias estão mais endividadas, mas o comprometimento de sua renda mensal está praticamente estável. “Além da renegociação de dívidas e da mudança para linhas de crédito melhores, há um fator relevante para justificar esta relativa estabilidade no comprometimento: a taxa de juros, que de março de 2020 para março de 2021 se reduziu”, disse.
Concessões
Os dados mais gerais do BC, atualizados até maio, mostram que, no mês passado, as concessões pelos bancos no crédito livre subiram 2,2% ante abril, para R$ 347,5 bilhões. Nos 12 meses até maio, a alta foi de 2,0%. O crédito livre reúne operações em geral, com exceção das que utilizam recursos da poupança e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os dados não levam em conta ajustes sazonais. Eles são influenciados pelos efeitos da segunda onda da pandemia de covid-19, que voltou a colocar em isolamento social parte da população e reduziu a atividade das empresas.
Em maio, no crédito para pessoas físicas, as concessões subiram 4,3%, para R$ 178,6 bilhões. Em 12 meses até maio, há alta de 4,8%. Já no caso de pessoas jurídicas, as concessões subiram 0,2% em maio ante abril, para R$ 168,9 bilhões. Em 12 meses até maio, o recuo é de 0,9%.
Cartão de crédito
Em meio às dificuldades das famílias para fechar as contas, o juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito caiu 6,5 pontos porcentuais de abril para maio, informou o BC. A taxa passou de 336,1% para 329,6% ao ano. O rotativo do cartão, juntamente com o cheque especial, é uma modalidade de crédito emergencial, muito acessada em momentos de dificuldades.
No caso do parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, o juro passou de 165,7% para 164,4% ao ano. Considerando o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 65,5% para 62,0% ao ano.
Em abril de 2017, começou a valer a regra que obriga os bancos a transferir, após um mês, a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, a juros mais baixos. A intenção do governo com a nova regra era permitir que a taxa de juros para o rotativo do cartão de crédito recuasse, já que o risco de inadimplência, em tese, cai com a migração para o parcelado.
Atualmente, porém, o risco de inadimplência aumentou, justamente porque muitas famílias estão enfrentando redução de renda, na esteira da pandemia.